Um dos locais onde os boatos de raptos de crianças parecem ter sido mais intensos foi Quatro Barras, município da região metropolitana de Curitiba. Mães desesperadas, e até o Conselho Tutelar, foram parar na delegacia. Mas o delegado local, Luiz Carlos de Oliveira, explica: os casos que chegaram à polícia foram todos averiguados e nenhum era verdadeiro. Ele inclusive alerta à população, assustada com a boataria, que não acabe fazendo justiça com as próprias mãos e prejudique um inocente.
“Os boatos vêm gerando muito desconforto e insegurança às famílias. Mas antes de passar uma informação adiante, as pessoas devem checar aquilo. Devem ir ao local, procurar os vizinhos, sentir o comportamento da pessoa que enviou o áudio. Por causa deste desconforto todo, qualquer elogio de um estranho hoje a uma criança está sendo confundido com sequestro”, lamenta o delegado.
Por causa do pânico que se instalou entre pais e mães, ele recebeu em sua delegacia algumas mães noticiando tentativas de sequestros. Num dos casos, ocorrido próximo à Escola André Andreata, diz ele, a mãe ouviu um relato de tentativa de rapto, ficou apavorada, e quando um carro preto passou próximo dela (igual ao que ela tinha ouvido falar no boato), pensou que ela e sua criança estavam sendo vítimas de rapto.
No outro caso, disse o delegado, a mãe procurou a polícia dois dias depois do ocorrido e ainda negou-se a ir ao local onde tinha acontecido o fato. Descobriu-se que ela confundiu uma tentativa de venda de um carrinho de bebê, que ofereceram a ela, com sequestro a seus filhos.
Rapto ou sequestro?
Luiz Carlos prefere substituir o termo rapto por sequestro. E explica que o sequestro tem uma estrutura totalmente diferente do que está sendo noticiado nos áudios de WhatsApp. “Não existe sequestro na força bruta. Quem vai fazer um trabalho de quadrilha, para sequestrar uma criança para qualquer fim, tem todo um planejamento”, alerta ele.
Mas independente disto, toda criança deve estar sempre sendo cuidada. “Lembre que atrás de uma bola, sempre vem uma criança. Em todo córrego, rio ou lago, sempre tem uma criança querendo brincar de barquinho. Criança não tem capacidade intelectual de presumir o perigo”, diz ele.
Mas, num caso de possível sequestro, há algumas atitudes que podem ser tomadas. Luiz Carlos aconselha os pais a fazerem muito escândalo, gritar, gesticular, pedir ajuda, ir atrás do suspeito. A atitude vai chamar a atenção de outras pessoas, que partirão para ajuda-lo. “Também é preciso controlar o pânico e observar as características dos suspeitos, ver placas, para que lado foram. Procurem dados que possam robustecer a investigação da polícia. É claro que ninguém vai se expor arriscando a vida. Mas dados robustos são importantes para a elucidação de um crime”, orienta o delegado.
Não chegue a extremos!
O delegado Luiz Carlos de Oliveira teme que, por causa dos boatos, as pessoas queiram fazer justiça com as próprias mãos e acabem machucando um inocente. Como exemplo disto, ele mostra o caso Fabiane Maria de Jesus, 33 anos, dona de casa, mãe de duas filhas, que foi linchada no Guarujá, litoral paulista, em 2014, após ser confundida com a mulher mostrada num retrato falado, que era procurada por sequestrar crianças com fins de magia negra. Os criminosos foram identificados e pegaram entre 25 e 40 anos de prisão.
“Como delegado, é meu dever evitar que casos extremos como este ocorram”, diz Luiz Carlos, preocupado com a comoção que os boatos dos raptos causaram em Quatro Barras.