No início considerada uma ideia inusitada, a adaptação de um esporte elitizado se mostrou uma iniciativa de sucesso para o desenvolvimento de pessoas com necessidades educativas especiais. Há oito anos, o golfe ganhou novas medidas e atletas que até então não recebiam o devido reconhecimento por suas capacidades na modalidade.
Em pouco tempo, alunos com Transtorno Global de Desenvolvimento (TGD) e Deficiência Intelectual (DI) provaram que a ideia da professora de Educação Física e técnica pedagógica do Núcleo Regional de Educação, Fátima Alves da Cruz, veio para ficar. Os resultados conquistados provaram que ela estava certa quando decidiu adaptar a modalidade esportiva para aliá-la às características especiais dos alunos.
Antes de darem as primeiras tacadas, os alunos passam pelo trabalho que começa na sala de aula, onde é feita a preparação dos atletas. “Apesar de ser um jogo coletivo, o golfe também é uma atividade individual. Eles não interagem diretamente, mas tem regras de educação”, afirma a idealizadora do projeto.
Fátima conta que a ideia surgiu quando ela percebeu uma proximidade entre as características do esporte e os alunos com TGD e DI. “Muitos deles só olham para o chão e o golfista tem o olho fixo na bolinha, então já é meio caminho andado”, diz. Com isso são desenvolvidas a concentração e a relação entre o ganhar e o perder.
Golfistas e cidadãos
“Isso influencia no comportamento, na autoestima, no controle, na paciência, na concentração e reduz a agressividade. Só soma”, descreve Luiz Carlos Queiroz, professor de Educação Física da Escola Estadual de Educação Especial Lucy Requião de Mello e Silva, que foi a primeira a receber um campo oficial do Golf-7. “Eles querem evoluir, querem o melhor”, avalia o professor.
A diretora da escola, Edimara Zanocini, completa que desta maneira os jovens conseguem transferir a determinação e as conquistas para fora do campo, fazendo diferença em suas vidas. “Quais os objetivos deles? Onde eles querem chegar na vida? Eles não são só espectadores da vida e precisam ser agentes de transformação”, garante.
Esporte adaptado pras escolas
Enquanto o Golfe tradicional é jogado em um campo com 18 buracos, sem distância padrão entre cada um deles, o campo do Golf-7 contém sete buracos com medidas de sete metros entre eles. Os atletas treinam em duas modalidades: a de adaptação, em que vence o primeiro a embocar a bola; e por tacada, quando o vencedor é aquele que executa menos tacadas até embocar a bola. Isso faz com que os alunos expressem vontade de conquistar sua meta em campo e na vida.
O projeto começou em 2006, na escola na Escola de Educação Especial Fênix, em Curitiba. Desde então a iniciativa cresceu e conquistou parcerias fundamentais para a realização da atividade, que se espalhou por todo o estado. Estão cadastradas 140 instituições em todo o Paraná, sendo mais de 40 na Região Metropolitana de Curitiba. Em todas as instituições, áreas que não eram utilizadas foram transformadas em campos de Golf-7, praticado com os materiais doados aos golfistas da Federação Paranaense e Catarinense de Golfe. Também são parceiros da iniciativa o governo do Estado e o município de Curitiba.
O Golf-7 integra os Jogos Municipais Especiais de Curitiba (desde 2007), Jogos Estudantis do Paraná (desde 2013) e Jogos Paradesportivos do Paraná (desde 2012).
O projeto Golf-7 está comemorando mais uma conquista. Inaugura amanhã um campo específico para a iniciativa na sede da federação, localizada no bairro Capão da Imbuia. O espaço será utilizado para a capacitação dos educadores que levarão a iniciativa para as escolas e organizações que atendem pessoas que apresentam TGD e DI, como também será palco de competições entre os atletas.
Interessados em colaborar com o projeto podem entrar em contato com a Federação de Golf pelo telefone 3366-9159. Também é possível solicitar o material de capacitação, inclusive o livro com as especificações da modalidade adaptada.
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