“Solidão”. Foi assim que a aposentada Valeria Stempkowski definiu os últimos 55 anos da sua vida. Primogênita de uma família de sete filhos, sua infância foi muito difícil, ela viu seus irmãozinhos passarem necessidade e decidiu sair de casa aos 15 anos para diminuir a “carga” de seus pais.
“Nós morávamos em Cruz Machado, perto de União da Vitória, em uma baixada na zona rural, um local bem retirado. Meus pais eram fazendeiros e faziam o possível para sustentar a família, mas não era fácil. Então, decidi sair dali só com o dinheiro da passagem e recomeçar na cidade grande”, contou a idosa, hoje com 73 anos.
O destino final da viagem foi o município de Pitanga, onde a adolescente pediu emprego em um hotel. “Eu entrei e vi um casal sentado. Perguntei se eles tinham serviço pra mim, mas eles eram hóspedes e me apresentaram para o pessoal da cozinha. Acabou dando certo e eu passei a ajudar enxugando louça e auxiliando no que eles precisavam. Depois, fui trabalhar na casa de uma família na mesma cidade”.
Valéria permaneceu no município até os 18 anos e, nesse período, teve oportunidade de visitar sua família duas vezes. Porém, enquanto estava longe, os parentes se mudaram para a cidade de Roncador e eles nunca mais tiveram contato com a filha mais velha. “Acabei vindo para Curitiba e passei toda minha vida aqui. Eu ia em bailes, tinha amigas, trabalhava em casas de família, mas sentia falta dos meus pais e irmãos”.
O tempo foi passando e, aos 64 anos, foi morar em um quarto de 5 metros quadrados, em um hotel na Rua Senador Alencar Guimarães, no Centro de Curitiba. Ali, a aposentada guardava todos os seus pertences em algumas malinhas, era vista sempre sozinha, não falava muito e nunca recebia visitas.
Reencontro
“Um dia, fiquei sabendo que as pessoas podiam ir na Praça Santos Andrade toda segunda-feira para procurar parentes. Então, me arrumei e cheguei às 11h30 para pedir ajuda porque queria muito reencontrar meus irmãos”. A informação foi divulgada no quadro ‘Desaparecidos‘ do Paraná TV, da RPC, e também foi publicada na seção ‘Ajude a Encontrar‘, da Tribuna.
Muitas pessoas tiveram acesso à solicitação e auxiliaram na busca, que terminou de maneira emocionante. Na tarde da última quarta-feira (5), Valéria foi convidada para participar de uma nova reportagem e, durante a entrevista, teve oportunidade de abraçar sua irmã Wanda Stempkoski, 63, e a sobrinha Elizeia Natalia Stempkoski, 40. “Em 2001, nós tínhamos recebido a notícia de que a Valéria havia falecido, mas eu nunca perdi a esperança de reencontrá-la. Agora, isso aconteceu”, relatou a irmã Wanda.
Segundo ela, um dos irmãos faleceu ano passado, no município de Cascavel, enquanto os pais viveram até 1998. “Mas nós temos contato com todos os outros irmãos e eles também querem conhecê-la. Ela não ficará mais sozinha”, prometeu.
Para Valéria, o reencontro foi único e sinaliza o recomeço que ela tanto esperou. “Tudo será diferente. Então, só tenho que agradecer e aproveitar para conversar muito com elas porque histórias não vão faltar”, finalizou.