Por Giselle Ulbrich e Maria Luiza Picolli

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Na semana em que se comemora o Dia Mundial da Doação de Sangue, a Tribuna vai te contar a história de solidariedade do Amauri e da enfermeira Sabrina.

Uma parcela grande de pessoas só começa a doar sangue depois que algum familiar ou amigo precisar, por causa de algum acidente, doença ou cirurgia. Já no caso do consultor de desenvolvimento de produtos Amauri Dias dos Santos, 52 anos, foi a pura e simples solidariedade com o próximo que incentivou a ser um doador regular. Ele pode ser o maior doador existente hoje no Paraná, não só em quantidade, mas também em tempo: 20 anos!

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A cada 15 dias, pelo menos, Amauri vai ao Centro de Hematologia e Hemoterapia do Paraná (Hemepar). Foto: Átila Alberti
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A cada 15 dias, pelo menos, Amauri vai ao Centro de Hematologia e Hemoterapia do Paraná (Hemepar). Colocou isso como hábito na rua rotina e vai sempre antes de ir ao trabalho, de manhã cedo. Antes, ele era apenas doador de sangue, procedimento que é rápido (de 8 a 12 minutos) e pode ser feito quatro vezes ao ano pelos homens e três vezes ao ano por mulheres. Mas, há pouco mais de quatro anos, o Hemepar passou a fazer a coleta apenas de plaquetas. É um procedimento no qual o doador fica de uma hora e meia a duas horas conectado a uma máquina, que coleta o sangue da pessoa, separa apenas as plaquetas e devolve o sangue ao corpo do doador. O procedimento pode ser repetido a cada 15 dias.

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O consultor já fez 47 doações de plaquetas nos últimos dois anos. Em quatro anos e meio, já foram 96 doações. Como são permitidas apenas 24 ao ano – ele fez a 24.ª ontem – ele precisará dar um tempo. Realizará a doação de sangue daqui há algumas semanas, dará o intervalo de 60 dias e voltará às 24 doações quinzenais de plaquetas.

Amor ao próximo

“Comecei a doar porque eu via as propagandas na TV, dos hospitais precisando. Mas eu sempre deixava para o mês seguinte, até o dia que resolvi e fui. Desde esse dia, nunca mais parei de doar. E me arrependo de não ter começando antes. O problema das pessoas é a preguiça, pois quando elas vão e percebem que é simples, passam a ser doadores”, diz Amauri, que começou aos 30 anos e hoje, por causa do exemplo, incentivou os filhos. Também já levou vários amigos ao Hemepar, que hoje também são doadores frequentes.

Curiosidades

Numa doação de sangue, coleta-se até 480 ml de sangue por pessoa (uma bolsa). Mas, neste caso, consegue-se retirar apenas 13% de plaquetas. No método que Amauri passou a ser doador, a aférese, é possível retirar maior quantidade de plaqueta, em menores intervalos de tempo. As plaquetas são fragmentos celulares provenientes da medula óssea e sua principal função é participar do processo da coagulação, responsável pela suspensão das hemorragias. Em 72 horas após a doação o corpo consegue repor as plaquetas doadas.

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Mas há pessoas que não conseguem produzi-las, e por isto precisam de transplante. Geralmente são pacientes com câncer, principalmente os que estão na fila por um transplante de medula. Outro caso de pessoas que precisam de plaquetas imediatamente são as que sofrem queimaduras mais graves, de 1.º e 2.º graus, pois param de produzi-las assim que sofrem a queimadura. E ainda existem pessoas que nascem sem a capacidade de produzir as plaquetas e precisam recebe-las continuamente.

Já sobre a doação de sangue, no Brasil, ela é permitida quatro vezes ao ano para os homens e três vezes para mulheres. Na Europa, é permitida a doação duas vezes ao ano. Isto porque, por lá, as pessoas são mais conscientes e há doadores em excesso. No Brasil, conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS), apenas 1,8% da população é doadora.

Trabalho ‘de sangue’

Enfermeira que trabalha coletando sangue no Hemobanco, em Curitiba, também é a maior doadora da instituição. Foto: Átila Alberti

Sabrina Alves Ferreira, 32 anos, é enfermeira do Hemobanco, que fica próximo ao Hospital Evangélico. E também é a maior doadora da entidade. Ela conta que começou a trabalhar no local em 2007, como estagiária, e desde então começou a entender a importância das doações de sangue regulares.

