Um grupo de rapazes se divide pela Praça Rui Barbosa e, no meio do comércio de outras mercadorias, como meias e perfumes, oferece celulares dos mais diversos modelos, “na caixa”. Uma venda, no mínimo, duvidosa. Ao mesmo tempo, comerciantes da região comentam que são frequentes os roubos às pessoas que por ali passam – os ladrões, muitas vezes, estão interessados nos celulares das vítimas. Os assaltos a comércios que revendem os aparelhos também têm sido cada vez mais frequentes. A polícia confirmou que houve um aumento desses crimes e que muitos celulares estão sendo enviados por quadrilhas para outros estados.
Notícias de roubos a grandes lojas e revendas de operadoras em que os bandidos levam dezenas de celulares têm sido frequentes na Tribuna. Em São José dos Pinhais, no dia 19 deste mês, três suspeitos foram presos após um arrombamento em uma loja de uma operadora no Centro, em que foram levados cerca de R$ 50 mil em mercadorias.
Três dias depois, ladrões invadiram o Extra do Parolin em busca de celulares. No mesmo dia, à tarde, a Pernambucanas de São José dos Pinhais também foi vítima de marginais que tinham como alvo os aparelhos. No dia seguinte, mais uma vez dois roubos viraram matéria no jornal: um durante a manhã, no Magazine Luiza de Campina Grande do Sul; outro à tarde, no Ponto Frio do Centro de Curitiba.
Cuidado!
Nas ruas, os celulares também costumam ser o alvo dos marginais. Não é preciso andar muito para encontrar alguém que já tenha perdido o aparelho para um criminoso. Foi o caso da diarista A. Ela estava na Rua Primeiro de Maio, no Xaxim, quando um rapaz passou e fez um elogio ao celular: “bonito seu aparelho”. Antes que ela tivesse tempo de estranhar o comentário, ele mostrou uma arma e A. entregou o celular.
A diarista avisou a Guarda Municipal. “Não estava nem querendo recuperar o celular, só não queria que ele fizesse isso com outras pessoas”. No fim do dia, descobriu que o suspeito tinha sido detido com outros aparelhos roubados, mas o dela já tinha sido passado para frente.
Vida no chip
A autônoma Tamara Cristina Cordeiro estava com duas amigas no Largo da Ordem quando elas foram abordadas por dois rapazes, no começo de agosto. “Eles foram encostando a gente no muro, dizendo que estavam armados, e levaram nossas bolsas e celulares”. Além do prejuízo financeiro, ela ficou preocupada em ter outras “dores de cabeça” por ter perdido o aparelho. “Dá pavor, porque as pessoas vão ter acesso a toda nossa vida, em fotos e todo o resto‘. Ela bloqueou o chip e o aparelho por meio da operadora. “Tentei rastreá-lo, mas fala que ele está inativo desde o dia do assalto”, contou.
Na mesma Praça Rui Barbosa, onde há venda de aparelhos em vários pontos, também acontecem vários roubos, relatou uma comerciante, que não quis ter o nome divulgado. “No sábado roubaram uma mulher aqui do lado. Ela estava com o celular no bolso, ele veio e a empurrou, e depois saiu correndo. Acontece muito, principalmente nos domingos, quando não tem muita gente na rua. Eles vêm de bicicleta e só puxam o celular”, contou.
Tendências
Funcionário de uma loja de operadora de celular no Centro de Curitiba, que preferiu não se identificar, disse que o estabelecimento deixou de exibir uma grande quantidade de aparelhos logo na entrada da loja – como acontece em vários outros lugares – para evitar os furtos e roubos. Ainda assim, há poucos dias o local foi arrombado durante a madrugada e vários produtos foram levados.
“Já pensamos em colocar no andar de cima, mas aí deixamos de vender. Tem que pensar em tudo isso”, comentou o gerente de uma grande loja que revende celulares, que também não quis se identificar. A loja foi assaltada duas vezes em agosto. Em quatro, os bandidos se dividiram: dois deram voz de assalto, enquanto dois “cuidavam” em frente ao local. Eles ainda escolheram os aparelhos das melhores marcas.
