Terra de ninguém!

Escrito por Maria Luiza Piccoli

Terreno de antiga fábrica na Linha Verde é sinônimo de dor de cabeça e perigo pros vizinhos

Bolacha de leite, água e sal, maisena, rosquinha e waffer. Spaghetti, fuzilli, talharim e parafuso. Por muitos anos, o primeiro nome a vir na cabeça do consumidor quando o assunto eram massas e biscoitos fabricados no Paraná, foi o da empresa Todeschini, fundada em 1885, pelo imigrante italiano Giuseppe Todeschini. Primeira fábrica de massas do Sul do Brasil, a empresa se consolidou no mercado nacional ao longo das décadas chegando a alcançar o status de principal fabricante regional do segmento.

Depois de uma série de problemas administrativos e uma crise que abalou a gestão da instituição, a empresa fechou as portas em 2013 e o edifício onde funcionavam tanto a marca quanto a fábrica situado às margens da Linha Verde, no bairro Pinheirinho virou motivo de dor de cabeça para moradores da região, já que, desde o fechamento das portas, permanece abandonado.

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Elaine Makoski mora num complexo de apartamentos vizinho ao terreno. A autônoma afirma que, há muito tempo, evita sair a pé pelas quadras próximas. O motivo? Criminosos que se escondem no antigo complexo fabril e aproveitam para praticar delitos contra os pedestres que passam pelo local. “Tenho muito medo de circular por ali. Principalmente no fim da tarde quando começa a escurecer. Esse é o horário que eles escolhem pra assaltar”, afirma.

Fábrica da Todeschini, que foi referência em massas no Paraná, sofreu o impacto do fechamento da empresa. Foto: Felipe Rosa
Fábrica da Todeschini, que foi referência em massas no Paraná, sofreu o impacto do fechamento da empresa. Foto: Felipe Rosa

Mocó, motel ou balada?

“É cada coisa que até Deus duvida”, diz Aldaíza sobre o terreno abandonado. Foto: Felipe Rosa
“É cada coisa que até Deus duvida”, diz Aldaíza sobre o terreno abandonado. Foto: Felipe Rosa

Sem nem sinal de vigilância, é muito fácil entrar no enorme lote de 61 mil metros quadrados que ocupa quase toda a quadra entre as ruas Cid Marcondes de Albuquerque e Reinaldo Stocco, às marginais da Linha Verde. Terreno adentro, entulhos e lixo se misturam aos antigos vestígios do comércio que um dia funcionou ali. Nas estruturas de concreto que ainda restam, as paredes depredadas revelam o abandono e, nos poucos espaços cobertos, sujeira e urina denunciam a presença de pessoas que utilizam o local como banheiro e abrigo.

Aldaíza de Souza, 46, também é moradora de um dos condomínios da quadra. Ela afirma que já viu de tudo naquele terreno. “É cada coisa que até Deus duvida. Não são só os moradores de rua que se utilizam do espaço não. Um dia um Chevrolet Cruze branco estacionou ali na frente e um casal de classe média, muito bem vestido, desceu com mochilas e sacolas de mercado cheias de energético. Eles entraram no terreno e sumiram lá dentro”, conta. A técnica de enfermagem ainda lembra de outras movimentações inusitadas no local. “Já vi batalha de airsoft e até gravação de um videoclipe. A banda improvisou um palco e começou a tocar, do nada. Já fizeram até ensaios fotográficos lá dentro. Virou terra de ninguém”, diz.

Descontrole

No grupo de Whatsapp do condomínio próximo à fábrica abandonada, imagens compartilhadas pelos próprios moradores mostram situações perigosas como pilhas de lixo incendiadas e arruaças no meio da madrugada. “Sempre tem gente entrando e saindo dali, não existe nenhum controle”, afirma Algeíza de Souza, filha de Aldaíza. A dona de casa afirma que, mesmo com policiamento, o local representa enorme risco aos moradores e pedestres. “É uma pena porque muita gente usava a marginal da pista pra praticar caminhada e corrida mas agora pensa duas vezes antes de sair de casa”, lamenta.

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Sergio Luiz Ribeiro, síndico do condomínio, afirma que há muito tempo o problema tem sido pauta nas reuniões com moradores e entre os síndicos dos demais complexos residenciais da região. “O que mais nos preocupa é a questão da segurança. Aquilo virou ponto de droga, motel a céu aberto e rota de fuga de bandidos”, lamenta. O síndico explica que, no ano passado, um ofício foi encaminhado em nome dos moradores à Câmara Municipal, solicitando a limpeza do local. Inúmeras denúncias também foram feitas à Prefeitura por meio do telefone 156, mas até agora nada foi feito.

Prefeitura afirmou que nova vistoria será feita no local e que o proprietário pode ser novamente notificado. Foto: Felipe Rosa
Prefeitura afirmou que nova vistoria será feita no local e que o proprietário pode ser novamente notificado. Foto: Felipe Rosa

Respostas

A Tribuna do Paraná entrou em contato com a Premoaço, construtora responsável pelo terreno, para questionar a atual situação do lote e o que deve ser feito do local. Por telefone, um dos responsáveis informou apenas que a ideia é construir um shopping atacadista naquela quadra mas que, para isso, a empresa busca investidores.

Por meio de nota encaminhada à empresa, o proprietário do imóvel que pediu pra não ser identificado confirmou que os planos envolvem a construção de um shopping, porém, “diante das incertezas políticas e econômicas os investidores estão receosos”. Em relação à vigilância, o proprietário informou que uma empresa de segurança privada faz rondas periódicas nos arredores do lote para evitar invasões.

A reportagem também entrou em contato com a Secretaria de Urbanismo da Prefeitura que, em nota, informou que o proprietário do imóvel foi notificado no ano passado para realizar a limpeza do local que, em uma fiscalização posterior foi fiscalizado e aprovado por estar dentro das exigências, isolado e devidamente limpo. Na mesma nota a administração municipal afirmou que nova vistoria será feita no terreno e, caso sejam encontradas irregularidades, o proprietário será novamente notificado para viabilizar as adequações necessárias.

https://www.tribunapr.com.br/cacadores-de-noticias/bacacheri/moinho-abandonado-em-curitiba-vira-motel-e-moco/

Sobre o autor

Maria Luiza Piccoli

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