“Muito obrigado”, isso é o que a família Tribuna quer dizer aos seus leitores. Ontem, a reportagem esteve nas vilas da Cidade Industrial, em Curitiba, entregando as doações trazidas pelos leitores e pelos colaboradores do jornal. A ajuda foi muito bem-vinda, pois algumas famílias não tinham nem água para beber.
Era o carro da reportagem parar e as pessoas rodeavam o veículo: “Tem roupa?”, “Tem produto de limpeza? Ainda não consegui desinfetar a casa, nem lavar a roupa”, “Tem comida? Perdi tudo na água suja”. “Tem armário de pia?”
Na casa da dona Maria Aparecida, por exemplo, a situação é caótica. Lá a Tribuna deixou alimentos, roupas e sapatos, água sanitária e utensílios de cozinha, já que quase tudo molhou na enchente.
Eles ainda tentam conseguir uma estante para TV e um armário de cozinha, pois como os móveis ficaram “moles” e estão pendendo para frente, eles temem que o armário e o televisor caiam em cima das quatro crianças que moram lá. Sem contar que o marido e a filha dela estão desempregados e numa situação financeira difícil. A filha, Rosemari, busca oportunidades de auxiliar de produção, logística ou multifuncional.
Bebê
Em outra rua, encontramos o desempregado Matheus Lucas, 20 anos. Ele tem uma filha de sete dias e levou para casa um fogão doado por um leitor, além de água sanitária, água mineral para a companheira, roupas e produtos de limpeza. Ele também faz um apelo a quem tiver um par de muletas e duas pias de cozinha. Os objetos vão ajudar ele (a pia) e um vizinho que recém operou e está com pinos nas pernas. E várias outras pessoas passaram por ali. Levaram de tudo um pouco.
Dali, a reportagem seguiu à Vila Barigui I, na casa da Iraci, que ainda não conseguiu desinfetar a casa e os utensílios de cozinha, que ficaram boiando na água poluída que brotou dos ralos. Sem contar a comida, que perdeu toda. O armário de cozinha dela está ‘desmanchando‘ e quem tiver um novo para doar, será bem-vindo.
Ajuda mútua
Os moradores também ajudaram uns aos outros. Quem ganhou mais doou para quem ganhou menos; o que não servia para um, ia para o vizinho. A recicladora autônoma Suzana Francisca Silva, 41 anos, também ajudou utilizando a caminhonete que usa a trabalho para transportar doações que seus vizinhos foram ganhando.
“Só ontem (quarta-feira) que eu comecei a limpar minha casa, perdi muita coisa. Até então eu estava ajudando os vizinhos e ainda fiquei devendo favor pra alguns”, lamentou ela, que também precisou parar um pouco para desinchar as pernas, doloridas de tanto andar e dirigir. Ela também emprestou a máquina de lavar para os vizinhos, pois vários perderam o eletrodoméstico na enchente.
Anistia
Suzana ainda faz um apelo à Copel e à Sanepar, para que não cobrem as próximas duas contas de água e luz. “As pessoas já estão ferradas porque perderam quase tudo. E estão gastando muita água e luz pra limpar o que sobrou. Não ter essas dívidas no mês que vem aliviaria bastante”, pede ela.
Palavra do leitor
O médico Cláudio Simon, 55 anos, foi um dos leitores que doou um fogão e utensílios de cozinha. Os materiais pertenciam a sua mãe, que tinha 83 anos e faleceu há cerca de um ano. “Nós estávamos com isso em casa, sem saber o que fazer. Quando vimos a campanha, vimos que era a hora certa para doar. E vimos que vocês não simplesmente realizaram uma campanha. Vocês foram lá, presenciaram a situação deste povo”, disse o leitor.