Terapia de vida

Com sonho de ser bióloga e um filho pequeno para cuidar, há dois anos uma fatalidade interrompeu os projetos da jovem Barbara Gabriela Costa, hoje com 18 anos.  Atropelada na BR-376 em junho de 2015, na Cidade Industrial de Curitiba, mesmo bairro onde mora, com o acidente ela sofreu lesões nas vértebras C4, C5 e C6 da coluna cervical e acabou ficando com tetraparesia, que é a perda parcial das funções motoras dos braços e pernas.

Quase sem poder se mexer, desde então, para poder ter mais qualidade de vida, Bárbara começou com sessões semanais de fisioterapia, que ajudam a fortalecer sua musculatura e estimulam seus movimentos. Mas foi há dois meses, que a reabilitação adquiriu um significado especial para ela. Tudo mudou quando Bárbara foi convidada e aprovada para participar da cinoterapia – um projeto piloto de terapia com os cães do Grupo de Operações com Cães (GOC) da Guarda Municipal de Curitiba.

Foto: Felipe Rosa.
Foto: Felipe Rosa.

Com a cinoterapia, que é uma atividade de terapia assistida por animais (TAA), os exercícios antes feitos apenas com a ajuda de fisioterapeutas passaram a ter a participação da labradora Hannah, que é especialista em farejar drogas e de Taz, um pastor belga malinois que atua localizando armas, explosivos e drogas ao lado dos guardas municipais.

Feliz com os avanços na fisioterapia, Bárbara fala sobre a experiência com os cães. “Senti uma melhora extremante alta. Agora tenho mais equilíbrio de tronco, equilíbrio para ficar sentada, mais força nos braços e nas pernas e mais autoestima. É melhor do que a outra terapia, tem mais interatividade e os cães são bem carinhosos.  Os cachorros chegam e trazem felicidade. Quando eles vêm pela manhã o resto do dia fica maravilhoso”, conta.

Foto: Felipe Rosa.
Foto: Felipe Rosa.

Para a artesã Ana Paula Costa, 40 que sozinha mantém a casa onde mora com as filhas Bárbara, Giovana de 11 e o neto Miguel de três anos, as melhoras da condição da jovem são visíveis. “Ela teve uma melhora muito boa, está tendo mais movimento e controle, com facilidade até para se movimentar na cama. E isso me ajuda, faço menos força e ela está muito mais feliz. Vejo na Bárbara uma porta uma oportunidade para outras pessoas com este tratamento”, revela.

Benefícios

Acompanhando Bárbara há sete semanas, a fisioterapeuta Fernanda Silva, 37, reforça o conceito de que promover a interação e os exercícios com os cães só traz benéficos para os pacientes. “Ajuda bastante no tratamento, às vezes o paciente esta desmotivado com a terapêutica tradicional e quando há a interação com o cão, a gente vê os olhos deles brilharem. A magia acontece por si. A paciente faz o exercício de força e nem esta percebendo. Na Bárbara a gente percebe isso, a interação com a Hannah e o Taz gera magia, força muscular, além dos ganhos cognitivos e emocionais, que são imensuráveis”.

Iniciativa

O projeto de Cinoterapia da Guarda Municipal de Curitiba surgiu pela iniciativa dos próprios guardas, que perceberam que pessoas com dificuldades motoras se também interessavam pelos cães e que mesmo com suas limitações, gostariam de manter contato com os eles, como conta o supervisor da Guarda Municipal GM Antônio Carlos Flausino, responsável pelo GOC.

“No projeto Cão Amigo, que faz prevenção ao uso de drogas nas escolas, percebemos que no final das palestras algumas crianças e adolescentes que usavam cadeiras de rodas ou muletas que ficavam excluídos e não conseguiam se aproximar e interagir com os cães. Por isso pensamos em tentar fazer alguma coisa para estas pessoas. Assim surgiu a ideia da cinoterapia. Aí fizemos uma solicitação ao prefeito e convidamos o pessoal da saúde, para fazer com que o cão fosse um facilitador, um motivador para estas pessoas”.

Hoje além de Hannah e Taz, mais um cão esta sendo treinado para participar deste projeto piloto. No futuro, a ideia é estender a outros pacientes. “Nosso objetivo maior de construir um centro de cinoterapia junto ao Canil da Guarda Municipal, para oferecer uma estrutura completa para os pacientes durante a terapia com nossos cachorros”, complementa GM Flausino.

Pesquisa

O projeto também faz parte de um trabalho de conclusão científico da fisioterapeuta da prefeitura Elisabete Cristina Faustino, 23. “O projeto de piloto cinoterapia está sendo meu projeto de conclusão residência. Futuramente a gente pretende publicar um artigo sobre esta terapia ainda não muito conhecida e com pouca referência literária. Queremos trazer para o mundo acadêmico este conhecimento novo e os resultados obtidos”.

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