R$ 1 por km

A placa improvisada, pendurada no guidão de uma velha bicicleta Barra Forte vermelha anuncia: “uber: R$ 1,00 – km”. Pedestres curiosos se perguntam quem seria o dono da bike, amarrada ao poste em frente à Praça Generoso Marques, no Centro de Curitiba. Não demora muito para que Eloi Valentim Andrade, 58 anos, apareça, trazendo mais uma encomenda a ser transportada na cestinha da bicicleta e entregue em algum ponto de Curitiba. Do Boqueirão ao Campo Comprido, das Mercês ao Bairro Alto. Nenhuma distância é grande demais para ele, que há 8 meses teve a ideia de fazer entregas de bicicleta – ou “Uber Bike”, como diz – após perder o emprego.

Após ficar desempregado, barman sobrevive das entregas com a bike. Foto: Daniel Caron
Após ficar desempregado, barman sobrevive das entregas com a bike. Foto: Daniel Caron

“Seu Eloi”, como é conhecido, teve uma vida simples. O ponta-grossense trabalhou boa parte da vida na lavoura e veio morar em Curitiba depois que se casou. Aqui, trabalhou por anos como barman em um bar tradicional da cidade. “O casamento não deu certo e eu fui demitido. Meus filhos tocaram a vida e fiquei desamparado. Decidi começar a fazer entregas de bike para conseguir pagar as contas”, contou.

Eloi cobra R$ 1 por quilômetro rodado. Foto: Daniel Caron
Eloi cobra R$ 1 por quilômetro rodado. Foto: Daniel Caron

Munido somente da velha bicicleta, Eloi teve a criatividade como principal aliada. Duas plaquinhas penduradas à bike informam o preço cobrado pelo serviço: R$ 1 por quilômetro. Para fazer os carregamentos, um caixote de plástico amarrado firmemente à garupa, faz a vez de “caçamba”. Aí foi só escolher o “ponto”. O local estratégico fica no coração da cidade, em um dos principais pontos turísticos de Curitiba – o Paço da Liberdade. Próximo ao polo comercial da Rua XV, não demorou para que seu Eloi fosse notado.

Miguel Filho foi o primeiro cliente do serviço. O empresário do ramo de calçados já conhecia o ciclista e resolveu dar o primeiro empurrãozinho para ajudar o amigo. “Um calçado estava em falta na minha loja do Boqueirão. Chamei o Eloi para fazer a entrega, partindo da loja da Rua XV, e desde então sempre procuro o serviço quando preciso”, afirma. Aos poucos, mais clientes foram chegando, e hoje a média é de oito entregas por dia. No pedal, o ciclista percorre em média 150 quilômetros todos os dias, e na cesta improvisada, as cargas vão desde galões de água a pilhas de revistas.

Ponto de Eloi fica na Praça Generoso Marques. Foto: Daniel Caron
Ponto de Eloi fica na Praça Generoso Marques. Foto: Daniel Caron

Contas pagas

Se engana quem pensa que as longas distâncias percorridas e a hostilidade do trânsito de Curitiba desanimam o ciclista. Com quase 60 anos, ele afirma nunca antes ter tido tanta disposição. “A saúde vai de vento em popa. Conheço muita gente e vou fazendo amigos pelo caminho”, afirma. Apesar do valor baixo cobrado pelo serviço, Eloi garante que tem conseguido pagar as contas, mas a ajuda dos clientes faz toda a diferença. “Não sobra. O dinheiro dá certinho pra pagar as contas. O bom é que muita gente acaba contribuindo com um pouco mais sobre o valor cobrado por quilômetro”, conta.

Ex-barman sonha com uma bike nova. Foto: Daniel Caron
Ex-barman sonha com uma bike nova. Foto: Daniel Caron

Para continuar trabalhando, Eloi agora tenta guardar dinheiro para comprar uma bike nova. Para “aguentar o tranco” pelas ladeiras da cidade, ele espera conseguir juntar a quantia suficiente para comprar uma bicicleta de marcha. “Uma bike mais forte melhoraria muito a qualidade do meu serviço. Eu conseguiria chegar mais rápido aos destinos e, consequentemente, fazer mais entregas”, afirma.

Sobre a expansão do negócio, Eloi afirma ir bem sozinho. Novas parcerias, porém, não estão descartadas. “Ate dá pra conversar, mas pra ser ‘uber bike’ tem que ter disposição”, brincou.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna