A Área Calma concentra a maioria dos radares campeões de multas em Curitiba no primeiro trimestre de 2017. Segundo a Secretaria Municipal de Trânsito (Setran), seis dos dez equipamentos que mais registraram infrações este ano ficam no perímetro dos 140 quarteirões da região central onde a velocidade está limitada a 40 km/h. O ranking é encabeçado pelo radar da Rua Luiz Leão com a Avenida João Gualberto, no Centro. Somente no sentido Centro Cívico, registrou 4.177 multas. No sentido Círculo Militar, são mais 1.745 flagrantes no período.
A gestão Gustavo Fruet (PDT) apontou redução de 33% em acidentes nos 11 primeiros meses após a implantação da medida, em novembro de 2015. Dados mais recentes sobre o número de ocorrências nos pontos com radares do anel central não foram divulgados pela atual administração. Mas a gestão Rafael Greca (PMN) já sinalizou que tanto os radares como a Área Calma podem passar por modificações.
Na campanha eleitoral, em entrevista à Tribuna do Paraná, Greca afirmou que pretendia rever a velocidade praticada na Área Calma e nas Vias Calmas, onde o limite é de 30 km/h, com a possibilidade de aumentar o limite, para dar mais fluidez ao trânsito. Questionada agora sobre critérios, prazos e como será feita esta mudança, a prefeitura informou apenas que “a atual gestão ainda está estudando o programa para ver ser haverá alguma adequação e ressaltou que qualquer alteração vai levar em conta a segurança no trânsito, tanto de pedestres e ciclistas, como carros de passeios e o transporte público”.
Prós e contras
Entre a população, as opiniões sobre as formas de fiscalizar o trânsito e prevenir acidentes se dividem. Para a estoquista Michele de Castro, 33 anos, que já sofreu um atropelamento quando andava de bicicleta no Pilarzinho, onde mora, os radares e a limitação de velocidade nas vias podem proteger as pessoas. “Com a Área Calma, é melhor para os pedestres. É necessário e os radares deveriam estar nos bairros também. Em muitos bairros acontecem acidentes e não há radares ou lombadas eletrônicas”.
Já o administrador Aílton Filho, 60, acredita que os radares sejam para arrecadar dinheiro. “Não tem o porquê de tanto radar na cidade. Mas na Área Calma a velocidade de 40 km/h está boa, na maioria dos locais do Centro eles podem prevenir acidentes. Mas bom mesmo seria melhorar a sinalização e tirar muitos radares da cidade, eles podem atrapalhar o trânsito”.
Novos equipamentos
Curitiba tem 230 radares em funcionamento. Pela utilização destes equipamentos, desde 2013, o município paga R$ 464 mil por mês à empresa Consilux. Para o vereador Tico Kuzma, o custo mensal com os radares precisa ser diminuído, a exemplo do que aconteceu em 2012, quando o município desembolsava R$ 739 mil à dona dos equipamentos. Em 2011, o ex-prefeito Luciano Ducci encampou os radares, após denúncia de irregularidades com licitações ganhas pela Consilux.
Segundo a prefeitura, está em andamento desde junho de 2016 uma nova licitação para contratar uma empresa que fiscalize automaticamente o trânsito, forneça os dados de tráfego, opere e faça a manutenção dos radares. Ação que segue uma recomendação do Tribunal de Contas.
Em nota, a prefeitura afirmou que os novos radares serão mais modernos e eficientes. “Serão equipamentos com tecnologia de sensor de piso (laços indutivos) para fiscalização de excesso de velocidade, avanço de sinal, parada sobre a faixa e demais enquadramentos. (A licitação) será na modalidade pregão eletrônico, onde apenas a empresa vencedora (menor valor) passará pelos testes de amostra”.
Segundo levantamento do Livre.Jor, a nova tecnologia pode elevar este custo com os radares a R$ 1,6 milhão mensais. A prefeitura limitou-se a dizer que as despesas serão maiores. “O investimento é maior, tendo em vista que o valor pago pela ocupação não representa o valor praticado pelo mercado. A fiscalização eletrônica complementa o trabalho dos agentes de trânsito, bem como, tem por objetivo intensificar a fiscalização da via, de forma que os veículos mantenham a velocidade máxima permitida, consequentemente, diminua acidentes e os traumas”.
RADARES CAMPEÕES DE MULTAS
De janeiro a março de 2017:
1. Rua Luiz Leão esquina com Av. João Gualberto (sentido Centro Cívico): 4.177
2. Rua André de Barros com Rua João Negrão: 3.637
3. Av. Marechal Floriano com Rua João Viana Seiler (Centro-Bairro): 2.530
4. Rua Inácio Lustosa com Rua João Manoel: 2.516
5. Av. Marechal Floriano com Rua Marechal Deodoro: 1.789
6. Av. Marechal Floriano Rua João Viana Seiler (Bairro-Centro): 1.786
7. Rua Mariano Torres (pista da esquerda) com Rua Marechal Deodoro: 1.769
8. Rua Luiz Leão com Av. João Gualberto (sentido Círculo Militar): 1.745
9. Av. Comendador Franco, próximo à Av. Salgado Filho (sentido Centro Bairro): 1.682
10. Rua Marechal Octávio Saldanha Mazza, 8038: 1.627
FALA, POVO
“O radar ajuda (a prevenir acidentes), se o cara estiver atento ajuda, mas o fato que é muitos esquecem, porque não tem a sinalização e eles freiam em cima. É melhor ter o radar, o pessoal corre bastante se não tiver. É melhor para os pedestres. Mas ter uma sinalização próxima, placas ou faixas amarelas, ajudaria bastante”
Vitor Ângelo Amaral, consultor de vendas, 28 anos.
“Serve para evitar acidentes e arrecadar multas. Quando mexe no bolso do cidadão, ele pensa antes de fazer besteira. Já fui multado. Se o cara passa distraído, toma multa. Se ele sabe que tem o radar, reduz. Mas tem que ter radar”
Diego Rangel Cordeiro, motoboy há quatro anos.
“Eu acho uma vergonha esses radares, porque eles multam a gente e às vezes, a gente nem tem tanta culpa, tem que ficar muito atento. Está complicado em Curitiba. Não há a necessidade de tantos radares assim, são de certa forma convenientes, mas não da maneira como está”
Marcelo Mendes, vendedor, 55 anos.
“Eu acho que tem (radares) demais. É uma questão cultural, as pessoas têm que ter mais responsabilidade ao volante. Já fui multada aqui (Av. Marechal Floriano com Rua João Viana Seiler), no dia que eles colocaram, e eu não vi”
Edna Andreiu, bancária, 54 anos.
“Acredito que ele educa, a pessoa que tem consciência vai manter e não vai ter que frear no radar. Ela vai seguir na velocidade que a via permite. Eles são úteis, são uma forma de educar”
Valdo Machado, vendedor autônomo, 45 anos.
“Eu moro aqui há 20 anos e nunca vi muitos acidentes nesta quadra aqui.A 40 km/h, acho uma forma de arrecadar dinheiro. Na quadra de cima, próximo à Rua João Parolin, já vi diversos acidentes, inclusive capotamentos e lá não tem radar. Foram mal alocados estes radares, na quadra de cima seria bem mais útil” (Sobre o radar da Av. Marechal Floriano com a Rua João V. Seiler)
Rodrigo Guimarães, personal trainer, 33 anos.