O olho brilhando, a ansiedade já ao esperar o ônibus, a agitação até chegar ao destino e a felicidade de uma experiência que talvez jamais imaginaram que um dia poderiam ter. Foi dessa forma que 1200 crianças de escolas municipais, creches, escolas especiais, abrigos e orfanatos da capital paranaense passaram a semana que antecedeu o Dia das Crianças, comemorado amanhã. A ação, que acontece desde 2008 no Paraná, é muito mais do que permitir uma refeição especial, mas também uma forma de fazer com que essas crianças se enxerguem com a importância que elas realmente têm.

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O projeto, que é promovido pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes do Paraná (Abrasel – PR), reuniu neste ano 28 estabelecimentos. Em resumo, a ação nada mais é do que “abrir as portas” de um restaurante para que as crianças possam ter uma refeição como comemoração por um dia tão especial: seja no café da manhã, no almoço ou no lanche da tarde. Em contrapartida, o momento se torna único não só para os pequenos, mas também para quem faz com que eles se sintam únicos.

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A Tribuna do Paraná acompanhou um almoço para lá de especial, no restaurante Dona Helena, que fica no Alto da XV. Os convidados foram a turminha da Associação Lar CriançArteira, que fica no Fazendinha, e que atende crianças que estão protegidas judicialmente por algum motivo. Por conta dessa condição, não poderemos mostrar os rostinhos, mas o que nós podemos afirmar é que todos estavam radiantes.

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A coordenadora do Lar CriançArteira, Lourdes Nunes de Barros, explicou que as crianças vivem no espaço, que funciona como um abrigo. “São crianças que foram acolhidas por algum motivo de violência ou negligência, após alguma situação na família. São acolhidas, a princípio, por medida de proteção, para que seus direitos sejam garantidos”.

O almoço para lá de especial aconteceu no restaurante Dona Helena, que fica no Alto da XV. Foto: Felipe Rosa / Tribuna do Paraná

Conforme a coordenadora, a ação tem muita importância para as crianças, pois talvez seja a única chance que estão tendo em poder ir a um restaurante comer uma comida diferente. “No caso da gente, na casa lar nós temos uma boa alimentação, mas ainda assim é diferente de um restaurante, então estavam bem ansiosas, porque isso tudo para elas faz muita diferença”.

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Lourdes contou que antes de saírem da associação, as crianças mal conseguiam conter a alegria. “É gratificante e emocionante, porque a gente pode ver no olhar a alegria deles. É um dia especial, que faz a diferença, porque esperam por isso. Para eles isso marca e, para a gente, é uma alegria muito grande ver essa satisfação no olhar deles. O presente é para eles, mas nós, enquanto profissionais, nos sentimos muito bem em ver tudo isso, ainda mais com criança que é sempre muito sincera. Esse olhar contagia toda a equipe e para eles se torna um dia que ficará marcado”.

Sonho realizado

Para os pequenos, que já passaram pelas mais diferentes dificuldades e hoje continuam abrigados num local distante de suas famílias, pelos mais diversos motivos, o convite não só serve como um presente, mas um incentivo. “É muito bom, acho que todo mundo gostou. A gente nunca nem pensou que um dia poderíamos e estamos tendo essa chance. Foi um presentaço de Dia das Crianças, adoramos”, comentou uma das meninas, que tem 12 anos.

Pratos cheios e crianças felizes. Foto: Felipe Rosa / Tribuna do Paraná

Entre as crianças, uma das que mais se destacava era um menino moreno e muito animado. Aos oito anos, ele não parecia nem um pouco envergonhado com o fato de estar rodeado de gente e foi, da turma, o que mais aproveitou o buffet. À nossa reportagem, ele só se limitou a dizer que gostou muito. “Muito legal, porque além de comer a gente ainda ganhou um presente e também vemos outras pessoas. Muito bom ter essa chance. Sem contar que achei a comida ótima”, brincou.

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Outra menina, também aos 12 anos, disse que gostou pelo fato de ter sido convidada. “Como a gente mora em lar, é muito legal ser convidado a vir em um restaurante. O projeto é lindo e maravilhoso. Mexe bastante com todos nós, porque a gente se emociona em poder comer num restaurante lindo como esse”.

Com mais consciência sobre o que estava acontecendo, a menina, que tem o sonho de ser advogada por “achar a profissão muito linda”, disse que mais pessoas poderiam ajudar, pois o que para alguns é algo comum, para quem nunca teve oportunidade pode ser um grande sonho. “As pessoas têm que ajudar, não só a gente a sair mais vezes, mas a outras crianças também. Eu mesmo fiquei emocionada em poder vir aqui”.

Devolver gratidão

Donos e funcionários do restaurante se transformam ao ver a alegria das crianças almoçando. Foto: Felipe Rosa / Tribuna do Paraná

Daniel Esmanhotto, um dos proprietários do restaurante Dona Helena, disse que abrir as portas do estabelecimento nada mais é do que agradecer pelas conquistas. “A gente precisa aprender a devolver ao nosso maior sócio, que é Deus. E a gente devolve dessa forma, fazendo boas ações. Não custa nada pra gente e faz com que as crianças se sintam mais importantes, que sintam que também têm espaço e oportunidades. Para nós é fantástico, um espetáculo poder participar disso”.

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O empresário, que é o responsável pela cozinha do restaurante, não só se emocionou como também percebeu nos funcionários o mesmo sentimento. “O que eu vi é que nós, os funcionários de modo geral, nos sentimos muito importantes em poder atender essas crianças. Já para elas, o sorriso vale tudo, é a nossa maior resposta. Além disso, para os clientes também é muito bom, pois percebem o que estamos fazendo e a atitude pode se propagar. Não somos só uma empresa que vende alimento, somos uma família e poder participar desse momento, de reforçar a importância que essas crianças têm, é muito gratificante”, destacou.

Poderia ir além!

A frente da Abrasel-PR, Jilcy Rink, a presidente, destacou que a ação que começou em Londrina, em 2008, hoje em dia se tornou um projeto a nível nacional. “Funciona no Brasil inteiro. O nosso objetivo é sempre unir o nosso trabalho a uma das frentes que é a parte social. A missão é dar oportunidade a essas crianças, que talvez nunca tiveram a chance de frequentar um restaurante, mas também de mostrar que existe a possibilidade de uma vida melhor, que vale a pena lutar”.

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Jilcy disse que todos os envolvidos sempre acabam comentando que se transformam após a ação. “A gente sai muito maior do que entra, a gente aprende muita coisa. Já conversei com criança que não conhecia queijo, tem aqueles que nunca se sentaram numa mesa de restaurante, tem criança que não faz ideia do que pode ser isso aqui e que existe essa possibilidade pela qual precisam ter um motivo para lutar e buscar crescer. É por isso que seguimos”.

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Em Curitiba, somente neste ano, foram atendidas 1200 crianças, mas esse número poderia ser ainda maior. “Os restaurantes gostam de participar porque a equipe num todo ganha muito mais do que as próprias crianças. Nós queríamos mesmo é ampliar, mas empacamos na falta de transporte para as crianças. Neste ano, por exemplo, se tivéssemos transporte para todos, teríamos condições de atender mais ou menos cinco mil crianças”, concluiu Jilcy, reforçando que já estão pensando na edição do ano que vem. Para ajudar, só entrar em contato com a Abrasel pelo telefone (41) 3029-4244.

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