Observando as crianças que integram o Centro de Tradições Gaúchas (CTG) Coração Nativo se percebe toda a riqueza de ensinamentos e valores repassados pelas gerações anteriores e que, no grupo, são cultivadas por 150 integrantes apaixonados por uma forma de vida baseada na força das relações entre as pessoas e a natureza. Os mais novos refletem isso, aliando a tecnologia que marca a geração com uma familiaridade incomum aos jovens da cidade de lidar com animais do campo e participar de atividades como laçadas de animais e cavalgadas.

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A filha caçula do casal José Roberto Schulchaski Filho, 31 anos, e Elaine Cristina Cardoso, 37 anos, com apenas cinco anos de idade já monta sozinha em um cavalo. “A Beatriz nem gosta que alguém acompanhe, pois domina o cavalo e logo vai aprender a laçar como os irmãos mais velhos”, assegura Elaine, que tem mais três filhos. Ela e o marido reconhecem a diferença dos quatro na comparação com as crianças e adolescentes criados fora de grupos de tradições gaúchas. “Eu aprendi com o meu pai e desde que me conheço por gente monto a cavalo e laço. Ver que esses ensinamentos estão se perpetuando neles dá muita satisfação”, explica José Roberto, que no CTG é mais conhecido por “Betinho”. A Chácara Cabaña Três Lagoas, onde ele e a família vivem, ao lado do Parque dos Tropeiros, é um dos principais endereços de encontros do grupo.

Falta de incentivo

Foto: Divulgação / Facebook.

O CTG Coração Nativo foi o primeiro a surgir após a abertura do Parque dos Tropeiros. “Faz 14 anos que o grupo realiza suas atividades, mesmo com tantas adversidades, como a proibição de rodeios no parque e a depredação do local, que está abandonado”, aponta o fundador do grupo, o comerciante Irapuã Carvalho de Vasconcelos, 54 anos.

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Essa proibição foi consequência da lei municipal 12.467, de 25 de outubro de 2007, que baniu a realização de qualquer evento com uso de animais. ‘Desde então, uma das principais atividades que justificava a própria razão de ser do Parque dos Tropeiros deixou de ser praticada. E não demorou muito para o local deixar de receber manutenção e, agora, ao invés dos tropeiros, ser invadido por usuários de drogas”, resume Irapuã.

A situação do local foi manchete da Tribuna Regional CIC de março. A Secretaria Municipal de Meio Ambiente informou que uma parte das melhorias necessárias ao pleno funcionamento do parque está sendo executada.

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Mandirituba apoia

Foto: Divulgação / Facebook.

O Coração Nativo se ressente de que, apesar da forte presença de CTGs na capital (mais de 20 grupos), eles não tenham endereço para promover rodeios e competições com os demais grupos do país. “Recebemos mais apoio e incentivo da Prefeitura de Mandirituba, que oferece uma excelente estrutura para as competições, do que aqui na nossa cidade. No início de 2014 estivemos no gabinete do prefeito, que ficou de achar uma solução, mas até hoje ele não deu retorno”, lamenta Irapuã.

O comerciante Jorge Luiz Ribeiro dos Santos, 55 anos, o famoso “Jorge Canhoto”, campeão paranaense de laço no Encontro de Seleções de 2014, ressalta que o regulamento dos rodeios tropeiros garante o bem-estar dos animais. “O atleta que surrar o animal fica suspenso. E nós gostamos dos nossos bois e cavalos. Todo mundo aqui gasta acima de R$ 400 por mês com cada animal”, afirma.

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