A pichação em alguns pontos de Curitiba é tanta, que alguns moradores e comerciantes já nem sabem mais se deixam a sujeira como está ou se insistem em limpar a cada vez que os rabiscos aparecem.
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A comerciante Andrea de Freitas, dona de uma loja de artigos esportivos na Rua Doutor Muricy, no Centro, está com vontade de pintar a porta de aço da loja, há anos desenhada. Mas também está em dúvida se vai ou não fazer a limpeza. “A gente pinta, não dá uma semana amanhece pichado. Mas acho que vou pintar, vamos ver o que vai acontecer”, diz ela, insegura da decisão.
Adalberto Nodari, dono do Armarinho Central, na Rua Doutor Muricy, também tem vontade de reformar a loja para deixá-la mais bonita e agradável. “A gente sabe que as paredes todas riscadas prejudicam as vendas. As pessoas passam, olham esse visual feio e desistem de entrar porque parece um lugar sujo”, lamenta ele, que já mandou limpar os rabiscos uma vez e pagou caro por isto. “Essa pedra na parede é um mármore, precisa de um produto químico forte pra tirar a tinta. Só que mesmo assim não sai tudo, fica borrado. Limpamos e dois dias depois já estava tudo rabiscado de novo. Tenho a loja há 10 anos aqui e sempre foi assim”.
Solução
Já Ney Castro, dono do Big Star Estacionamento, na Rua José Loureiro, achou uma solução para a sujeira. Deixou um grafiteiro desenhar a parede, há cinco anos, e de lá para cá aquele pedaço de parede nunca mais foi pichado. Apenas espirraram um pouco de tinta prata numa parte do desenho, mas pichação mesmo, nunca mais. “Pelo menos os grafites parece que os pichadores respeitam”, analisa.
Mas o grafite não foi uma garantia de que o prédio acima do estacionamento ficasse limpo. Ney mostra o primeiro andar do imóvel todo rabiscado com letras e símbolos ilegíveis. “A gente limpa, manda pintar. Mas não dá uma semana, no máximo 10 dias, já está tudo sujo de novo”, comenta.
E não é somente nos andares mais próximos do solo que os pichadores agem. Topos de prédios altíssimos também estão todos desenhados com símbolos e letras que identificam o grupo de pichadores. Eles aproveitam a calada da noite para escalar os prédios através de marquises e dos fios dos para-raios.
Marcação de território
O que os pichadores querem é demarcar seu território e ganhar reconhecimento entre eles mesmos, avalia o inspetor da Guarda Municipal Carlos Celso dos Santos Júnior, superintendente da Defesa Social de Curitiba. Quanto mais alto o prédio que conseguem pichar, mais reconhecimento da “comunidade”.
O inspetor revela que a quantidade de ocorrências com pichadores (pegos em flagrante pela GM e que resultaram em encaminhamento à delegacia, com prisões e apreensões) diminuiu 55% do ano passado para este. Desde janeiro, explica ele, a presença da Guarda Municipal nas ruas de Curitiba tem sido intensificada. Não só de dia – quando há patrulhamento com viaturas, a pé e a interatividade com a comunidade – mas também à noite, com as viaturas disponíveis circulando o máximo possível nos locais de maior incidência de pichações, tanto nos bairros quanto no eixo central.
Jovens, mas nem tanto
Há muitos adolescentes envolvidos com pichação. No entanto, a maioria dos casos com detenções este ano, revela o inspetor Celso, foi de jovens maiores de 18 anos, porém com idade até 25 anos.
A pichação é um crime ambiental previsto no artigo 65 da lei 9.605/98. Ele define detenção de três meses a um ano mais multa, que é de R$ 2.133,29 para o infrator e de R$ 5.333,23 para o comerciante que for pego vendendo sprays e tintas a menores de 18 anos. A multa é reajustada anualmente e, tanto quanto a detenção, aumenta conforme a reincidência do infrator.
O inspetor pede que casos de pichação sejam imediatamente comunicados através do telefone 153, da Guarda Municipal, para que os guardas consigam prender os criminosos em flagrante.
PICHAÇÃO EM NÚMEROS
Ocorrências atendidas:
2016
Janeiro a maio – 106
2017
Janeiro a maio – 47
Redução de 55%
Fonte: Guarda Municipal de Curitiba.