O funcionário da operadora comentou que, todas as semanas, pelo menos seis ou sete pessoas chegam à loja querendo um novo aparelho, depois de terem perdido os seus em furtos ou roubos. “Tem muita gente que está comprando dois aparelhos: um mais antigo, sem muitas funções, e outro mais moderno. Isso para, na hora que o ladrão abordar, entregar o mais baratinho”, revelou.
Com o aumento de furtos e roubos, o funcionário comentou ter percebido também uma maior procura dos consumidores pelos seguros dos aparelhos, que podem ser feitos pelas operadoras ou diretamente em seguradoras. A Tribuna fez uma simulação no site de uma seguradora usando como exemplo um celular de R$ 3 mil. A cobertura anual completa que envolve danos por água, elétricos, físicos e subtração do bem sairia por R$ 480, 15% do valor total do aparelho.
Investigações
Em nota, a assessoria de imprensa da Secretaria Estadual da Segurança Pública (Sesp-PR), informou que não existem estatísticas sobre furtos e roubos de celulares. Segundo a nota, “esse tipo de informação não é mensurada, porque, por exemplo, em um roubo a bolsa, o boletim de ocorrência registra a bolsa toda, mas não o aparelho”.
Mas, pela experiência, o delegado Emmanoel David, da Delegacia de Furtos e Roubos (DFR), confirmou que houve um aumento dos assaltos em que bandidos levam celulares, tanto nas ruas quanto nas ações de grupos criminosos em lojas. “A delegacia, nos últimos dois meses, realizou várias prisões em flagrante, preventivas e temporárias de associações criminosas que agem em mais de quatro pessoas, buscando o lucro na venda desses aparelhos furtados ou roubados para receptadores”, comentou. De acordo com ele, as investigações da DFR apontam que os produtos roubados de grandes lojas têm sido enviados para outros estados.
“Diferente dessa situação é o caso de pessoas que são roubadas quando estão na rua ou desatentas. Geralmente, são bandidos que se aproveitam da situação e, muitas vezes, do desleixo da própria vítima para praticar o crime”, apontou. Em muitos desses casos, conforme Emmanoel, os aparelhos são revendidos para comprar drogas.
Dicas
A orientação do delegado, para evitar esses crimes, é ficar alerta. “As pessoas não devem ficar mexendo nos celulares, sem prestar atenção nos locais em que essas pessoas de má índole podem agir.‘ Quem teve o aparelho furtado ou roubado, deve procurar a DFR para registrar o boletim de ocorrência. “A vítima deve comparecer com dados básicos do aparelho, ou o IMEI ou o número, para que posteriormente possamos fazer uma investigação e chegar aos receptadores.‘ Quem quer comprar um aparelho também deve ficar atento para não virar alvo de uma investigação policial caso compre uma mercadoria furtada ou roubada, nas ruas ou até mesmo em sites na internet. Um dos rapazes que vende celular “novinho” no Centro de Curitiba, questionado sobre a procedência do celular, respondeu: “É do Paraguai, mas é de primeira linha”.
O delegado reforça: “se você compra um produto roubado ou furtado, com toda certeza pode acontecer da Polícia Civil ir até sua casa, porque, em tese, você é um receptador, e vai ter que comparecer à delegacia e prestar esclarecimentos”, explicou o delegado. Em caso de uma autuação por receptação, a pena pode ser de até quatro anos. “Isso se você não estiver vendendo o produto, porque aí a pena fica mais alta e pode até dar prisão em flagrante”.
Bloqueio
Até março deste ano, para o bloqueio de celulares perdidos, extraviados e roubados era necessário informar o IMEI (número equivalente ao do chassi de um veículo). Mas a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) possibilitou que esse bloqueio fosse feito apenas com número na linha. A intenção é eliminar a utilizade desses aparelhos tomados em assaltos para inibir os crimes.
Em fevereiro deste ano, 6,5 milhões de celulares estavam registrados no Cadastro Nacional de Estações Móveis Impedidas (CEMI). O número de aparelhos bloqueados no Brasil é 20% do total de todo o mundo (quase 32 milhões de celulares). Pelo site do CEMI (https://www.consultaaparelhoimpedido.com.br/) é possível evitar comprar celulares furtados ou roubados, consultando o número do IMEI para saber se ele está impedido.