Com uma visão aguçada, como de uma ave de rapina, Paulo Campolin, 50, observou há cerca de 30 anos que teria a chave para tirar crianças, jovens e adultos da criminalidade. Em sua adolescência, ele teve a oportunidade de receber um espaço para treinar artes marciais em seu bairro de nascimento, o Cachoeira, na divisa com o município de Almirante Tamandaré, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC).
Em uma região carente, onde o “trabalho fácil” era o envolvimento com o crime, Paulo se aperfeiçoou nas lutas e decidiu que iria mudar a vida das pessoas que estavam ao seu redor. “As artes marciais trazem uma filosofia de vida para o indivíduo. Eu comecei a passar adiante essa ideologia, ajudando as crianças e os jovens, com o objetivo de dar mais saúde física e mental para todos eles”, disse o líder da academia Falcão Negro. O local, aliás, fica pequeno com a quantidade de seguidores do Mestre Paulo, como é conhecido.
Pra fazer parte do time, não precisa pagar. Porém, há uma série de fatores que são analisados pela equipe Falcão Negro para, enfim, “vestir a camisa”. As crianças e os jovens, por exemplo, precisam estar estudando. “E com boas notas”, ressalta Paulo. “Nós acompanhamos o desempenho dos menores nas escolas. Os que estiverem com as melhores notas ainda ganham uma medalha como incentivo”, completa.
Trabalhar o lado psicológico dos ‘atletas’ é um dos principais objetivos do time Falcão Negro. “Nós preparamos a mentalidade deles para todos os conflitos. A nossa prioridade é a educação. Depois vem o esporte e a parte física. Normalmente, o pessoal já vem de um meio complicado, com problemas dentro e fora de suas casas. Nós ensinamos a desvencilhar das dificuldades”, ressaltou Paulo.
Ajuda
Para continuar com o trabalho voluntário, Paulo Campolin conta com a colaboração de comércios da região. Uma distribuidora de bebidas ajuda com galões de água para os “atletas”. Outra loja fornece materiais de limpeza para manter o local higienizado. Porém, faltam equipamentos para que o pessoal possa treinar de uma forma mais adequada.
“Nós temos muitas dificuldades com material. Tirei do meu bolso para comprar algumas coisas para a academia. Não temos uniformes e nem quimonos. Não temos condições de comprar luvas de boxe pra eles não se machucarem e a maior parte do nosso material está deteriorada. Não temos recursos”, lamentou Paulo. Para ajudar a equipe Falcão Negro, basta entrar em contato pela página: Facebook ou pelo WhatsApp (41) 98421-2261.
Pais e filhos
A maior parte dos pais procura pela equipe Falcão Negro por conta do comportamento dos seus filhos. Marcelo Sobral é pai do pequeno Caio, de 6 anos. Por indicação de amigos, ele levou o menino para a academia para que o garoto pudesse ficar mais tranquilo em casa e na escola.
“Nós trouxemos ele por causa do comportamento agressivo que vinha tendo. Já são dois meses na academia e ele mudou bastante. Ele não falta a um treinamento. A equipe dá muita ênfase na questão da disciplina e isso é muito bom para as crianças e os jovens”, destacou o pai.
A vida de Fátima Milena, 16 anos, também foi mudada graças ao time do Mestre Paulo. Segundo o pai dela, Dilson Correia, a garota sofria depressão antes de iniciar os treinamentos com a galera do Falcão Negro. “Ela havia ficado internada por 15 dias. Nós não sabíamos o que fazer. Uma psicóloga nos falou para procurarmos algo diferente pra ela. Nós conhecíamos o Mestre Paulo e trouxemos a Milena. Ela melhorou bastante depois disso”, comemorou Dilson.
Casal
Jean Soares, 21 anos, e Caroline Siqueira, 23, se conheceram, praticamente, dentro da academia Falcão Negro. Moradores da região, eles entraram no projeto quando ainda eram crianças. Atualmente, eles são casados e ajudam o Mestre Paulo no treinamento dos alunos menores.
“Estamos há quase cinco anos juntos e tentamos ajudar da melhor forma possível aqui. Já vi muita gente entrando. Tem que ter paciência para trabalhar com as crianças, mas já tenho o jeito para lidar com elas para que possam crescer com mais disciplina e saúde”, frisou Jean.
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