Curitiba

Reciclagem engatinhando

Foto: Divulgação
Escrito por Giselle Ulbrich

Pesquisa mostra que quase 40% dos paranaenses nem sabe o que é coleta seletiva. Saiba o que as indústrias estão fazendo pra ajudar a preservar o meio ambiente

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Para 97% dos paranaenses, a reciclagem é importante para o futuro do planeta. E 95% da população concorda que o jeito correto de descartar resíduos é separando cada um em um saquinho (plástico num saco, papel em outro, vidro em outro …). E 88% da população do estado afirma que separa o lixo orgânico do reciclável. No entanto, apenas 28% destas pessoas separam os materiais recicláveis em sacos individuais.

Este é o resultado de uma pesquisa encomendada pela cervejaria Ambev ao Ibope Inteligência, que ainda apontou um dado preocupante: apesar dos paranaenses estarem cientes de que precisam preservar o meio ambiente, 62% sabe pouco ou nada sobre coleta seletiva. E 23% delas sequer conhece as cores das lixeiras para coleta do material reciclável. Ou seja, paranaenses querem reciclar, mas precisam de mais informação sobre o assunto para que isso vire rotina.

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“Só com um trabalho em conjunto entre todos nós, cidadãos, empresas, cooperativas e governos, para revertemos esse cenário e dar ao lixo o cuidado que ele deve ter”, afirma Filipe Barolo, gerente de sustentabilidade da Cervejaria Ambev.

Recicláveis

Dos entrevistados, 66% dizem estar atentos na compra de produtos com embalagens que sejam recicláveis. Mas apenas 6% das pessoas sabem que embalagens longa vida são recicláveis, por exemplo. O índice melhora quando se fala em plástico (77%), vidro (64%), papel (51%) e alumínio (54%), mas ainda está distante do ideal. Apenas 29% dos entrevistados afirmam saber que garrafas PET podem ser recicladas e 34% dizem saber pouco ou nada sobre embalagens retornáveis de vidro, por exemplo.

Destino

92% dos paranaenses acredita que aquilo que chama de lixo pode ter valor para outras pessoas e 69% discorda que o lixo deixa de ser sua responsabilidade quando jogado fora, mas a cadeia envolvida nesse processo ainda parece ser um mistério para a maior parte da população. 60% das pessoas afirmam não saber quem efetivamente recicla os materiais e os transforma em novos produtos no Brasil e 75% afirmam saber pouco ou nada sobre cooperativas de reciclagem. Além disso, 51% acreditam que o lixo vá para aterro sanitário ou lixão, apesar de 45% não concordarem que essa seja a destinação adequada.

Foto: Felipe Rosa/Arquivo/Tribuna do Parana
Foto: Felipe Rosa/Arquivo/Tribuna do Parana

Conforme Filipe Barolo, a Ambev estabeleceu algumas metas sustentáveis que devem estar totalmente implantadas na empresa até 2025. Entre elas, está o objetivo de que 100% dos produtos estejam em embalagens retornáveis (de vidro) ou feitas majoritariamente de material reciclado. E foi para conseguir colocar as metas em prática, que a empresa quis saber qual o nível de conhecimento da população sobre o assunto.

As garrafas de cerveja retornáveis, que a empresa já utiliza, podem ir e voltar para a fábrica 23 vezes, o que representa um ciclo de vida de 10 anos para cada garrafa. E aquelas que voltam quebradas, ou por algum motivo não podem ser reenvasadas, vão para um forno da empresa, montado no Rio de Janeiro, onde o vidro é derretido e transformado em garrafa novamente. Lá são processados 450 toneladas de vidro por dia. Tais medidas, explica o gerente de sustentabilidade, já retiraram mais de 12,4 milhões de toneladas de vidro de circulação, em decorrência do aumento de representatividade das garrafas retornáveis. Isso gera também uma economia de 35% de energia.

