As paralisações desta quarta-feira (15), que seguem um movimento de greve geral nacional e que envolvem diversas categorias de trabalhadores, como funcionários do transporte coletivo, professores estaduais e municipais, bancários, entre outros servidores, afetaram significativamente a vida da população de Curitiba e região, que ficou sem acesso a diversos serviços. Pelas ruas da capital, muitas lojas e estabelecimentos de prestadores de serviço abriram mais tarde e outras sequer abriram. Outro transtorno foi o intenso trânsito em muitas ruas.

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Sem busão

Foto: Giuliano Gomes

Para o garçom João Carlos Silva Araújo, 64 anos, o jeito foi pedir carona, para não perder seu horário com o médico. “Moro na Vila São Paulo, no Uberaba e hoje levamos mais de 45 minutos para chegar de carro, tinha muito trânsito. Normalmente levo meia hora, de ônibus. E não vou conseguir nem ir trabalhar. Dependo de dois ônibus, meu patrão já está avisado. Mas o médico eu não podia faltar. Vim e se precisar, volto a pé para casa. Sobre a greve, eu acho que o povo está cansado, que não aguenta mais tanta roubalheira e injustiça”.

Lucinéia mora em Rio Branco do Sul e veio pra Curitiba de carona.

A assistente de atendimento ao cliente Lucinéia Garcia dos Santos, 39, também enfrentou dificuldades por não haver ônibus em circulação. “Moro em Rio Branco do Sul, estou na rua desde as 7h30 e só agora, depois das 10h, estou chegando ao trabalho. A empresa chegou a fornecer um ônibus para pegar a gente, mas devido ao trânsito ele atrasou, por isso vim de carona. Um vizinho me viu no ponto e ofereceu. Acho que a greve não é boa para as empresas, mas o Brasil está precisando. Tem muita coisa fora do lugar, e os governantes poderiam usar este dia para pensar na população”, opina.

Victor: acho que umas 200 pessoas faltaram hoje

Conseguir passar pelas ruas bloqueadas para a passagem dos manifestantes, no Centro. Este foi um dos problemas enfrentados por Victor Augusto da Silva, 21, funcionário de uma empresa de cobrança. “Tenho que buscar um pessoal para vir para a empresa, funcionários que moram em Fazenda Rio Grande e que não conseguiram chegar ao trabalho, porque não tem ônibus nas ruas. Tenho que pegar meu carro para ir buscá-los, mas está tudo bloqueado, não consigo passar pelo protesto. Só na minha área dentro da empresa, acho que umas 200 pessoas faltaram hoje”.

No prejuízo

Foto: Giuliano Gomes
Denis conta que a paralisação prejudicou o comércio
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Outro impactado com as paralisações foi o cabeleireiro Denis Ferreira, 31. “Deu uma diminuída no movimento. Normalmente temos mais clientes no salão neste horário. Pelo menos metade do pessoal que trabalha com a gente não chegou. Isto gera um prejuízo. Pra quem é registrado, vale correr atrás dos seus direitos, mas para nós, para o comércio, é ruim, não temos como ficar em casa”.

José: o movimento caiu bastante.

“Para a gente o movimento caiu bastante, as vendas já estão fracas. Tá complicado trabalhando, imagina então se fecharmos. E as contas continuam chegando. Mas acho que tem que ter greve sim. Para os trabalhadores reivindicarem seus direitos, só resolve se for assim”, afirma o atendente José dos Santos, 28, que trabalha em uma banca de revistas no Centro.

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E nem mesmo o aumento no número de carros nas ruas, por conta da greve dos motoristas e cobradores, aumentou a procura por vagas em um estacionamento particular. “Piorou o movimento. O pessoal acabou não vindo para o Centro, nem de carro. Quem conseguiu veio de carona. Aqui, os funcionários chegaram porque a empresa pagou a gasolina, e muitos vieram juntos. Mas tá certo, a greve é justa e válida”, ressalta o gerente Luís Fernando Ribeiro, 30.

