Será o fim da briga?

Uber, o aplicativo que conecta motoristas e passageiros pela internet, pode deixar a ilegalidade em Curitiba. A regulamentação do serviço prestado pelo app, uma promessa de campanha, deve ser discutida e pode em breve sair do papel. Segundo informações confirmadas pela equipe do prefeito Rafael Greca, uma comissão que estudará o tema será formada ainda este mês na Urbs, empresa que controla o sistema de transporte público municipal. No entanto, ainda não há prazo e nem dados que indiquem como isto será conduzido.

“Nós taxistas sempre entendemos que deveria haver concorrência justa e harmoniosa", disse Rogério Félix.
“Nós taxistas sempre entendemos que deveria haver concorrência justa e harmoniosa”, disse Rogério Félix.

Presente em diversos países do mundo e em dezenas cidades brasileiras, o Uber chegou a Curitiba em março de 2016 e desde então, nunca houve um consenso na cidade sobre como o aplicativo atua.

Durante a gestão de Gustavo Fruet houve a tentativa de proibição do Uber, não aprovada pelo então prefeito, que também não apoiava o serviço, deixando a discussão para seu sucessor. De lá para cá o projeto permaneceu parado na Câmara Municipal.

Briga na Rodoferroviária teve um preso. "Plena paz, acho difícil", disse Rogério Félix.
Briga na Rodoferroviária teve um preso. “Plena paz, acho difícil”, disse Rogério Félix.

Conflitos

Neste período, durante o ano passado, motoristas do Uber e taxistas de Curitiba estiveram envolvidos em polêmicas e em diversos conflitos, muitos deles violentos, com pessoas feridas e carros depredados. A briga entre eles, segundo  os taxistas é motivada pela concorrência desleal.

“Nós taxistas sempre entendemos que deveria haver concorrência justa e harmoniosa. Mas quem tem o poder de transformar isso, de regulamentar é o poder público, a prefeitura. O Uber se diz como plataforma de tecnologia e não transporte público, o que não representa a realidade. Ele precisa ser considerado um serviço de transporte, sujeito a controle, taxações e fiscalizações. Se isto acontecer, a convivência vai ser mais tranquila, mesmo assim, os conflitos ainda vão existir, plena paz acho difícil”, afirmou o conselheiro da União dos Taxistas de Curitiba (UTC) e taxista há 17 anos, Rogério Félix.

De acordo com Félix, como está, o serviço prejudica taxistas e o transporte na capital. “Os táxis estão quase quebrando e o próximo passo é quebrar o transporte coletivo, se não for legalizado. Para os taxistas, a presença do Uber gerou queda  de 30% no número de passageiros. Com a crise perdemos mais 20%, isso representa a metade dos clientes, das corridas que tínhamos antes. Estamos acompanhado a questão junto à prefeitura e esperamos que a regulamentação seja feita, mas não como aconteceu em São Paulo, por decreto e com regras injustas”, alerta.

A Tribuna tentou a Uber sobre  o assunto, mas a empresa se limitou a responder que “está sempre aberta para discutir sobre os benefícios que a tecnologia pode trazer para as pessoas e as cidades.”

Taxistas querem solução

“Na internet o Uber é campeão de queixas em um site de reclamações", disse Erasto Luiz Ribas.
“Na internet o Uber é campeão de queixas em um site de reclamações”, disse Erasto Luiz Ribas.

Há 15 anos atuando como taxista, o presidente do Conselho Regional dos Taxistas do Paraná Erasto Luiz Ribas, também considera a regulamentação primordial. “Tem que haver um cadastro de quem esta trabalhando, do carro, de qual é a demanda e um estudo de impacto. O Uber é irregular, sua ação não está prevista na Lei de Mobilidade Urbana e nem no Código Brasileiro de Trânsito, que prevê o uso de placa vermelha para quem trabalha no transporte público, entre outras ações”, aponta. Segundo  Ribas, os taxistas pensam em si e também na segurança dos usuários. “Na internet o Uber é campeão de queixas em um site de reclamações. A população utiliza um serviço ilegal e muitas vezes não sabe disto. A regulamentação do Uber é ainda mais importante do que uma possível revisão na tributação feita aos taxistas”.

Tensão só aumenta

Motoristas do Uber dizem que aplicativo foi a saída pro desemprego. Foto: Pedro Serápio.
Motoristas do Uber dizem que aplicativo foi a saída pro desemprego. Foto: Pedro Serápio.

Uma coisa é certa: do jeito que está, não dá para ficar. Em 2016, os curitibanos assistiram a uma série de conflitos entre taxistas e motoristas do Uber. E 2017 não começou de forma diferente.

Na última terça-feira, um taxista foi preso por agredir um motorista do Uber na Rodoferroviária de Curitiba. A confusão envolveu várias pessoas e foi filmada, mas está longe de ser o conflito de maior repercussão.

Em novembro do ano passado, por exemplo, a Polícia Militar teve que usar bomba de gás para conter um tumulto entre partes no aeroporto Afonso Pena. Motoristas do Uber acusaram taxistas de depredar os seus veículos.

Em dezembro, um grupo de 150 taxistas queimou pneus no acesso ao aeroporto. Também em dezembro, o correu um bloqueio na Avenida Presidente Afonso Camargo para impedir o acesso à Rodoferroviária.

Além das discussões no trânsito, que colocam em risco a vida de quem estiver por perto. Em maio do ano passado, veio a público um vídeo em que mostra um taxista discutindo com um suposto motorista do Uber. Os dois pararam o trânsito para bater boca.

“Existe espaço para todos”

Motorista do Uber há pouco mais de um mês, X *de 31 anos, que não quis ser identificado, acredita que a regulamentação deve diminuir as brigas entre taxistas e uberistas. “Se a gente deixar de ser clandestino a briga vai diminuir, vamos ficar mais seguros e os passageiros também. Hoje tenho receio, pelo carro, por mim e principalmente pelos passageiros.

Felizmente nunca me envolvi em uma confusão, mas já tiraram fotos do meu carro e conheço quem teve problema com os taxistas”, conta. Para ele, a cobrança de taxas pode trazer impactos. “Se os impostos forem muito altos podem afastar clientes e motoristas do Uber, pode ser que venha a não valer a pena para motoristas e passageiros”. No entanto, outra possibilidade a ser estudada pela prefeitura, de rever a tributação aplicada aos taxistas é bem vista pelo motorista do Uber. “Se as taxas baixarem para os taxistas será bom para eles e para nós, todos poderão trabalhar, cada um na sua”. Só elogios

Outro motorista do aplicativo, W*, 21 anos, conta que conseguiu no Uber uma saída para o desemprego. “Esta é um das melhores empresas com que já trabalhei.  Estava desempregado e graças ao Uber consegui quitar minhas contas no fim do ano e estou pagando meus estudos. Estou ganhando por semana o que tirava em um mês. Tem muita gente ‘saindo da lama’ com o Uber. E se eu puder trabalhar de maneira regular vai ser ótimo. Vamos pagar os impostos para o município. Todo o serviço regulamentado é melhor”, opina.

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