Aulas de ballet, biblioteca, teatro e sessões de cinema. Tudo de graça. O que pode soar como um privilégio para poucos está bem perto de se tornar realidade para centenas de moradores dos bairros Campo de Santana e Tatuquara, em Curitiba. A iniciativa que nasceu no coração da artesã, Luciana Cortez, faz parte da ONG “Lucianas e Marias” que, há mais de 2 anos, promove ações educativas e de assistência em diversos bairros da cidade. Comprometido pela ação de vândalos que há algumas semanas invadiram a sede da ONG, o projeto está parado e, sem recursos para reconstruir o que foi danificado, Luciana conta com a solidariedade para continuar o trabalho.
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“Desistir jamais”, disse a artesã quando questionamos como se sentia diante da sala inundada e dos materiais de doação destruídos. Engajada em trabalhos de assistência social há mais de dois anos, Luciana recebeu a equipe da Tribuna numa manhã de quarta-feira, no bairro Campo de Santana, onde mora. Acostumada aos desafios, ela conta apenas com a ajuda de doações para manter o projeto. “Como oficializamos a entidade há menos de um ano ainda não recebemos insumos do governo. Por isso, toda a ajuda é bem-vinda”, afirma.
Comprometida com a comunidade local, a família Cortez é conhecida na região, principalmente pela iniciativa de Luciana que começou a atender voluntariamente no Conselho de Saúde da Unidade Rio Bonito há algum tempo. Paciente de depressão e síndrome do pânico desde a infância, Luciana transformou seus problemas pessoais em solução para vítimas das mesmas mazelas. Com uma ideia simples, a voluntária conseguiu dar voz a mais de 26 mil pessoas que se julgavam esquecidas pela administração pública por meio do seu primeiro projeto intitulado “Uma Carta para Mudar”. “Distribuímos caixas em diversos pontos do bairro para que as pessoas depositassem cartas desabafando sobre os problemas de estrutura e segurança que julgavam graves pela região. No começo não achavam que daria certo mas depois que protocolamos as cartas junto ao poder público conseguimos atenção”, diz.
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Mesmo questionada e alvo de críticas, Luciana defendeu a ideia. “Me perguntavam qual era a relação do buraco na rua ou da falta de iluminação, por exemplo, com a saúde pública. ‘Total’, eu respondia. Uma vez que a infraestrutura urbana está diretamente ligada à qualidade de vida das pessoas, o mínimo de condição é essencial para a manutenção da saúde em todos os aspectos”, afirma.
Com destaque na imprensa local e aclamação da vizinhança, a principal iniciativa de Luciana, no entanto, partiu das linhas e agulhas. O que começou como simples distração para passar o tempo e acalmar os ânimos, hoje conta com estrutura institucional e virou sinônimo de oportunidade para centenas de pessoas. Tudo começou na garagem de casa, onde a artesã se sentava durante as tardes para crochetar. A técnica chamada “amigorumi”, até então, só lhe servia de passatempo. “Eu ia crochetando e deixava algumas peças para secar ao sol na frente de casa. Uma dia uma vizinha passou e pediu que eu a ensinasse. Ela passou uma tarde comigo e aprendeu a fazer uma florzinha. Logo a ideia se espalhou e eu comecei a receber a mulherada aqui na garagem de casa mesmo”, revela.
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Vaquinha pra reconstrução
Flores, mascotes e até uma bicicleta em tamanho real. Por onde passa, o artesanato chama a atenção. Tanto é verdade que já foi exibido em diversas exposições institucionais e públicas pela cidade. Nas mais recentes, em celebração ao Dia Mundial do Crochê e à Semana da Consciência Negra, uma das figuras de maior destaque foi a mulata em tamanho real feita de crochê da cabeça aos pés. Reconhecida, a ONG “Lucianas e Marias” visita escolas, igrejas, unidades de saúde e Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) de diversos bairros, promovendo aulas gratuitas de artesanato para públicos de todas as idades. A estimativa é de que mais de 200 pessoas passem, mensalmente, pelas mãos das 12 voluntárias do projeto.
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Com planos de expandir o trabalho que já desenvolve há muito tempo, o próximo passo da família Cortez seria abrir a sede da ONG para a promoção de atividades gratuitas para crianças como ballet, dança, teatro e artes marciais. Situado há algumas quadras de sua casa, o local foi invadido no começo do mês por vândalos. “Entraram pelo telhado e estouraram a caixa d’água. Arrebentaram tudo e alagou quase todo o material de doação que tínhamos guardado”, revela, apontando para um varal improvisado no quintal da casa. “Salvamos o que deu”, diz, mostrando três ou quatro roupinhas de criança estendidas. Na parte interna, o cheiro de mofo toma conta dos cômodos ocupados por caixas de livros, manequins e brinquedos. “Jogamos duas caixas cheias de livros. Tudo que tínhamos planejado fazer aqui teve que ser suspenso”, lamenta.
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Com a ideia de transformar o espaço num centro de apoio à comunidade, Luciana e o marido, Fernando, tinham planos de iniciar as atividades no local, que é patrimônio da própria família e seria cedido gratuitamente para o projeto, ainda no primeiro semestre do ano que vem. Entre os “pontos altos”, estavam as sessões de cinema, improvisadas com retroprojetor na garagem da casa: tudo comprometido pela invasão recente.
Para reconstruir o que foi danificado, o grupo organizou uma vaquinha online cujo objetivo é arrecadar R$10 mil para os reparos na sede. “Doar é um dos elos capazes de fortalecer uma família, um grupo e até mesmo uma comunidade. Qualquer colaboração ou ajuda será mais que bem vinda. Fortalecerá a esperança de quem mais precisa”, finaliza Luciana.
Conheça o trabalho da ONG: www.facebook/lucianasemarias.com.br
E-mail: lucianasemarias@gmail.com
Whatsapp: 41- 99616-1505
Vaquinha online: https://www.vakinha.com.br/vaquinha/ong-lucianas-e-marias
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