O passo a passo é simples: basta definir uma meta, abrir a vaquinha e acompanhar os resultados da campanha pela internet. Vale para quase tudo. Desde “supérfluos” como viagens e comprinhas, até itens de primeira necessidade como estudos, medicamentos e tratamentos médicos específicos. O que não vale, porém, é mentir sobre a real necessidade da ajuda. “Salvadoras da pátria”, as campanhas de arrecadação online são, para muita gente, a única alternativa no momento de angariar fundos para conseguir aquilo que se precisa e, por algum motivo, não se pode pagar.

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Quando se fala nas causas ligadas à saúde, o assunto fica ainda mais sério, já que – impossibilitadas de arcar com os custos de certos tratamentos – muitos pacientes acabam recorrendo às vaquinhas online como única forma de arrecadação, haja vista que uma série de patologias consideradas raras não contam com cobertura do Sistema Único de Saúde (SUS).

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Diferença entre a vida e a morte. É dessa forma que vários pacientes de doenças cujos tratamentos não são cobertos pelo SUS encaram o recurso de arrecadação de dinheiro online que, nos últimos anos, popularizou-se no Brasil. Os números não mentem. Segundo o site vakinha.com.br – um dos principais do segmento – desde a fundação da página, em 2009, mais de 500 mil campanhas foram abertas por usuários em todo o país. Com uma média de 20 mil novas vaquinhas abertas a cada mês, a plataforma se transformou num verdadeiro “cofrinho virtual”, no qual o usuário recebe as contribuições de que precisa de forma segura, moedinha a moedinha, até conseguir o valor estipulado. Simples. Exatamente como os antigos porquinhos de porcelana que muita gente tinha em casa quando criança.

Nem tão simples, porém, são as necessidades de grande parte dos usuários do site já que cerca de 80% das campanhas destinadas à arrecadação de dinheiro são vinculadas às causas de saúde. Com uma média de arrecadação que gira em torno de R$1.500 por campanha, houve casos em que até R$ 3 milhões chegaram a ser doados por meio do site, como a campanha “AME Joaquim”, que – no ano passado – ganhou os noticiários por conta do grande engajamento de doadores à causa do pequeno Joaquim Ambrosio Okano Marques, de apenas sete meses. Portador de atrofia muscular espinhal (AME), o pequeno ribeirão-pretano chegou a comover celebridades como Ivete Sangalo, Otaviano Costa e Rodrigo Santoro que também contribuíram para o financiamento do tratamento com a medicação Spinraza, que não é fornecida pelo SUS. Cada dose custa aproximadamente R$ 370 mil.

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Maus exemplos

O problema é que a vontade de ajudar, às vezes esbarra na ganância ou má intenção de algumas pessoas. Assim foi com o menino catarinense Jônatas Openkoski, de 2 anos, cujo caso gerou polêmica em todo o Brasil. A campanha que teve início em meados de junho de 2017, em três meses viralizou, arrecadando mais que o necessário ao tratamento da criança. O problema foi que, em setembro, os pais de Jônatas Renato e Aline Openkoski deixaram de declarar quanto estavam recebendo, e pior, levantaram suspeitas de estarem gastando os valores doados com supérfluos, como um carro de R$140 mil, telefones celulares, e viagens para o Nordeste. Com base em uma denúncia feita pela própria tia de Jônatas, em janeiro do ano passado, o Ministério Público de Santa Catarina bloqueou as contas do casal, que batia a marca dos R$2 milhões.

O caso revoltou doadores que, nas próprias redes sociais, deixaram clara a indignação diante do acontecido. E não foi só quem investiu tempo e dinheiro em Jônatas que se sentiu lesionado. Outras famílias de pacientes, que também dependiam de doações para custear os tratamentos foram prejudicadas, haja vista que muitos doadores deixaram de contribuir por receio de sofrerem o mesmo tipo de dano. “As doações pararam de acontecer. As pessoas ficaram desconfiadas das campanhas e isso recaiu sobre quem mais precisa. Os pais do Jônatas plantaram, mas toda a comunidade AME está colhendo”, afirmou Jaqueline Baptistella, mãe da pequena Sofia, à Tribuna, logo após a repercussão do caso.

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Incontestável, o papel das redes sociais na busca por ajuda é fundamental enquanto principal canal de muitas famílias na divulgação de campanhas para doação e, em algumas situações, a comoção é tão grande que o valor solicitado é alcançado em pouquíssimo tempo.