Por trabalhar na área, ela passou a acompanhar de perto as necessidades de hospitais e pacientes. E por isto se tornou doadora. Sempre que sabe de algum paciente que precisa e não há doadores disponíveis no momento, ela mesma vai para a máquina de coleta ou, se ainda não está no prazo mínimo para doação, incentiva os colegas de trabalho. A enfermeira não sabe quantas vezes já doou. Mas a cada 15 ou 20 dias está retirando suas plaquetas. “Entre os doadores frequentes, a gente sabe que se ligar, eles não vão dizer não. Mas a doação de plaquetas é demorada, vai até duas horas. E nem sempre os doadores estão com tempo disponível naquele momento. Aí incentivamos os funcionários aqui do banco a irem para a máquina”, diz ela.

O Hemobanco realiza um programa de fidelidade, para incentivar as pessoas a criarem o hábito da doação. Mulheres que realizaram 12 doações nos últimos cinco anos e homens que realizaram 15 doações, ganham uma pequena placa de bronze com o seu nome, no formato de uma folha de árvore, que é colocada na Árvore da Vida, que fica bem na entrada do Hemobanco.

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Sabrina às vezes posta fotos das suas doações de sangue nas redes sociais. E isso gera o interesse das pessoas, que passam a perguntar com faz para doar também. “A gente que está aqui dos dois lados, coleando e vendo a necessidade dos pacientes, entende muito a necessidade de termos mais doadores. E os que vêm doar sangue, incentivamos a também doar plaquetas”, diz ela.

Crianças

O que marca muito para Sabrina e seus colegas de trabalho são as crianças que precisam de doações. O Hemobanco atende o Hospital Pequeno Príncipe e por isso conhece a agonia de crianças que precisam de sangue e plaquetas. Mas nem tudo é triste. Através da doação, ela e os funcionários também ficam conhecendo muitas histórias de superação, de crianças que conseguiram se curar com as doações que receberam dos bancos de sangue. O Hemobanco recebe de 1.500 a 1.800 doações por mês, ou quase 22 mil doações por ano. A instituição atende 28 instituições em Curitiba, entre hospitais e clínicas, e seu maior ‘cliente‘ é o Hospital Pequeno Príncipe, para onde vão pouco mais da metade das doações de sangue recebidas.

Memória

Amigos do estudante Jorge José de Souza Faria, morto a facadas durante um assalto no Largo da Ordem, no Centro Histórico de Curitiba, no último dia 30, decidiram transformar a tragédia em uma forma de ajudar os outros. Como uma forma de homenagear o rapaz, eles organizaram uma campanha no Facebook para pessoas doarem sangue. O evento acontece sábado, a partir das 9h, na Praça Santos Andrade — a apenas algumas quadras de onde o rapaz de 21 anos foi atacado. Segundo os organizadores, a ideia surgiu do próprio estudante, que estava chamando os seus amigos para irem doar no Hemepar na semana anterior ao seu assassinato.

NÚMEROS

Doação de Sangue:
Um doador coleta 480 ml (Uma bolsa)
Que salva até 4 pessoas

Aférese (doação de plaquetas):
Um doador coleta 4 a 8 volumes (medida específica de plaquetas)
8 volumes atendem: 3 a 4 adultos/8 a 10 crianças (principalmente as com câncer)

As 96 doações de Amauri:
Já podem ter salvo 384 adultos ou 960 crianças

HEMEPAR

Em 2017:
180 mil bolsas coletadas (PR)
Média: 450 ml coletado por bolsa
Ou seja: 81 milhões de litros de sangue
Hemepar atende:
384 hospitais no Paraná – Supre 90% da demanda de hospitais vinculados ao SUS (Públicos ou particulares que também atendem SUS)

Estoque estadual necessário:
14 a 15 mil bolsas mês ou 600 a 700 dias

Hemepar Curitiba colhe:
80 a 120 bolsas / dia
O ideal é: 120 bolsas / dia
Dias frios e vésperas de feriado: doação cai 30%
É justo nos feriados que a demanda por sangue aumenta
Motivo? Porque aumentam os acidentes de trânsito e as vítimas precisam de sangue

https://www.tribunapr.com.br/cacadores-de-noticias/curitiba/cidadao-consciente/