As janelas quebradas e as portas com marcas de arrombamento indicam que a última invasão à Unidade de Saúde Barigui, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), é recente. Dessa vez, os criminosos levaram dezenas de kits médicos de DIU. O dispositivo intrauterino é um método contraceptivo para mulheres. Cada kit custa, em média, R$ 50. Estima-se que pelo menos trinta tenham sido levados pelo grupo que invadiu a US na madrugada do último sábado (17).
Por causa disso, pacientes que aguardavam na fila de espera e que seriam atendidas nesta semana, terão de esperar ainda mais – ainda não há previsão de chegada de novos kits. “Para isso existe um cronograma mensal e agora, com esse crime, tudo precisou ser remarcado”, diz uma funcionária da US.
Trabalhadoras, que preferem não se identificar, confirmam que os furtos são frequentes. No último fim de semana, foram levados, ainda, dois ventiladores e dois aquecedores, usados no setor de atendimento infantil para amenizar o frio do inverno e o calor do verão.
Rotina
Os casos não são de hoje. No começo do ano passado, foram oito arrombamentos em menos de um mês. Computadores e equipamentos médicos foram levados. À espera de reposição, funcionários compraram alguns itens com dinheiro do próprio bolso. “Se isso não fosse feito, muitas vezes o atendimento não seria possível”, lamenta uma empregada da Unidade Barigui.
Em 2014, outro prejuízo dos grandes. Durante um furto no meio da madrugada, os assaltantes cortaram a energia elétrica. Mais de 1.200 vacinas que eram mantidas refrigeradas tiveram de ser jogadas no lixo. “É estressante. Você chega para trabalhar e descobre que, mais uma vez, entraram aqui. Você olha a porta arrebentada, a fiação jogada pelo chão, computadores faltando, estetoscópios, balança… Eles levam o que conseguem”, relata uma funcionária que trabalha na US há mais de oito anos.
Segurança fragilizada
Os trabalhadores da US acreditam que os responsáveis pelos furtos sejam usuários de drogas da região. “Até botijão de gás já levaram. Nem mesmo os sensores de alarme eles poupam”, explicam. Eles também reclamam da mudança no esquema de segurança nos últimos anos. “Antes, tínhamos pelo menos um guarda municipal durante todo o dia e outro durante a noite. Não havia ocorrências. Agora, há uma empresa de segurança privada que aparece quase meia hora depois que o alarme dispara. Mas vinte minutos são suficientes para os bandidos fazerem a limpa”, desabafa uma profissional de saúde.
Prefeitura admite casos, mas se diz atuante
“É verdade que a Unidade de Saúde Barigui, na CIC, tem sido alvo constante de arrombamentos. Mas sabemos que o grande problema é a segurança pública, que é deficitária”, afirma a diretora do distrito sanitário na Cidade Industrial de Curitiba, Cynthia Calixto Fraiz, mesmo tratando de um equipamento público, cuja responsabilidade de segurança é da Guarda Municipal. “Se não fosse pelo trabalho da Guarda, com rondas e vigilância em parceria com a empresa que nos presta serviço, a situação seria bem pior. Só que, nas ruas, quem trata de segurança pública é a Polícia Militar”, argumenta.
A gestora rebate as acusações de que os furtos têm prejudicado os atendimentos. “Os materiais são sempre repostos. Se não há disponibilidade no estoque da prefeitura, fazemos o remanejamento”. Ela afirma ainda que a administração municipal orienta os funcionários da rede pública de saúde a não utilizarem o próprio dinheiro para compra de equipamentos médicos ou itens de trabalho.
PM alega realizar ações diárias no entorno
Por meio de nota, a Polícia Militar informa que “faz patrulhamento rotineiro em via pública nas regiões onde estão localizados os postos de saúde, no entanto a responsabilidade da segurança no local (dentro) é da Guarda Municipal, tendo em vista que trata-se de assunto do município”. A corporação informa, ainda, que “nas imediações são feitas ações diárias, inclusive com novas viaturas, recebidas nos últimos dias”. O 23º Batalhão da PM, responsável pela CIC, participa da megaoperação impacto de combate à criminalidade desencadeada em toda Curitiba.