Ajudar ainda vale a pena?

 

Foto: Divulgação

Se por um lado o brasileiro é naturalmente desconfiado, por outro, uma característica inegável ainda prevalece: a solidariedade. Mesmo frente aos maus exemplos, o espírito colaborativo em campanhas online segue forte, ajudando a salvar pacientes de diversas outras patologias e até mesmo de situações extremas, como o recente desastre ambiental no município mineiro de Brumadinho. Em todos os casos, vale pensar: será justo que a maioria pague o preço pela má conduta de poucos? Haja vista que em muitos casos, as doações têm papel divisor entre a vida e a morte de pessoas, vale pensar até que ponto se deve deixar de estender a mão a quem não tem recursos pra pagar pela vida.

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Em Curitiba, casos semelhantes envolvendo não apenas pacientes de AME, mas também de outras doenças também ganharam grande repercussão devido ao sucesso de campanhas de arrecadação online. Como na campanha “Juntos pelo Arthur”, que obteve uma das maiores arrecadações do Paraná e possibilitou à família do pequeno portador de AME iniciar o tratamento da doença na Itália com o R$ 1 milhão doado. Juntos conseguimos o que parecia impossível. Dar essa imensa chance ao Arthur! Conseguimos com muita luta, não foi fácil, mas valeu cada segundo. Arthur tem um ano de tratamento garantido, a campanha vai continuar sim, mas gostaria de pedir a vocês que doem esse amor a quantas crianças puderem, muitas crianças precisam e todas merecem essa oportunidade, faz bem a quem recebe e faz bem a quem doa”, escreveu na época, a mãe do  menino, Rafaela França Tetto Lader.

Outro exemplo de que ajudar vale a pena é a história do pequeno Felipe Oliveira Fernandes, de apenas 7 anos, contada pela Tribuna do Paraná já há alguns anos. Portador de uma paralisia cerebral severa, o menino é criado pelo pai desde o nascimento, já que – durante o parto, em 2011 – sua mãe acabou falecendo. Sem condições de arcar com os equipamentos necessários para a manutenção da saúde da criança, o pai, José Eduardo Fernandes da Silva, 39, recorreu às redes sociais e ao “cofrinho virtual” para pedir ajuda. “A primeira vakinha, em 2106, foi um sucesso. Eu precisava de R$ 5 mil para comprar sondas, cadeira de rodas e financiar as consultas do Felipe com fonoaudiólogo e fisioterapeuta. No fim a solidariedade foi tamanha que arrecadamos R$ 18 mil”, conta.

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Nos anos seguintes, duas novas campanhas online também foram lançadas pelo pai e, mesmo alcançando números menores em doações, ajudaram a financiar algumas necessidades do menino, como o pagamento de babás. Grato, José Eduardo atribui à sensibilidade dos doadores grande parte da qualidade de vida de seu filho. “Com a ajuda dessas pessoas, que se inclinaram a nos auxiliar, uma série de problemas que o Felipe poderia ter foram evitados como, por exemplo, risco de luxações durante a locomoção e uma série de problemas ósseos. Com a cadeira que compramos por intermédio das doações ele deixou de ficar deitado o dia todo, podendo se locomover mais facilmente”, revelou.

Movido pela solidariedade que o acolheu nas últimas campanhas, José Eduardo pretende lançar em breve nova campanha online. Desta vez para arrecadação de dinheiro para compra de uma nova cadeira de rodas, pagamento das babás que acompanham Felipe e também de uma nova tala para suporte do pé da criança. A meta é arrecadar R$ 6.500 ainda no primeiro trimestre.

O que dizem as autoridades de saúde?

A Tribuna do Paraná procurou o Ministério da Saúde para saber a opinião das autoridades a respeito do assunto. Afinal, boa parte dos que procuram a arrecadação online também dependem do Sistema Único de Saúde (SUS). O órgão, porém, não se manifestou até o fechamento dessa matéria. Já a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) afirmou, por meio da assessoria de comunicação, que não pode emitir opinião a respeito, haja vista se tratar de iniciativa individual, independente do órgão.

Quer ajudar o Felipe?

José Eduardo Fernandes, pai de Felipe que tem paralisia. Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná

Você pode entrar em contato com o pai dele (41 99519-2458) ou depositar qualquer quantia direto na conta do pequeno .

Banco Itaú, Agência 8616. Conta-Corrente 23115-8 – Felipe Oliveira Fernandes CPF 099.920.949.31

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