Dono de um salão de beleza há mais de 50 anos no bairro Água Verde, em Curitiba, Arídio Costa, é referência quando o assunto é barba e cabelo. Com uma clientela fiel, incluindo Ratinho Junior, o governador do Paraná, como freguês, esse catarinense de 82 anos comprova que a tradição ainda pode superar a modernização.
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A história desse senhor de pequena estatura, muito reconhecido na Avenida Iguaçu, valoriza uma arte que está em extinção nas grandes cidades: a figura do barbeiro, profissional que realiza o corte do cabelo e faz a barba de maneira clássica, com toalha quente, espuma na tigela de prata e lâmina “pra lá de afiada”. Um ritual que foi se perdendo ao longo dos anos com o surgimento de estabelecimentos que não utilizam apenas o corte do cabelo como opção, e sim, como entretenimento aos homens com a venda de bebida alcoólica, jogos e alimentos.
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Em Curitiba desde 1961
Seu Arídio nasceu na cidade do Rio do Sul, em Santa Catarina. Com cinco irmãos, todos barbeiros, esse catarinense veio para Curitiba em 1961 para literalmente cuidar da beleza dos outros. Passou pelo salão do Pernambuco, um barbeiro das antigas na Rua Vicente Machado, antes de assumir o próprio salão. “Era um tempo diferente. Aqui na Avenida Iguaçu, era um lugar tranquilo e com pouco agito. Agora é movimento toda hora, tem até esse ponto de ônibus na frente. Tem suas vantagens, mas prefiro a calmaria”, disse o barbeiro que tem um banco de praça instalado na calçada, deixando o ambiente mais interiorano.
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O amor pela profissão fez com que Arídio se profissionalizasse em uma época que não existia a obrigatoriedade de estudar. Participou do curso de Aperfeiçoamento para Barbeiro no Senac, em 1971. O diploma está na parede do salão como um espécie de troféu. “Foi importante para comprovar que eu tinha estudado, e chamou muita atenção. Sempre falo aos mais jovens que o barbeiro é o arquiteto do cabelo. A cabeça domina as mãos, faça o simples. Não invente, esse é o segredo”, comentou Arídio.
Simpatia dentro e fora do salão
É incrível a relação do barbeiro com as pessoas que passam em frente ao salão. O tradicional “bom dia”, um “oi” mesmo que rápido, são bem comuns por ali. Aliás, entrar no Salão Arídio é como retornar ao passado. Três bancos de madeira que fazem o cliente se sentir em casa, uma grande prateleira azul com espaços para produtos em garrafas transparentes “das antigas”, brilhantina, secadores de cabelo plugados em tomadas escondidas, pentes de todos os estilos e cores, tesouras desgastadas com o tempo e máquinas de cortar cabelos com mais de 60 anos. Sem contar as antigas revistas masculinas da Playboy, que ficam meio escondidas no meio de tanta história.
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“Não tem nada aqui que não tenha algo envolvido com a minha vida. As cadeiras vieram de Brusque, em Santa Catarina. A fábrica não existe mais, eu tenho um amigo que é estofador e deixa elas novinhas. Todo mundo que senta aqui, fica confortável. Elas têm mais de 50 anos e irão durar a vida inteira. Coisa boa não estraga. Já a coleção de Playboy tem gente que vem para cá só para ver mulher pelada. Tem um argentino que adora”, brinca o barbeiro.
Barbeiro do Ratinho JR
Quanto à clientela de um barbeiro com mais de 60 anos de atividade, é basicamente algo que vem de família. O pai ou avô traz alguém mais novo, e assim a herança se perpetua. Um dos casos é da família Ratinho, do apresentador aos filhos, inclusive o governador do Paraná. “Eles são humildes. O Junior (governador) não gosta de inventar, faz curtinho. Já o Ratinho pai, não posso mexer no bigode. É só barba”, comentou Arídio que ficou sabendo em primeira mão que o governador fez implante capilar.
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Ainda no hall dos famosos, Arídio tem como cliente o deputado estadual Tito Barichello (União Brasil), também conhecido como delegado xerifão. Tito é vizinho do salão e costuma passar pelo local nem que seja para um alô. “Sou cliente do Seu Arídio desde a década de 1980, quando fazia Direito na Universidade Federal do Paraná. Depois fui ser delegado em Minas Gerais e quando retornei para Curitiba, voltei a cortar cabelo com ele. Hoje levo meu filho de 10 anos no salão, é um local histórico”, afirmou Tito.
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Referência para os mais jovens
Bruno de Oliveira Aguiar, 30 anos, reside em Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba. Também é barbeiro e faz trabalho voluntário com moradores que estão em situação de rua no bairro Boqueirão, em Curitiba.
A experiência de Arídio levou Bruno ao salão para pedir uma oportunidade de trabalho. Segundo ele, o uso da tesoura é o diferencial comparado a outros colegas de profissão. “ Eu estava em um outro salão, mas de tanto ouvir o nome do seu Arídio, pedi para trabalhar com ele. Ele prontamente apoiou e eu aprendo diariamente. Busco a barbearia mais antiga, gosto do rústico. Faz a barba na espuma, desliza bem na navalha, faz o cabelo na tesoura. Hoje os barbeiros só fazem na máquina. Prefiro usar a tesoura”, admitiu o jovem.
Sobre essa polêmica entre o método clássico e o moderno, Arídio acredita que falta aos mais jovens um pouco de humildade. Além disso, ele critica a “gourmetização” dos salões de beleza.
“Eu não gosto disso. Tem muita coisa, salão é para cortar o cabelo, sem essa de vender bebida. Hoje todos querem ser barbeiros, mas não querem começar lá de baixo. As pessoas não sabem aproveitar o tempo no barbeiro, tudo no celular e tempo para ir embora. É desagradável ao barbeiro”, confessa Arídio, que tem no ofício um amor só comparado aos dois carros do modelo Variant, da Volkswagen dos anos 1973 e 1974. “Não vendo por dinheiro nenhum”, completou essa “figuraça” que mantém em média de 15 a 20 trabalhos por dia.
Serviço
Salão Arídio Cabeleireiro
Endereço: Av. Iguaçu, 2511 – Água Verde, Curitiba
Telefone: (41) 3243-1571
Funcionamento: de Segunda a Sábado das 8h às 20h