Não é fácil esquecer o pavoroso acidente com um caminhão tanque na BR-277, em julho de 2016, que deixou seis pessoas mortas e mais outras 12 feridas. Mas ele serviu para o inventor curitibano Luiz Henrique Alves, 49 anos, acelerar o sistema que ele já vinha trabalhando quando o acidente aconteceu: um dispositivo capaz de neutralizar e evitar incêndios e explosões de caminhões tanques e, principalmente, salvar vidas. O sistema foi batizado de Protank.
O inventor (advogado por formação, mas administrador de empresas no dia a dia, empreendedor e dono de outros inventos) teve o “click” de inventar um sistema circulando no trânsito, nas cidades e nas estradas, observando caminhões tanque. Pessoa de mente inquieta, ficava imaginando situações hipotéticas de como seria fugir dali se o caminhão, parado ao seu lado no semáforo começasse a pegar fogo. “Todo caminhão tanque tem um extintor na parte traseira. Então eu ficava imaginando como que o caminhoneiro teria coragem de descer do caminhão, ir lá trás na carga, retirar o extintor e ainda tentar apagar o fogo chegando perto dele. E se explodisse? E se o motorista estiver inconsciente ou sem condições psicológicas? E se tivesse preso nas ferragens? E se tivesse com o braço ou perna machucados? Não teria força de puxar o extintor. Haveria alguém no trânsito perto dele com o devido treinamento para uma situação destas?”, analisa Luiz Henrique.
Foto: Divulgação
Com base nos “e se” que ele foi aprimorando o sistema. Parava na estrada para ficar observando caminhões tanque, tirava fotos, conversava com os motoristas. Depois ia em lojas de brinquedos e comprava caminhões para desmontar e colar de volta com cordas e canudinhos, até encontrar um processo que permeasse toda a carga.
Depois de contratar um desenhista, para “traduzir” o seu caminhão de brinquedo a um papel, fez uma nova rodada de conversas com caminhoneiros, para ver as últimas melhorias, até chegar ao projeto final. Percebeu que, por melhor que fosse o treinamento recebido pelos motoristas, ninguém estava preparado para um “vamos ver” e que o atual sistema de combate a incêndio ainda é muito frágil. “Muitos me relataram o pânico que têm. Diziam ‘e se o caminhão bate’, ‘e se pega fogo’, com gente gritando, mato pegando fogo ao lado. Difícil manter a calma. Difícil andar com uma bomba relógio nas costas todos os dias”, analisa o inventor, que acabou ampliando o sistema não só para transporte de combustíveis, mas a qualquer outro tipo de produto inflamável, visto que o Protank pode ser instalado em qualquer tipo de caminhão tanque, desde que seja usado o reagente adequado àquele tipo de produto inflamável.
Como funciona?
O sistema tem três tipos de sensores que acionam o dispositivo: de impacto (para colisões com outros automóveis, imóveis ou objetos), de inclinação e tombamento, e de calor (para quando o incêndio é iniciado). Quando algum destes sensores é ativado, o sistema aciona os difusores e válvulas, espalhando o reagente químico por todo o tanque do caminhão, apagando e evitando princípios de incêndios e consequentes explosões.
Além destes três sensores, o motorista pode acionar o sistema através de um controle remoto. “Vamos supor que ele não bateu o caminhão, não tombou e não está pegando fogo. Mas está descarregando combustível num posto e acontece algo. Ou parou do lado de um mato ou plantação pegando fogo, ou atrás de uma fileira de carros pegando fogo. Se ele vê que vai chegar nele, tem tempo de descer do caminhão e acionar o sistema de longe, pelo controle remoto”, explica Luiz.
Conforme o empresário, o controle remoto ainda tem um segundo botão, que pode acionar o sistema só para resfriar as rodas. “Se ele está numa descida de serra, há superaquecimento nos freios e a lona começa a pegar fogo, ele pode acionar só aquela parte do sistema, direcionado às rodas, e ter tempo de parar com segurança”, diz o inventor, que ainda não fechou exatamente o preço do sistema, mas calcula que ele deve custar entre 5 a 10% do valor do caminhão. O Protank deve estar disponível ao mercado no início do ano que vem.