Sérgio: O trânsito está péssimo.

Taxista há 15 anos, Sérgio Rodrigues, 48, conta que a greve não ampliou a procura de forma expressiva. “Estou na rua desde as 5h30 e, pela manhã, o movimento aumentou, mas não muito. Não está essa coisa toda. Eles (Urbs) liberaram muitos carros particulares e ainda tem o Uber, tem muito carro na rua. Já o trânsito está péssimo, principalmente perto da Rodoviária. Mas os trabalhadores estão certos, tinha que parar tudo, fazer uma greve geral mesmo, para chamar a atenção do governo. Eu também não concordo com a Reforma da Previdência”, diz.

Com medo dos juros

Já a dona de casa Clara Marcelina Ishi, 60, não achou um local para pagar uma parcela do carnê do INSS. “Os bancos estão fechados, vou ver se acho uma lotérica funcionando. E se não fizer o pagamento em dia, tem a cobrança de juros. Ainda vai demorar muito para eu possa me aposentar, e com estas reformas, não sei como vai ser. Fico na dúvida se pago ou não pago o INSS todos os meses, esse é um dinheiro suado, que faz falta no fim do mês”, conta.

Lutas

Foto: Giuliano Gomes
Ione: não queremos nada além do que já existe

Moradora de Três Barras (PR), cidade situada a cerca de 600 km de distância de Curitiba, a professora estadual de ensino médio e fundamental Ione Aparecida Bresola Rocha, 50, veio à capital paranaense para protestar contra as medidas adotadas pelo governo estadual. “Saímos à meia-noite e chegamos aqui às 9h. Como professora, minha principal reinvindicação é que o Estado mantenha nossos diretos já adquiridos, como aposentadoria, data-base, progressões e hora-atividade. Hoje, temos um dia a dia difícil em sala de aula, com mais de 30 a 40 alunos por turma. E é humanamente impossível conseguir educar e passar conhecimentos para estes estudantes. Precisamos manter nossos diretos, não queremos nada além do que já existe”.

Também em greve, a educadora social municipal Elaine Murmel, 45, luta pelos direitos da categoria. “A gente veio principalmente pela questão da aposentadoria, somos contra a Reforma da Previdência, pelo menos da maneira que ela foi apresentada, que não é a ideal. Mas assim como outros servidores municipais, também temos nossas reivindicações. No dia 31 de março vence nossa data-base e o prefeito Rafael Greca não quer nem mesmo oferecer a reposição da inflação. Sabemos das dificuldades da prefeitura, mas todos têm o direito de receber pelo menos a diferença da inflação”.

Malabarismos

Cleberson: “lotação” do sogro. Foto: Átila Alberti

Sem ônibus, o povo teve que fazer malabarismos para se locomover durante o dia. O analista de sistema Cleberson Gabardo, 36 anos, e a esposa pediram carona para o pai dela. “Nós moramos no Uberaba e eu trabalho no Jardim Botânico. Foi tranquilo, ele não reclamou nem nada de ajudar. Fez uma lotação e entregou todo mundo. A única coisa é que se os ônibus não voltassem eu ia ter que chamar um carro do Uber pra voltar pra casa‘.

 

Mauricio: a pé do Carmo ao Capão da Imbuia. Foto: Átila Alberti

Já o maquinista Maurício Molinari, 40, estava na casa da namorada, perto do terminal do Carmo, e veio a pé até o terminal Capão da Imbuia. “Foi a primeira vez que fiz isso na vida. Levei umas quatro horas e meia, tive que parar várias vezes para tomar água, mas foi até bom porque eu acho que emagreci. Agora que normalizou um pouco, vou de ônibus para casa, no Alto Maracanã, em Colombo‘, relatou, no fim da tarde. (Colaborou Daiane Andrade)