A placa improvisada, pendurada no guidão de uma velha bicicleta Barra Forte vermelha anuncia: “uber: R$ 1,00 – km”. Pedestres curiosos se perguntam quem seria o dono da bike, amarrada ao poste em frente à Praça Generoso Marques, no Centro de Curitiba. Não demora muito para que Eloi Valentim Andrade, 58 anos, apareça, trazendo mais uma encomenda a ser transportada na cestinha da bicicleta e entregue em algum ponto de Curitiba. Do Boqueirão ao Campo Comprido, das Mercês ao Bairro Alto. Nenhuma distância é grande demais para ele, que há 8 meses teve a ideia de fazer entregas de bicicleta – ou “Uber Bike”, como diz – após perder o emprego.
“Seu Eloi”, como é conhecido, teve uma vida simples. O ponta-grossense trabalhou boa parte da vida na lavoura e veio morar em Curitiba depois que se casou. Aqui, trabalhou por anos como barman em um bar tradicional da cidade. “O casamento não deu certo e eu fui demitido. Meus filhos tocaram a vida e fiquei desamparado. Decidi começar a fazer entregas de bike para conseguir pagar as contas”, contou.
Munido somente da velha bicicleta, Eloi teve a criatividade como principal aliada. Duas plaquinhas penduradas à bike informam o preço cobrado pelo serviço: R$ 1 por quilômetro. Para fazer os carregamentos, um caixote de plástico amarrado firmemente à garupa, faz a vez de “caçamba”. Aí foi só escolher o “ponto”. O local estratégico fica no coração da cidade, em um dos principais pontos turísticos de Curitiba – o Paço da Liberdade. Próximo ao polo comercial da Rua XV, não demorou para que seu Eloi fosse notado.
Miguel Filho foi o primeiro cliente do serviço. O empresário do ramo de calçados já conhecia o ciclista e resolveu dar o primeiro empurrãozinho para ajudar o amigo. “Um calçado estava em falta na minha loja do Boqueirão. Chamei o Eloi para fazer a entrega, partindo da loja da Rua XV, e desde então sempre procuro o serviço quando preciso”, afirma. Aos poucos, mais clientes foram chegando, e hoje a média é de oito entregas por dia. No pedal, o ciclista percorre em média 150 quilômetros todos os dias, e na cesta improvisada, as cargas vão desde galões de água a pilhas de revistas.
Contas pagas
Se engana quem pensa que as longas distâncias percorridas e a hostilidade do trânsito de Curitiba desanimam o ciclista. Com quase 60 anos, ele afirma nunca antes ter tido tanta disposição. “A saúde vai de vento em popa. Conheço muita gente e vou fazendo amigos pelo caminho”, afirma. Apesar do valor baixo cobrado pelo serviço, Eloi garante que tem conseguido pagar as contas, mas a ajuda dos clientes faz toda a diferença. “Não sobra. O dinheiro dá certinho pra pagar as contas. O bom é que muita gente acaba contribuindo com um pouco mais sobre o valor cobrado por quilômetro”, conta.
Para continuar trabalhando, Eloi agora tenta guardar dinheiro para comprar uma bike nova. Para “aguentar o tranco” pelas ladeiras da cidade, ele espera conseguir juntar a quantia suficiente para comprar uma bicicleta de marcha. “Uma bike mais forte melhoraria muito a qualidade do meu serviço. Eu conseguiria chegar mais rápido aos destinos e, consequentemente, fazer mais entregas”, afirma.
Sobre a expansão do negócio, Eloi afirma ir bem sozinho. Novas parcerias, porém, não estão descartadas. “Ate dá pra conversar, mas pra ser ‘uber bike’ tem que ter disposição”, brincou.