Pânico no busão

Suspeitos são presos pela polícia. Foto: Lineu Filho
Suspeitos são presos pela polícia. Foto: Lineu Filho

Desde o começo do ano, uma onda de arrastões aos ônibus de Curitiba e Região Metropolitana tem tirado o sono dos funcionários do transporte público e deixando passageiros em pânico. Ao todo, 15 ações já foram registradas somente nos dois primeiros meses. Das ações registradas, pelo menos seis aconteceram entre o feriado de Carnaval e esta semana. Somente na quarta-feira de cinzas, por exemplo, quatro arrastões foram registrados em Curitiba. O último foi ontem, no Bairro Novo. Um homem entrou armado na linha Bairro Novo C e fez a limpa nos usuários. Mais cedo, também na região, duas mulheres foram detidas pela população ao anunciarem um assalto.

Passageiros passam diariamente pela violência no transporte coletivo. Foto: Colaboração
Passageiros passam diariamente pela violência no transporte coletivo. Foto: Colaboração

No ano passado, motoristas e cobradores a organizaram protestos cobrando providências das empresas e do poder público. A morte de um motorista, em julho, foi o estopim para que o Comitê Permanente de Segurança no Transporte Coletivo fosse criado na tentativa de encontrar soluções. A instalação de câmeras foi a solução apontada como ideal.

O Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Curitiba e Região (Sindimoc) tem cobrado muito das forças de segurança e, principalmente, das empresas. No entanto, a coisa parece andar a passos lentos. “A gente sabe que as câmeras não vão acabar com os assaltos, mas temos a certeza de que essas ações vão diminuir muito, baseando por outras cidades que adotaram os equipamentos nos coletivos”, explicou Ari Dário Pereira, membro do sindicato.

Seis câmeras foram instaladas no ano passado para testes. O Sindimoc cobra a apresentação dos resultados dessa experiência. Para o sindicato o momento de instalar as câmeras é este, quando as frotas estão sendo renovadas. Porém, ele ressalta, é preciso olhar para onde o problema realmente está. “Os arrastões acontecem nos ônibus que circulam pelos bairros e, geralmente, estão um pouco distantes da ação da polícia”, disse Pereira. Segundo o Sindimoc os bairros mais caóticos quando o assunto é arrastão ou assalto são os da região Sul de Curitiba, que abrange o Fazendinha, a CIC e Novo Mundo. O trabalho intenso das polícias tem trazido certa sensação de segurança, mas não o suficiente.

Sem punição

Segundo a Guarda Municipal, diariamente as equipes fazem operações nas linhas de ônibus da cidade, sempre em horários distintos. Apesar disso, quando os suspeitos são encontrados, não ficam presos por muito tempo. “Os juízes precisam ser mais rigorosos, porque não adianta nada o bandido ser preso e solto dias depois. Estão colocando pessoas em risco”, quesionou Pereira. Além disso, a descrença dos passageiros faz com que os índices não sejam registrados para a polícia como os do Sindimoc. “A maioria das vítimas dos arrastões não registram o boletim de ocorrência e isso atrapalha na hora de cobrar mais policiamento”, comentou Pereira.

Respostas

A Urbs, por sua vez, informou que continua acompanhando os testes feitos nos coletivos. Segundo a empresa, a inclusão de câmeras ainda vai ser analisada, em algumas linhas, junto com a renovação da frota, sem prazo definido. O Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp), disse que o número de assaltos de janeiro a novembro de 2017 foi menor do que o mesmo período de 2016, com uma diminuição de 45% nos índices. “As empresas de ônibus não têm competência legal para atuar na segurança pública, mas contribuem com um mapeamento dos locais com mais incidência de assaltos”, defendeu o diretor-executivo, Luiz Alberto Lenz César.

De acordo com a Secretaria da Segurança Pública e Administração Penitenciária (Sesp), que fala pela Polícia Militar e pela Polícia Civil, a participação no Comitê de Segurança tem funcionado. A Sesp informou que, entre os pedidos dos trabalhadores, analisa o da criação de uma delegacia especializada nas ações aos ônibus. Os crimes têm sido investigados, principalmente pela Delegacia de Furtos e Roubos. As investigações levaram a prisão dos autores de pelo menos dois dos últimos arrastões e outros ainda estão sendo procurados.

Fica a saudade

Larissa morreu na ação de bandidos em 2017. Foto: Colaboração
Larissa morreu na ação de bandidos em 2017. Foto: Colaboração

No ano passado, a ação de bandidos em um arrastão em Campo Magro, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), tirou a vida de uma passageira e destruiu uma família. Larissa Morgana Ferreira, de 24 anos, era o braço direito da mãe, Silmara da Silva, de 47. Desde setembro, quando o crime aconteceu, a família revive a dor da perda diariamente. “Principalmente quando entro em um ônibus”, disse a mãe da jovem.

Larissa era formada em administração e queria cursar direito. Apesar disso, tinha como principal objetivo a construção de uma casa para a família morar, pois os dois cômodos que viviam em quatro pessoas estavam sendo pequenos. “No dia do crime, ela estava de folga, mas tinha ido trabalhar para fazer um extra, justamente para arrecadar dinheiro para ajudar na construção da casa. Ela não pensava nela, pensava na gente”, disse a mãe.

O último momento de Silmara com Larissa foi literalmente uma despedida. “Eu fui para a casa da minha irmã e ela para o trabalho. Quando me despedi, jamais imaginei que era realmente um adeus. Na volta, o crime aconteceu e eu nunca mais pude conversar com minha filha”, lembrou.

Luta pelos sonhos

Desde a morte, a família tem passado por momentos difíceis em casa, principalmente pela falta que faz a presença de Larissa com os dois irmãos mais novos, de 14 e 19 anos. “Eu quase entrei em depressão e isso me fez deixar meu emprego, de zeladora. Agora estou em busca de um trabalho de novo, tentando voltar a viver. Tenho lembrado o que a Larissa deixou pra gente, pois sempre foi uma pessoa de lutar pelos sonhos, ir atrás dos objetivos. Tenho mostrado isso aos meus filhos, para que eles não desistam, porque nós precisamos seguir em frente”.

Silmara disse lembrar sempre do que Larissa dizia. “Ela falava que ’o mundo é tão lindo, que a gente tem que correr pra frente’. É nisso que tenho pensado sempre. Tento lutar e tento não pensar muito, porque se não a gente não vive. Mas quando eu entro no ônibus, é uma tortura. É como se estivesse revivendo tudo àquilo, e não me sinto segura”.

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