Perigo em casa

Foto: Gerson Klaina

Um botton do Mick Jagger, Homem Aranha de brinquedo, colheres, moedas, muitas moedas. Estes são alguns dos objetos que os médicos do Hospital Pequeno Príncipe, de Curitiba, costumam retirar do aparelho digestivo das crianças e adolescentes que se acidentam em casa. O volume é tão grande que o hospital já tem um “acervo”, a maioria dele composta por moedas e objetos inusitados, como uma escova de dentes.

Objeto engolido por uma criança.
Objeto engolido por uma criança.

Somente a rede pública de Curitiba contabiliza cerca de 35 mil alunos, fora os da rede particular. Isto significa que nesta época do ano todo este contingente esteja em casa, de férias. Nilton Kiesel Filho, médico pediatra há 22 anos do hospital, recomenda cuidados redobrados neste período. “As casas não são planejadas para as crianças, então, não dá nem para piscar o olho”, diz.

Objeto engolido por uma criança.
Objeto engolido por uma criança.

No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, pelo menos 4,5 mil crianças morrem e 122 mil são hospitalizadas por acidentes domésticos anualmente. No Pequeno Príncipe, todos os dias crianças acidentadas dão entrada no hospital. Neste período do ano, segundo o especialista, acidentes, como afogamentos, são mais frequentes. Para o médico, as lesões ocorrem devido à falta de cultura de prevenção, informação, cuidados no dia a dia, ausência de ambientes adequados à criança e leis específicas.

Entre as principais ocorrências estão afogamentos, sufocações, quedas, queimaduras, intoxicações, entre outros. “Todos podem ser evitados com ações educativas e preventivas”, observa o médico. No Pequeno Príncipe, as ocorrências mais comuns são quedas de locais como cama, sofá e cama elástica e ingestão de objetos. O campeão são as moedas e os mais perigosos são as baterias. Grande parte deles precisa de intervenção cirúrgica – com direito a anestesia geral – para a retirada.

Foto: Gerson Klaina
Para o médico, as lesões ocorrem devido à falta de cultura de prevenção. Foto: Gerson Klaina

“As baterias são muito perigosas, pois tem uma substância química que corrói o organismo”, alerta o médico. Em contato com o organismo acontece uma reação química que pode provocar até a morte, caso não seja socorrido a tempo. “Meia hora já basta para ter consequências”, explica o pediatra.

O resultado dessas lesões ou rupturas podem trazer consequências permanentes e devastadoras para a vida do indivíduo, como dificuldades para se alimentar e a necessidade de passar por inúmeras cirurgias ao longo da vida – algumas crianças têm que passar por mais de 50 operações e procedimentos depois do incidente – e até mesmo levar à morte. Esse tipo de bateria é comum em acessórios como relógios, calculadoras e aparelhos auditivos, que estão cada vez mais presentes na casa das pessoas.

Retirada

Foto: Gerson Klaina
Foto: Gerson Klaina

No Pequeno Príncipe a retirada dos objetos depende do tamanho e de onde ele se localiza. Caso a mãe ou a criança saibam o que foi engolido, fica mais fácil. No Centro de Gastroenterologia do hospital, nas três primeiras noites do ano foram retiradas duas moedas (segunda-feira), uma moeda e um alfinete (terça-feira) e uma bateria (quarta-feira). Todas passaram por processo cirúrgico, com direito a anestesia geral.

‘Caí no parquinho’

Por um descuido, Kauan quebrou o braço no parque do prédio em que mora.
Por um descuido, Kauan quebrou o braço no parque do prédio em que mora.

Ontem pela manhã, Cauã Correa Padilha, junto com o pai, João Rodrigo, procuraram o Pequeno Príncipe devido a uma queda sofrida pelo menino, de 9 anos. “Caí no parquinho do prédio e amassei o osso. Nunca tinha acontecido isso comigo”, lamentou o garoto. João Rodrigo, por sua vez, explicou que a partir de agora o cuidado com o filho vai ser redobrado. “Ele nunca se machucou tão feio”, afirmou. De férias do 5.º ano, Cauã disse que terá que se conformar em ver vídeos ou jogar vídeo games o resto das férias, já que quebrou o braço esquerdo. “Pelo menos não vou ficar entediado”, garantiu.

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