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E quando se fala em plástico, a companhia também deixou de produzir um volume superior a 1,9 bilhão de garrafas PET com resina virgem, em decorrência da reciclagem do material, ou seja, deixou de utilizar mais de 94 mil toneladas de plástico “novo”. O Guaraná Antarctica, inclusive, foi o primeiro refrigerante a ser envasado em garrafa pet totalmente reciclada e 56% do produto chega ao mercado com este tipo de envase. Usar garrafa reciclada consome 30% menos de energia, se comparada ao produto feito de uma resina virgem, e 20% menos água.

Sustentáveis

Para sobreviver, é muito difícil aos cidadãos não dependerem de produtos industrializados. Por mais esforço que as pessoas façam para evita-los, sempre é necessário comprar algo pronto. E assim, vão-se toneladas de embalagens ao lixo. Mas o que as empresas estão fazendo para tentar reduzir esse impacto ambiental? A Tribuna encontrou três indústrias preocupadas com isto.

O Boticário

Como continuar entregando o máximo de produtos, utilizando uma quantidade mais eficiente de embalagens? Conforme Omar Rodrigues, coordenador de sustentabilidade do Grupo Boticário, a empresa vêm investindo em pesquisas e já conseguiu vários resultados. Um deles é com o perfume Lily Essence, produto premium da marca. O tamanho da embalagem foi reduzido, mas manteve todos os aspectos de sofisticação e luxo. Assim, diminuiu a quantidade de papel utilizada. O perfume Malbec também teve redução de 2% na quantidade de vidro no frasco. “Ficou imperceptível ao consumidor, mas considerando o volume de vendas, evitamos o consumo de 155 toneladas de vidro ao ano”, explica Omar.

A linha Cuide-se Bem, segunda maior em volume de vendas do grupo, não usa mais plástico proveniente de petróleo, que emite gases do efeito estufa. Usa-se o plástico vegetal, feito da cana de açúcar. Já a linha Nativa Spá, além de utilizar o plástico vegetal, usa também o reciclado. O Grupo também está estudando uso de vidro reciclado, novidade que logo pode chegar ao consumidor.

O Grupo Boticário, explica Omar, também está estudando formas mais eficientes de logística reversa (quando a embalagem usada retorna à indústria). Nas redes de lojas Quem Disse Berenice e Beauty Box, pertencentes ao grupo, o consumidor que devolve cinco embalagens usadas das marcas, ganha um produto novo. Ano passado, quase 17 mil consumidores aderiram à logística reversa na Quem Disse. Nas lojas O Boticário, houve uma ação parecida no período de uma semana. Mais de 500 mil consumidores engajaram à campanha. As embalagens são enviadas às cooperativas parceiras da empresa, que dão a destinação adequada aos resíduos.

Foto: Divulgação
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Marinho e Agroforte

Resíduos orgânicos também podem ser reutilizados. Duas indústrias de Santa Catarina reaproveitam restos de peixe, boi e porco para produzir matéria prima para ração animal de altíssima qualidade. Você sabia que nós, humanos, consumidos apenas 30% do peixe? Todo o restante (espinhas, escamas e cabeça) é jogado fora. A empresa compra estes restos de peixarias, grandes pesqueiros e mercados municipais (300 toneladas por dia, só no estado) e os transforma em farinha (25%), óleo (5%) e ainda extrai muita água (70%) deste processo, que é tratada e jogada limpa de volta no meio ambiente. Por mês, os rejeitos de peixe são transformados em 1.600 toneladas de farinha e 315 toneladas de óleo.

A farinha e o óleo são vendidos a indústrias de ração para peixes, camarões e gatos. E acaba se tornando uma ração de altíssima qualidade, que protege o coração dos animais e reduz os problemas com envelhecimento, pela alta concentração de ômega 3. Já a empresa Marinho, de Camboriú, compra diariamente 200 toneladas de restos de carnes de bois e porcos de frigoríficos e mercados. 80% do boi e do porco vão para consumo humano e 20% são de rejeitos, que são transformados em farinha e sebo, usados na fabricação de rações super premium para cães. Desta forma, a empresa contribui com o meio ambiente evitando o despejo diário de meia tonelada de rejeitos altamente poluentes nos lixões e aterros sanitários.

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