Silêncio, incertezas e até um pouco de melancolia. Com 147 anos de história levando alegria, magia e diversão em uma verdadeira fábrica de sonhos, muitas famílias já passaram pelas arquibancadas do Vostok, o circo mais famoso do Brasil.
A lona colorida de 42 metros de altura chama a atenção de quem passa pela movimentada Linha Verde, no bairro Prado Velho, em Curitiba. Só que provavelmente os apressados motoristas nem imaginam que lá dentro os artistas estão preocupados. A atividade circense está proibida pelos decretos municipais e estaduais com a pandemia do novo coronavírus. Com isso os artistas escolheram as ruas como palco para conseguir sobreviver financeiramente
O Vostok chegou a Curitiba há quase três meses vindo de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. Foi lá que o primeiro impacto da paralisação das atividades ocorreu, no começo da pandemia, em março. Sem ter a possibilidade de fazer as sessões e, consequentemente, sem ganho com bilheteria, estacionamento e venda de alimentos, os 38 funcionários da companhia tiveram o corte semanal dos salários.
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Os artistas recebem o dinheiro a cada semana, mas sem estar no picadeiro o bolso foi ficando vazio. A direção então se propôs a bancar os custos de água, luz e deixar os trailers e motorhomes estacionados no terreno que se aluga em cada município. Além disto, como não tem uma ideia exata de quando vai ocorrer uma apresentação, o Vostok liberou os artistas para que procurassem uma outra forma de renda. A partir daí malabaristas, equilibristas, palhaços e mágicos foram para os sinaleiros vender bolas coloridas, algodão doce, maçã do amor e pipoca, produtos comercializados no circo.
Um dos exemplos foi trapezista o Eros Vostok, filho do proprietário da companhia, que também atua no globo da morte e como mágico. Aos 20 anos e criado desde pequeno no mundo circense, o trapezista saiu das alturas para colocar os pés nas esquinas. A atividade nas vendas está sendo positiva com um retorno financeiro que auxilia nas contas. Mas Eros logo espera ouvir a tão conhecida frase de abertura de cada espetáculo quando o locutor avisa “Senhoras e senhores, respeitável público, vocês acabam de entrar no mundo mágico do circo e daremos início ao maravilhoso espetáculo. Prepare seu coração!”
“Agora temos que nos virar mesmo como vendedor, mas temos o sangue do circo. Fazemos aquilo que amamos, é uma paixão estar no picadeiro”, enfatiza o trapezista. “Estamos aqui buscando nossos recursos, mas faz muita falta as apresentações, o sorriso das pessoas e a forma de levar a alegria para cada um. A nossa torcida é que acabe logo a pandemia para voltarmos para nossa realidade de estar em vários cantos do país”, confia Eros Vostok.
No limite!
O diretor-executivo Fernando Fischer, 45 anos, é responsável por cuidar das questões burocráticas do Vostok. Com a pandemia, a responsabilidade aumentou em termos de ser o principal porta-voz da companhia. Além disso, ele busca ajudar toda a classe ao conversar com autoridades na busca de uma solução para os problemas.
Uma das alternativas que estão em fase de elaboração é a produção de um protocolo de segurança sanitária próprio que atenda os funcionários e o público com álcool gel em várias posições do terreno, limitação de 40% na capacidade nas arquibancadas e que cidades que estejam com a bandeira amarela possam liberar os shows.
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“Já são seis meses e estamos no limite. Com os protocolos de segurança, não existe motivo para não realizar o espetáculo. Seria até uma questão de sobrevivência, pois parando este setor, muitos trabalhadores estão com dificuldades de levar o sustento para suas casas”, avalia o Fischer.
O setor de shows e eventos tem buscado alternativas para levar a apresentação para as pessoas com mais segurança. Lives, festas e até formaturas dentro do próprio carro estão acontecendo com mais frequência. Porém na atividade circense essa ideia ainda não é muito bem explorada até pela realidade do setor, que abraça desde o pequeno circo até as grandes companhias.
“O Vostok enfrenta a mesma dificuldade dos outros circos. Se continuar desse jeito, não descarto que outros circos fechem. Estamos falando de um setor cultural que existe há milênios. O circo é a mãe de todas as artes. A pandemia está acabando com este setor e o povo vai ser prejudicado lá na frente”, desabafa o diretor-executivo do Vostok.
Treinos
Para os malabaristas e trapezistas, o treino é fundamental para que nada de errado ocorra na apresentação, seja artisticamente e até por segurança própria. Por isso, não estranhe se você passar nas proximidades do Vostok e perceber que as luzes estão acesas. Os artistas estão treinando no período noturno para não perder a prática dos malabares e dos voos no trapézio. Inclusive, a rede que abafa a queda é um dos poucos aparelhos que estão instalados na tenda.
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“Eles não podem ficar parados e seguem treinando à noite para não enferrujar. A alternativa de venda é de sobrevivência, mas eles têm uma veia artística e gostam de levar a alegria para o povo. No momento que o povo busca o circo, o artista se sente recompensado”, completa o diretor.
Caso você queira ajudar, os artistas do Circo Vostok ficam no sinaleiro da Rua Imaculada Conceição com a Senador Salgado Filho, no bairro Prado Velho, na Linha Verde. Na sua grande maioria, eles estão trajados com a camisa do Vostok. Se preferir, existe uma vakinha virtual que está também auxiliado os artirtas. A criadora foi a Christiane Amend da Cruz ao lado da filha Natália. As duas adoram o mundo circense e foram surpreendidas ao parar no sinal e perceber que os vendedores fazem parte do circo Vostok. “O rapaz ofereceu maçã do amor e quando falou que trabalhava no circo foi um pontada no coração. Eu e minha filha choramos e decidimos ajudar de alguma forma. Estamos recebendo o auxílio de várias pessoas e logo iremos entregar o valor para eles”, informou Christiane. Para contribuir, acesse www.vakinha.com.br/vaquinha/ajuda-para-a-familia-do-circo-vostok