Médico nipo-curitibano é exemplo de vida

Foto: Hospital Sugisawa

O médico Saburo Sugisawa, que faleceu aos 85 anos no último dia 21 de outubro, deixou grandes contribuições à medicina do Paraná. E poucos sabem. De atendimentos gratuitos ao diagnóstico precoce do câncer digestivo, ele recebeu dezenas de homenagens pela forma humilde, honesta e ética com que lidava com os pacientes.

Saburo nasceu na província de Miyagi Ken, no Japão, e veio ao Brasil ainda criança com a família, que fugia da guerra. Logo que chegou, ajudou o pai na lavoura. Depois que se mudaram pra Curitiba, Saburo trabalhou como servente e vendedor de loja. Em sua família simples, de poucas posses, não havia nenhum médico. Mas a sua vontade de vencer na vida era enorme. Mesmo depois de casado, foi fazer Medicina na Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Foram anos difíceis, estudando um curso tão exigente e difícil e trabalhando para sustentar a casa. Ele formou-se em 1962 e, por causa do exemplo e inspiração que levou para as pessoas próximas, hoje são 22 médicos na família.

Nipônicos

Conforme a médica Mari Sugisawa Kay, filha do Dr. Saburo, Curitiba só tinha médicos brasileiros. Saburo foi o primeiro japonês a atuar como médico na capital. Como falava japonês, atendia muitos conterrâneos, que sentiam-se confiantes em serem atendidos em sua língua pátria.

Na época, ele também não atendia convênios, só consultas particulares. Mas dotado de uma humildade muito grande, atendeu inúmeros pacientes gratuitamente, que precisavam de ajuda, mas não tinham condições de pagar. Também ajudou muitos colegas, que o chamavam para auxiliar em algo. Saburo sempre ia ceder seu conhecimento, seu tempo e suas habilidades, sem cobrar nada por isto.

“Ele ensinou isto aos filhos. Ser sempre humilde, tratar o paciente como se fosse o seu pai ou sua mãe e nunca menosprezar um paciente que não pode pagar pela consulta. Ele sempre foi muito humano, tratou todos com respeito e dignidade. E principalmente, nos ensinou a ter ética, nunca falar de outros médicos e hospitais”, explicou Mari, que seguiu os passos do pai. Aliás, os três filhos de Saburo tornaram-se médicos.

Inovação

Hospital Sugisawa começou como uma clínica e se desenvolveu graças ao crescimento profissional de Saburo. Foto: Divulgação/Hospital Sugisawa

Por causa da dedicação do médico, no ano de 1969 ele ganhou do governo japonês uma bolsa de estudos, para se especializar em câncer gástrico e endoscopia digestiva alta. Na época, o Japão era o melhor país do mundo neste tipo de diagnóstico. Além do estudo, Saburo ganhou também o equipamento necessário para o exame. Seis meses depois retornou a Curitiba, instalou o equipamento na Santa Casa de Curitiba e atendeu centenas de pacientes. Quem podia pagar particular, dava sua contribuição. Quem não podia, ele fazia o exame assim mesmo, sem cobrar nada.

Até então, o diagnóstico de câncer gástrico, em Curitiba, era feito apenas por meio de radiografia, o que trazia muitos diagnósticos tardios. Isso deixava a sobrevida do paciente, após 5 anos da descoberta do câncer, em apenas 30%. O equipamento e o exame inovador que o médico trouxe à capital aumentaram esta sobrevida para 99,9% dos pacientes, já que o equipamento e o conhecimento do médico permitiu que os diagnósticos fossem feitos precocemente, com maiores chances de cura.

Com o crescimento do seu trabalho, Saburo abriu uma clínica, que fica na Avenida Iguaçu, no bairro Rebouças, em Curitiba. Os anos passaram, o sucesso só aumentou e a clínica também cresceu. Em 2008 ganhou um enorme hospital anexo à clínica, que atende diversas especialidades.

Vida acadêmica

Mas não foi só a comunidade que o conhecimento do médico serviu. Ele também foi professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) por 50 anos. Deu aulas de clínica cirúrgica e só parou quando a saúde não deixou mais. Por muitos anos também foi chefe do setor de cirurgias gerais da Santa Casa.

Tanto trabalho e dedicação à população renderam dezenas de homenagens do governo, da comunidade médica, acadêmica e de outros setores da sociedade. Em 2015, o médico foi chamado para ir ao Japão receber um reconhecimento diretamente do imperador Akihito.

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