A Piscina dos Padres, como é conhecida a área de lazer aquático Recanto Santo Antônio, que pertence à Ordem dos Capuchinhos e fica em Almirante Tamandaré, na Região Metropolitana de Curitiba, está fechada desde o fim da temporada do verão de 2018. E não há previsão para reabrir.

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A informação é dos próprios freis, que decidiram repensar a administração do espaço, quando o contrato de locação com a família que cuidava da piscina há mais de 30 anos venceu. Especula-se que a área possa ser repassada para um grupo gestor de parques ou ser fechada em definitivo para revenda de água mineral. Depois da notícia, visitantes reclamam que ficaram sem opção de lazer.

Joao Márcio Murbach, músico e analista de sistemas, era usuário frequente. Bastava o tempo esquentar no fim de semana para a “barca” partir com a esposa e amigos. “Frequento desde 2012, quando o preço da entrada ainda era R$ 10. Mais recentemente, passou para R$ 15 e, ainda assim, o valor era acessível demais para aproveitar o lugar. Sempre ia com a minha esposa, com uma turma de amigos, em praticamente todas as temporadas. Uma pena ter fechado”, lamenta.

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O músico diz que tentou visitar a piscina em janeiro deste ano, mas deu com a cara no portão. “Cadeado fechado, piscina sem água, mato por todos os lados. Deu dó de ver o abandono. E não tinha nenhuma explicação. Se estava temporariamente interditado ou algo assim. Simplesmente, não tinha ninguém”.

O responsável pela administração da Piscina dos Padres era Francisco Alves Pereira Neto, 72 anos, o “Chicão”, que esteve 35 anos ali dentro. Era um contrato de locação, entre a família de Chicão e o convento dos capuchinhos (Casa de Retiro Santo Antônio), donos do espaço. Contrato que se encerrou no fim da temporada do verão de 2018 e não foi renovado. O documento estava em nome de um dos filhos de Chicão, por causa da idade. É isso que conta a família. “Simplesmente, na metade do ano passado fechou. Eu e minha mulher, que está com câncer, doente, ficamos sem ter trabalho. Somos funcionários do estado aposentados, da Educação. Eu trabalhava como inspetor de alunos e a renda que vinha da administração da piscina está fazendo falta”, reclama.

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Uma das filhas de Chicão explica que a relação entre a família e os freis capuchinhos se abalou por causa de um incidente ocorrido no tobogã. “Apesar dos alertas, um homem desceu se escorregando de ponta, de frente, e quebrou alguns dentes. Ele nos processou. Não tivemos como nos defender porque só tínhamos o alvará da Polícia Civil”, revela. Por causa do processo, segundo a família, houve uma tentativa de tirar o alvará junto à prefeitura de Almirante Tamandaré, que acabou exigindo algumas reformas no local, para atendimento ao público. “Acessibilidade, melhorias nos banheiros… Mas os freis decidiram que não investiriam. Depois disso, não renovaram o contrato conosco”, detalhou a filha de Chicão.

Imbróglio jurídico e desinteresse em investir na infraestrutura mantém fechada a Piscina dos Padres. Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná

A família também contou que teria pedido para os freis capuchinhos assumirem parte da responsabilidade pelo processo do tobogã, já que o contrato de locação previa que os freis ficassem com 70% da renda de visitação na piscina. “Eles disseram que não, que não tinham envolvimento, que eram apenas locadores do espaço, que a responsabilidade seria de quem administra”, disse a filha. A informação de Chicão é de que o valor do processo estaria em R$ 17 mil. “O homem também pediu indenização, além de querer o pagamento do conserto dos dentes”.

O imbróglio jurídico, mais o desinteresse dos freis em investir na infraestrutura da Piscina dos Padres para obter um alvará definitivo teriam sido os motivos do fechamento da local. Porém, os freis negam e afirmam desconhecer qualquer outro motivo que não seja o simples término de contrato e a opção por não renová-lo. “Ela está fechada porque estamos passando por um processo de mudança. Terminou o contrato e os antigos administradores não tinham condições de continuar. Decidimos fechar”, explicou Alessandro Farinasso, frei guardião do convento dos capuchinhos.

Sem previsão

Sobre uma possível reabertura para visitação e atividades de lazer, Farinasso não faz previsão. “Não é que não vai reabrir, estamos analisando propostas de grupos que gostariam de administrar. É um lugar importante, um local franciscano, queremos aberto ao público, mas com objetivo claro. Nós não pensamos somente no financeiro, mas também na questão da preservação do espaço”, complementou.

Por outro lado, a família de Chicão cogita a hipótese de que o local está fechado para uma futura negociação de exploração comercial da água mineral da área. “Para isso, tem que fechar por mais de um ano, por causa da lei contra a contaminação”, diz o antigo administrador. Frei Alessandro também nega a informação. “Por enquanto, não tem nada de venda de água”.
Frei Alessandro Farinasso vive no convento há quase três anos. Ele diz ter envolvimento apenas com o histórico mais recente da Piscina dos Padres, desde o falecimento de Frei Itamar José Angonese, em setembro de 2017. “Ele que estava bem ao par. Ele que acompanhava mais”, explica.

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Sobre o alvará, a informação que tem o frei é de que o espaço detinha o documento. “Funcionou por muitos anos. Como era terceirizado, era a família que tocava, eles deveriam ter a documentação. Porque, senão, não teria como funcionar”.

A prefeitura de Almirante Tamandaré informou que a empresa que administrava a piscina sempre funcionou no município, mas nunca havia feito o alvará. Até o fechamento da matéria, a prefeitura aguardava mais informações da vigilância sanitária local, para confirmar se houve solicitação oficial da documentação dos anos de 2019 ou 2018.

Piscina dos Padres

O local fica a 15 quilômetros de Curitiba, seguindo pela Rodovia dos Minérios (PR-092). O espaço é repleto de natureza, cercado por vegetação e, antes de fechar para o público, tinha como atração uma piscina de água mineral corrente, por onde passavam cerca de 170 mil litros de água por hora. A fama de piscina gelada era positiva, uma vez que os visitantes iam até lá para se refrescar do calor e brincar no trampolim e tobogã, além de passar o dia nos quiosques e churrasqueiras entre outras atrações, incluindo uma tirolesa. Eram visitantes de cidades vizinhas, da capital e de outros estados.

Segundo estimativa dos antigos administradores, em 2018, última temporada de funcionamento, a arrecadação anual girou em torno de R$ 70 mil bruto. Valor que sugere que pouco mais de 4,6 mil pessoas pagaram entrada durante o ano (considerando o valor de R$ 15 para o ingresso). Por contrato, segundo os administradores, nas últimas temporadas a Ordem dos Capuchinhos ficava com 70% do valor bruto.

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