Remédio vital

Pode estar perto de um final feliz a longa batalha da promotora de eventos Léli Lourenço Córdova, 48 anos, pelos medicamentos que a mantêm viva. Ela tem um câncer incurável, e para impedir que os tumores se desenvolvam, precisa tomar diariamente o Tarceva (cloridrato de erlotinibe 150 mg), que custa mais de R$ 11 mil por mês.

Em setembro, Léli ganhou na Justiça o direito de receber o remédio da prefeitura de Curitiba, do governo do estado e da União, mas os três entes federativos recorreram. Apesar disso, o juiz manteve a obrigação dos réus de fornecer o fármaco até que a apelação seja julgada. Na última sexta-feira (19), Léli foi buscar a primeira caixa fornecida pelo Estado na Farmácia Popular do Paraná.

“Agora estou tranquila, mas apenas pelo momento, porque tenho o remédio. Espero não ter que entrar na Justiça novamente”, diz. Em dezembro, ela ganhou cinco caixas do medicamento, que dura um mês, redirecionadas de uma paciente que morreu. Com esta primeira unidade fornecida pelo governo, Léli tem remédio garantido até maio.

O julgamento do recurso de apelação não tem data prevista, de acordo com o advogado dela, Paulo César Bulotas. Mas as expectativas são otimistas. “Pela situação concreta e por outros casos semelhantes, a tendência é que o tribunal dê ganho de causa para a Léli”, explica.

O pior parece já ter passado. A Tribuna vem acompanhando o apuro da paciente que, desde janeiro de 2015, tem de se mobilizar, mês a mês, para conseguir o medicamento que garante sua sobrevida. Léli vendeu seu carro, contraiu vários empréstimos, fez rifas e bailes beneficentes. A solidariedade de familiares, pessoas próximas e desconhecidos foi essencial. “Nunca fui de receber nada dos outros. Sempre organizei eventos para casas de caridade, e depois me vi nessa situação, as pessoas tendo que me dar as coisas.”

Tratamento

Com o Tarceva, a promotora de eventos controla um câncer raro – o adencarcinoma de pulmão – que se espalhou para o cérebro. A droga “estaciona” os tumores, impedindo que se desenvolvam. Se fica dois dias sem o remédio, Léli começa a sentir dores, tonturas e convulsões. Desde que começou a tomá-lo, por várias vezes ela ficou até 15 dias sem o medicamento, por não conseguir comprá-lo.

Diagnosticada em junho de 2014, Léli passou por uma operação no mês seguinte, na qual teve mais da metade do pulmão retirado. Fez quimioterapia e radioterapia, e então passou a tomar o Tarceva. Em janeiro de 2015, o medicamento custava R$ 6 mil. Hoje, está saindo por cerca de R$ 11.200. Além dele, ela precisa de outros remédios, que custam mais de R$ 400 por mês e são pagos de seu bolso. “São troco perto do Tarceva”, diz Léli.
Atualmente, sua qualidade de vida está ótima. Voltou às atividades como promotora de eventos, faz exercícios físicos para fortalecer o pulmão e pode até viajar a trabalho. Feliz e ativa, ela torce para que o desgastante imbróglio jurídico tenha logo um fim.

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