No Direito, fala-se muito em “tempestade perfeita”. E conforme o professor Eduardo Faria Silva, coordenador e professor da Pós-Graduação de Direito Constitucional e Democracia da Universidade Positivo (UP), o Brasil está nas condições ideais para uma tempestade perfeita. Ou seja, com a greve dos caminhoneiros, outros setores base da economia também podem entrar em colapso e deixar o país em extrema instabilidade.
De forma prática, a vida de todos os cidadão pode “virar de ponta cabeça”, pois prejudicando o escoamento rodoviário, vai faltar “tudo” nas prateleiras, ninguém conseguirá se deslocar aos seus compromissos diários, prejudicará o funcionamento da indústria e do comércio, etc. E não é possível prever se, de fato, essa panela de pressão vai explodir ou se a tempestade vai para o mar. Tudo vai depender de qual medida o presidente Michel Temer tomará nos próximos dias ou horas. “Toda greve gera problemas. Para acabar com ela, só uma decisão judicial ou uma negociação”, analisa Eduardo.
Subsídio
![Por causa da paralisação, alguns mercados de Curitiba já estavam com produtos em falta na quarta-feira. Foto: Tribuna do Paraná](https://www.tribunapr.com.br/cacadores-de-noticias/wp-content/uploads/sites/2/2018/05/WEB-POSTO-3.jpg)
Há dois anos, explica o professor, o governo federal retirou o subsídio dos combustíveis. Com isto, o preço nas bombas aumentou cerca de R$ 2 de lá para cá e a gasolina chega a quase R$ 5. E esta greve dos caminhoneiros, contra o alto preço do combustível, coloca muita pressão no governo federal para que tome alguma medida. E quanto mais demorada for essa decisão de Temer, o País viverá um caos econômico e politico muito grande, por conta do desabastecimento.
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Neste caso, explica Eduardo, o governo tem duas possibilidades: não reduzir o preço do combustível (e manter o caos), ou trabalhar a redução de valores, seja reduzindo impostos sobre o produto, ou voltando a subsidiá-lo, nem que seja apenas alguns derivados de petróleo, como por exemplo o diesel (não necessariamente a gasolina e o etanol). Mas não se sabe publicamente qual será o impacto para o governo de uma possível redução no preço dos combustíveis. Mesmo assim, diz o especialista, a tendência é que o governo Temer inicie uma negociação, ao invés de ser rígido e dar às costas à greve. Mas quanto mais tempo demorar, maior o desabastecimento. E neste cenário, os governos estaduais e municipais estão de mãos atadas e não possuem nenhum poder de interferir na negociação.
Impopular
![Com a greve dos caminhoneiros, outros setores base da economia também podem entrar em colapso. Foto: Átila Alberti](https://www.tribunapr.com.br/cacadores-de-noticias/wp-content/uploads/sites/2/2018/05/WEB-POSTOS-2.jpg)
Enquanto isso, a impopularidade do presidente Michel Temer ele só tem 3% de aprovação popular, ou seja, sua impopularidade é de 97% – só deve aumentar com a greve dos caminhoneiros, pois o desabastecimento gera muito descontentamento popular. Conforme o professor, se uma decisão do governo demorar muito, greves em outros setores podem acabar eclodindo também, principalmente em setores estatais, como aqueles na iminência de estatização; a Eletrobrás por exemplo.
“Segundo uma última pesquisa do IBGE, o Brasil já tem 27,5 milhões de pessoas sem renda (sem trabalho). O preço dos produtos anda aumentando, o preço do botijão de gás dobrou e uma pesquisa recente mostrou que 1,5 milhões de domicílios voltaram a usar lenha por causa do preço do gás, ou seja, deram um salto par ao passado. E agora com o combustível aumentando, a insatisfação popular crescendo, é possível sim que esta panela de pressão estoure.
Não é possível saber se vai ou não, mas condições para isso existem”, analisa o professor. E claro, a impopularidade do presidente também deve afetar as eleições, ou seja, respingar em todos os candidatos que tiverem alguma vinculação político-partidária com Temer e trazer um efeito negativo à corrida presidencial.
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