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O que fazer com bobinas vazias, pontas de vergalhões de ferro, pedaços madeiras, pedaços de canos e restos de fios que sobram das construções? A maioria das pessoas e construtoras jogaria tudo numa caçamba, para ser levado como lixo. Mas uma construtora de Curitiba, a A. Yoshii, está incentivando os seus trabalhadores a transformar estes materiais em móveis, acessórios e obras de arte. Em novembro, pelo menos 15 peças devem ser colocadas numa exposição. Por serem peças de design único, podem ser vendidas por muito mais que R$ 5 mil ou R$ 10 mil numa galeria de arte, por exemplo.

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O encanador Nelson de Oliveira, que trabalha nas obras do edifício La Serena Plaza España, no Ecoville, é um dos 12 colaboradores (carpinteiros, encanadores, pintores, pedreiros, ajudantes de pedreiros e armadores) que aceitaram participar do projeto Obra & Arte. Junto com mais quatro colegas, ele planejou e executou uma cadeira feita com uma bobina de fios vazia e restos de canos. Planejou, pensou num jeito que ficasse confortável (como a inclinação de 45º do encosto), verificou uma forma dela ficar segura (parafusou os canos em alguns pontos e pensou em conexões extras, para o encosto não ceder para trás) e colocou-se a serrar, encaixar, colar, parafusar e pintar.

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Assim saiu uma cadeira bonita, prática, confortável e perfeita para ambientes modernos. “Nunca imaginei que pudesse fazer cadeira com canos. Esse projeto abriu o meu entendimento de que dá para aproveitar aquilo que a gente joga fora. Ficou um serviço muito bom, bonito. E já tenho projetos para mais outras coisas”, conta Nelson, empolgado.

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Colegas de obra planejaram e executaram uma cadeira feita com bobina de fios vazia e restos de canos. Foto: Eduardo Bragança/Divulgação Yoshii

Eu, artista?

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O pedreiro Roniy da Silva Santos, que trabalha nas obras do edifício Maison Legend Ecoville, aproveitou uma tampa de tambor para fazer uma luminária em formato de pastel. O objeto está quase pronto, mas as ideias de outras peças estão transbordando em sua cabeça. “Nunca passou pela minha cabeça ser artista um dia”, contou ele.

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E a empolgação dos trabalhadores não fica só nos ateliês de arte, montados dentro dos canteiros de obra. A arte, por exemplo, invadiu a casa de Nelson. “Até minha esposa se ‘contaminou’ com isso. Ela já começou a criar, dizer que vai fazer isso e aquilo. Ontem eu cheguei em casa e vi uma mesa toda diferente que ela fez. E ela estava toda orgulhosa, dizendo que não era só eu que criava, mas que ela também sabia criar. Eu quero fazer parte desse projeto até o fim. Espero que não pare por aí, pois está fazendo bem para nós e para a sociedade. Tem muita coisa que as pessoas jogam por aí, dentro dos rios, que realmente podem ser aproveitadas. Então vamos usar a criatividade, botar a mente para funcionar”, incentiva Nelson, feliz porque além de encanador, agora também é chamado de artista.

Além da cadeira de Nelson, os trabalhadores têm trabalhado em pendentes, luminárias, mesas de centro, de jantar, poltronas e sofás, sem contar os objetos que eles querem manter “surpresa” até ficarem prontos. Charme de artista.

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Aprendizado em mão dupla

O projeto da construtora começou em novembro do ano passado, quando se juntaram a curadora de design Ticiana Martinez (coordenadora do projeto), os designers Aline Volpato e Alberth Diego, a arquiteta e produtora cultural Consuelo Cornelsen, o artista plástico Eduardo Bragança e o designer paulista Leo Capote. Eles formam o Coletivo Ôda, que se uniu para planejar como seria o projeto nos canteiros de obra da A. Yoshii. Depois, convocaram trabalhadores voluntários e, em junho, iniciaram os trabalhos “práticos”.

Trabalhadores fizeram workshop entre horários de trabalho e receberam conhecimentos de especialistas para desenvolverem os produtos. Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná

Intercalado entre os horários de trabalho na obra, o coletivo já realizou cinco workshops de troca de conhecimentos. Os especialistas passaram conhecimentos de design e arte aos trabalhadores e provocaram as mentes deles sobre a reutilização de materiais. Em contrapartida, os trabalhadores ensinaram os designers, arquitetos e artistas sobre ferramentas e formas de trabalhar com alguns materiais.

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Ressignificado

Simone Bianchi, presidente do Instituto A. Ioshii, se emociona ao perceber como os funcionários aprenderam a dar novo significado aos resíduos da obra, que antes eram considerados lixo, sem retorno. Desta forma, os trabalhadores passaram a olhar diferente os insumos que usam na construção.

“Ele vai manusear aquele produto de outra forma. Vai manter limpo, mais bem cuidado, para conseguir desenvolver a peça de arte que ele tem na cabeça. Ou olham algum objeto e imaginam o que poderiam criar com aquilo. A ideia é fazer com que cada peça seja feita com, no mínimo, 90% de insumos saídos das nossas obras”, explica Simone.

“Ele percebem que conseguem criar outras coisas, mais além de sua função na obra. Eleva a autoestima, faz ele pensar: eu faço parte dessa obra ou sou o artista dessa obra?”, ressalta ela.

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