Curitiba

Respeito pede passagem

Trânsito e flagrantes de desrespeito parecem trafegar juntos, inclusive na primeira Via Calma da capital, na Avenida Sete de Setembro, onde, desde julho, foi estabelecida velocidade máxima de 30 km/h e demarcadas áreas para os ciclistas. Tais novidades são atropeladas diariamente por parte da população que circula pela região, tanto que o número de motoristas autuados na via já ultrapassa 700, segundo o acompanhamento da Secretaria Municipal de Trânsito (Setran). E a quantidade de multas não traduz a realidade, já que não existe controle das infrações por parte de motoristas de ônibus e ciclistas.

Na Avenida Sete de Setembro, novidade ainda enfrenta resistência. (Felipe Rosa)
Na Avenida Sete de Setembro, novidade ainda enfrenta resistência. (Felipe Rosa)

O fato é que em menos de uma hora de observação é possível colecionar diferentes situações envolvendo desrespeito e imprudência em qualquer parte do trecho da Avenida Sete de Setembro onde foi implantada a Via Calma, entre a Rua Mariano Torres e a Praça do Japão. As canaletas exclusivas de ônibus continuam sendo utilizadas maciçamente pelos ciclistas.

Um dos principais argumentos dos ciclistas é justamente o desrespeito dos motoristas de automóveis que invadem a área demarcada para a circulação das bicicletas. Em dias chuvosos, além das canaletas, as calçadas também viram opções para quem anda de bicicleta, invadindo o espaço dos pedestres, completando o efeito dominó.

O pedreiro Aluísio da Silva, 59 anos, que durante a vida inteira preferiu a bicicleta como meio de transporte, diz que não se sente seguro em usar o espaço dos ciclistas nas pistas laterais. “Os motoristas nem consideram essa linha tracejada. Talvez as tartarugas evitassem um pouco, mas o que falta mesmo é respeito, pois eles tocam o carro em cima dos ciclistas”, constata.

viacalma_03Diariamente, ele usa a Avenida Sete de Setembro no trajeto entre a sua residência, no loteamento Rio Bonito, no bairro Campo de Santana, para chegar ao trabalho, na Praça Rui Barbosa, no Centro.

Já quem está no volante afirma que os ciclistas não usam o espaço reservado. “As bicicletas continuam nas canaletas. Infelizmente, essa Via Calma só piorou o trânsito, deixou mais lenta a circulação dos carros e para quem precisa se deslocar para cá a trabalho é certeza de prejuízo”, avalia o empresário Douglas Francisco Horwat, 42 anos. Ele presta serviços de manutenção e entrega de componentes eletrônicos e percebe que, nos dias em que os atendimentos são na Sete de Setembro, sua produtividade cai significativamente pelo tempo perdido na Via Calma.

arte_viacalmaEndereço do desabafo

O comerciante Marcos Wagner Machado Aires, 40 anos, diz que a Via Calma não interferiu na sua rotina, mas que entre os clientes da sua lanchonete a mudança foi reprovada. “Deixou tudo mais lento e o povo está indignado, porque tranca tudo no fim da tarde, só que não tem mais volta”, declara. Segundo ele, quando a avenida não está congestionada, os carros cruzam as pistas laterais sem respeitar o limite de velocidade máxima de 30 km/h. “Aí os motoristas aproveitam para correr, pois a fiscalização não é constante”, observa.

Na Avenida Sete de Setembro, novidade ainda enfrenta resistência. (Felipe Rosa)
Na Avenida Sete de Setembro, novidade ainda enfrenta resistência. (Felipe Rosa)

De acordo com a assessoria de imprensa do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), o projeto de estender a Via Calma para as demais vias estruturais da cidade com canaletas está mantido. Porém, não existe previsão de qual será o próximo endereço, nem a data de início das alterações. Segundo o IPPUC, a ampliação das vias calmas depende de uma série de estudos em andamento e da viabilidade financeira para a execução do projeto.

 

 

Sobre o autor

Magaléa Mazziotti

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