Os primeiros dias de aula na vida de uma criança são muito sofridos para a grande maioria delas. O pequeno aluno chora, não quer ficar na sala de aula, pede pelo papai e a mamãe, esperneia, grita e chega até a empurrar os professores. O “chororô” muitas vezes chega a contaminar as outras crianças e logo o coro de berros toma conta da sala de aula. É uma experiência que pode ser traumática, não só para os pequenos. Os pais também sofrem.
Uns querem voltar e pegar o filho no colo, enquanto outros ignoram os lamentos e saem de coração partido da escola porque precisam ir trabalhar e nada podem fazer nessa hora para acalmar os pequenos. Ciente desse problema tão comum a muitas famílias, a Tribuna conversou com especialistas para dar dicas de como amenizar o sofrimento nesta fase de adaptação, tornando-a mais serena e menos traumática.
“O Dudu chorou no primeiro dia, e um pouquinho no segundo. Ele era muito novinho ainda e acho que foi normal ele sentir essa mudança. Para mim que foi pior. Ficava com o coração apertado e procurava não pensar muito nisso para não sofrer tanto. Mergulhava no trabalho e na faculdade para distrair a cabeça, mas não via a hora de ir busca-lo na escolinha. Hoje é até mais fácil, pois algumas escolas fazem períodos de adaptação com as mães. Acho que fica menos traumático”. Juliana Fontes, mãe do Eduardo, 10 anos, repórter da Tribuna.
A pedagoga Christina Volpato, da Escola Grande Aprendiz, atua há 20 anos na Educação Infantil, sendo oito deles como pedagoga. Ela diz já ter presenciado todo tipo de adaptação escolar e conta que as crianças reagem assim nos primeiros dias porque se sentem inseguras. “Elas sentem como se tivessem sido abandonadas pelos pais, num ambiente que elas não conhecem, cheio de pessoas estranhas. E o referencial de segurança delas, que é a mãe e o pai, não estão lá para acudi-los. É um monte de sentimentos estranhos juntos”, analisa Christina.
Para a pedagoga, o que pode amenizar bastante os efeitos ruins dessa fase é fazer com que a criança participe de todo o processo escolar, levando junto nas visitas às instituições, por exemplo, pedindo a opinião na hora de escolher a escola e deixando que participe da compra do material escolar. Antes das aulas começarem, é interessante que os pais levem a criança até a escola algumas vezes, para que ela vá conhecendo o ambiente, reconhecendo os funcionários e professores, e comece a criar um vínculo com aquela nova realidade.
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Além disto, é importante que os pais conversem bastante com a criança, explicando que na escola ela vai ter muitos amigos, que haverá brincadeiras e a descoberta de muitas coisas novas. É sempre bom frisar que o papai e a mamãe não estarão junto. Que é um momento só dela na escola e que no fim do dia a família estará reunida de volta em casa. “Essas conversas devem ser sempre leves, os pais devem falar com bastante animação”, ensina a pedagoga.
“O Pedro não chorou nada, virou para mim e deu um ’tchau mamãe’ bem tranquilo. Eu fiquei muito mais preocupada que ele. A gente deixa nas mãos de outras pessoas a coisa mais preciosa da sua vida, não tem como não se preocupar. Só com o passar dos dias, que você vê ele voltando bem, é que você fica realmente tranquila. Agora, quando eu era pequena, chorei demais. Minha mãe conta que foram 10 dias seguidos e ela teve que me tirar até as coisas se acalmarem”. Paula Weidlich, mãe do Pedro, 2 anos, editora da Tribuna.
Chegou o grande dia
Passar por um período de preparação antes das aulas pode ajudar muito a reduzir o stress da adaptação, mas isso não garante que os pequenos não vão “abrir o berreiro”. Até porque, mesmo que estejam conseguindo se adaptar, acabam chorando também quando veem os outros colegas chorando. Em geral, diz Christina, o período de adaptação não demora mais que duas ou três semanas. Alguns casos podem passar disto, mas são raros. A pedagoga aconselha: os pais e cuidadores devem ser fortes, não desistirem e não deixarem a criança faltar nenhum dia de aula durante a adaptação. “É uma fase que elas vão ter que passar”, analisa.
Dicas
Nos primeiros dias, é interessante que os pais levem as crianças até a sala de aula. “Explique que no fim da tarde estarão juntos de volta e vá embora. Não fique na sala, pois a presença dos pais torna o período de adaptação mais longo e sofrido. Se o pai volta toda vez que a criança chora, ela descobre que este mecanismo (de chorar) funciona para ter o papai ou a mamãe de volta. Então pedimos que os pais aguentem firme. Eles podem até ficar nas dependências da escola, ouvindo pela janela (sem aparecer), ficar na recepção ou até olhando as câmeras de segurança. Se a criança alterna choro com brincadeiras, ok. Mas se ela chora ininterruptamente, sem parar, aí aconselhamos os pais a levarem a criança para casa. No dia seguinte, repetimos a experiência”, diz a educadora.
“No primeiro dia, a Gabi não queria ficar na escola. Se agarrou no pescoço da mãe e chorava muito. Mas as professoras, que já estão acostumadas com isso, trataram de tranquilizar a gente e ela também. Não foi fácil, ver ela indo para dentro da escola, no colo da professora, chorando e estendendo a mão, como que pedindo socorro. Doeu na gente, mas a professora falou que era para a gente voltar meia hora depois. Voltamos e a professora falou, ‘olhem pela janela’. Olhamos e a Gabi estava brincando com as outras crianças e nem parecia que pouco tempo antes tinha feito um escândalo para não ficar na escola”. Carlos Bório, pai da Gabriela, que hoje tem 16 anos (mas tinha 3 quando começou na escola), editor da Tribuna.
Christina ensina que, na primeira semana, não se deve deixar a criança na escola as quatro horas direto. No primeiro dia, a criança fica uma hora ou menos. No segundo dia, a mesma coisa. No terceiro dia, é possível pensar em deixa-la duas horas na escola. E assim sucessivamente, até que a criança consiga ficar bem o período todo. Por isto, é importante que um dos pais ou cuidadores possam tirar uns dias de férias ou folga, pelo menos na primeira semana, para que estejam disponíveis para buscar a criança mais cedo, se for necessário. “Mas nem toda criança precisa de adaptação, pois muitas entram na escola e nem olham para trás. E quem sofre são os pais, que sentem como se não fossem mais necessários. A fase difícil passa para pais e filhos”, incentiva a pedagoga.
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