Iniciadas em meados de 2013, como parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da Copa, obras viárias em São José dos Pinhais ainda causam transtornos a motoristas, moradores, comerciantes e pedestres. Passados três anos do mundial de futebol, as intervenções nos corredores Aeroporto-Rodoferroviária e Marechal Floriano não foram concluídas. Desde a última vez que a Tribuna percorreu os canteiros, em dezembro de 2016, houve poucos avanços.

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Na divisa com Curitiba, a ponte sobre o Rio Iguaçu e o trecho que seria uma rota alternativa entre as duas cidades, ligando a Avenida Senador Salgado Filho à Rua Joaquim Nabuco, permanece inacabado, sem movimentação de máquinas ou operários. Só é possível transitar pelo local a pé ou de bicicleta, como faz o auxiliar de escritório Leonardo Schuetzler, 24 anos, que corta caminho por ali com sua “bike”. “Se este trecho estivesse pronto, melhoraria o trânsito na região”, opina.

Leonardo: se estivesse pronto, melhoraria o trânsito. Foto: Felipe Rosa

Um pouco mais à frente, na trincheira da Rua Arlindo Costa sob a Avenida Comendador Franco, que já era utilizada desde o início de 2016, a situação é melhor. O local recebeu sinalização, grades de proteção e corrimões para pedestres. Desde o último dia 27 de junho, a via virou passagem obrigatória para o motorista que segue no sentido Curitiba, porque o semáforo na esquina da Avenida das Torres com a Rua Pérola D’Oeste foi desativado e o cruzamento, bloqueado. Já na Rua Arapongas, as escavações de outra trincheira – que criará um binário com a anterior – seguem paralisadas, em estágio inicial, o que deixou a rua sem pavimentação e praticamente intransitável.

Para Holivie, chegar em casa é complicado por causa dos transtornos da obra inacabada. Foto: Felipe Rosa.

Prejuízos

“Desde que começou a obra, eles nunca ‘tocaram’ direto. Começam, param e às vezes retomam. E faz mais de um ano e meio que não mexem em mais nada. Só tapam uns buracos e colocam terra, como agora, para a festa de São Cristóvão. Está bem ruim. Com a erosão do solo, quase nem conseguimos mais entrar em casa com o carro e as casas da rua estão cheias de rachaduras”, relata o técnico de montagem Holivie Sizanoski, 29, que mora na via desde criança.

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Vizinho dele, o comerciante Guilherme de Lorena, 24, também reclama dos prejuízos gerados pela obra inacabada. “Não tem nem mais um responsável por esta obra. Eles ficaram aqui até o fim de 2014, voltaram em 2015. Estamos na metade de 2017 e a obra não terminou. Essa era uma rua normal, que tinha acesso pela Avenida das Torres. Quando abri o restaurante, em 2013, servia almoço e jantar, à noite enchia de carros. Agora só abro no almoço e tenho uma dívida de R$ 100 mil, pelo investimento que fiz”, desabafa.

Algumas obras emperradas acumulam sujeiras e riscos aos pedestres. Foto: Felipe Rosa.

Sujeira e improviso

Para facilitar a vida dos pedestres, uma passagem subterrânea foi construída ao lado do cruzamento da Avenida das Torres com a Avenida Rocha Pombo. No local há muitos materiais que sobraram das obras, como pedaços de madeira e telas de proteção. Faltam acabamento e sinalização. Lixo e pichações incomodam pedestres. “De dia dá para passar por aqui. À noite é muito arriscado, o pessoal ‘faz a festa’. E olha só o tanto de sujeira acumulada aqui”, conta o desempregado Tarcísio Gonçalves, 34, que mora na região e sempre passa pelo local.

Foto: Felipe Rosa
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Metros adiante, o acesso ao Aeroporto Afonso Pena, na bifurcação da Rua da Avenida das Torres com a Rua Comandante Aviador José Paulo Lepinski, conta apenas com cones e sinalização provisória, que confundem os motoristas.

Por sua vez, o trecho da Avenida das Américas, na região do Terminal Central, precisa ter a sinalização concluída e a canaleta exclusiva do transporte coletivo liberada. No último dia 29 de junho, a faixa central da via foi bloqueada pela prefeitura, restringindo o tráfego às vias marginais. Segundo a administração municipal, a medida foi tomada em resposta à indicação de retomada das obras por parte do Estado, com previsão para o início de julho.

Nova licitação

Sobre as intervenções viárias que seriam o legado da Copa do Mundo para Curitiba e região, a Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec) esclarece que houve problemas com a empreiteira. O órgão abriu um processo administrativo para apurar responsabilidades. O contrato prevê multas para a empresa que abandonou os trabalhos.

“Esta é uma etapa bastante burocrática. A Comec já rescindiu o contrato com a empresa responsável, mas a empresa entrou na Justiça buscando a suspensão da rescisão. Porém, isso não impede a continuidade do processo da realização de uma nova licitação para contratação de uma nova empresa que concluirá as obras”, detalhou o órgão estadual em nota. A Comec explicou que a empresa classificada como segunda colocada na licitação anterior não demonstrou interesse em assumir os trabalhos.

De acordo com a Comec, uma consultoria técnica foi contratada para levantar o atual estado das obras dos corredores Aeroporto-Rodoferroviária e Marechal Floriano, para especificar as condições da nova licitação.

Verba garantida

Segundo a Comec, os recursos para a conclusão das obras em São José dos Pinhais estão previstos e vigentes junto ao Ministério das Cidades, através de financiamentos da Caixa Econômica Federal, com contrapartida do Tesouro do Estado. Na obra do Corredor Aeroporto-Rodoferroviária até o momento já foram pagos R$ 45,7 milhões. Já na obra do Corredor Marechal Floriano foram investidos R$ 22,1 milhões. No Corredor Aeroporto-Rodoferroviária, 73% da obra foi executada e no Corredor Marechal Floriano, 81% da melhoria está pronta.

Para que os trabalhos sejam retomados, há necessidade da entrega do relatório final da empresa de consultoria técnica. Só depois disto será lançado o edital de licitação para contratar a nova empresa. Depois desse prazo será retomado o cronograma de obras. Quando os serviços reiniciarem, a previsão é que o Corredor Marechal Floriano esteja pronto em até 90 dias e o Aeroporto-Rodoferroviária, em cerca de oito meses.

Duplicação da Av. Rui Barbosa está 90% executada. Foto: Felipe Rosa

Rapidez

Enquanto as obras do PAC se arrastam por anos, sem perspectivas concretas de conclusão, outra obra realizada em São José dos Pinhais surpreende a população positivamente. Iniciada em maio de 2016, a duplicação de quatro quilômetros da Avenida Rui Barbosa, entre a Rua Margarida de Araújo Franco e a Alameda Butatã, está 90% concluída. Falta apenas concluir a sinalização. Foram investidos R$ 10,5 milhões, em parceria da Fomento Paraná com a prefeitura.

A intervenção envolveu pavimentação, drenagem, ciclovias, novas placas e novos pontos de ônibus, para tornar a via um importante corredor metropolitano, que deve desafogar o trânsito nos bairros Aristocrata, Bom Jesus, Centro, Colônia Rio Grande e Santo Antônio. A previsão é concluir as obras até 16 de julho.

Foto: Felipe Rosa