Trânsito e flagrantes de desrespeito parecem trafegar juntos, inclusive na primeira Via Calma da capital, na Avenida Sete de Setembro, onde, desde julho, foi estabelecida velocidade máxima de 30 km/h e demarcadas áreas para os ciclistas. Tais novidades são atropeladas diariamente por parte da população que circula pela região, tanto que o número de motoristas autuados na via já ultrapassa 700, segundo o acompanhamento da Secretaria Municipal de Trânsito (Setran). E a quantidade de multas não traduz a realidade, já que não existe controle das infrações por parte de motoristas de ônibus e ciclistas.
O fato é que em menos de uma hora de observação é possível colecionar diferentes situações envolvendo desrespeito e imprudência em qualquer parte do trecho da Avenida Sete de Setembro onde foi implantada a Via Calma, entre a Rua Mariano Torres e a Praça do Japão. As canaletas exclusivas de ônibus continuam sendo utilizadas maciçamente pelos ciclistas.
Um dos principais argumentos dos ciclistas é justamente o desrespeito dos motoristas de automóveis que invadem a área demarcada para a circulação das bicicletas. Em dias chuvosos, além das canaletas, as calçadas também viram opções para quem anda de bicicleta, invadindo o espaço dos pedestres, completando o efeito dominó.
O pedreiro Aluísio da Silva, 59 anos, que durante a vida inteira preferiu a bicicleta como meio de transporte, diz que não se sente seguro em usar o espaço dos ciclistas nas pistas laterais. “Os motoristas nem consideram essa linha tracejada. Talvez as tartarugas evitassem um pouco, mas o que falta mesmo é respeito, pois eles tocam o carro em cima dos ciclistas”, constata.
Já quem está no volante afirma que os ciclistas não usam o espaço reservado. “As bicicletas continuam nas canaletas. Infelizmente, essa Via Calma só piorou o trânsito, deixou mais lenta a circulação dos carros e para quem precisa se deslocar para cá a trabalho é certeza de prejuízo”, avalia o empresário Douglas Francisco Horwat, 42 anos. Ele presta serviços de manutenção e entrega de componentes eletrônicos e percebe que, nos dias em que os atendimentos são na Sete de Setembro, sua produtividade cai significativamente pelo tempo perdido na Via Calma.
O comerciante Marcos Wagner Machado Aires, 40 anos, diz que a Via Calma não interferiu na sua rotina, mas que entre os clientes da sua lanchonete a mudança foi reprovada. “Deixou tudo mais lento e o povo está indignado, porque tranca tudo no fim da tarde, só que não tem mais volta”, declara. Segundo ele, quando a avenida não está congestionada, os carros cruzam as pistas laterais sem respeitar o limite de velocidade máxima de 30 km/h. “Aí os motoristas aproveitam para correr, pois a fiscalização não é constante”, observa.
De acordo com a assessoria de imprensa do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), o projeto de estender a Via Calma para as demais vias estruturais da cidade com canaletas está mantido. Porém, não existe previsão de qual será o próximo endereço, nem a data de início das alterações. Segundo o IPPUC, a ampliação das vias calmas depende de uma série de estudos em andamento e da viabilidade financeira para a execução do projeto.