Trabalhando na região da Praça Carlos Gomes há mais de 15 anos, um comerciante de 36 anos, que não quis se identificar, conta que convive diariamente com a falta de higiene no local, onde pelo menos quatro pessoas costumam se abrigar. “Temos muitos moradores de rua por aqui e o maior problema é que eles fazem suas necessidades ao ar livre, tenho que lavar meu comércio todos os dias. São muitos, um deles mora na praça há uns três anos. O pessoal da assistência social vem até aqui, mas ele não aceita ir com eles, mesmo tendo problemas de saúde, sofrendo vários ataques epiléticos”, relata.

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Para um fiscal de loja de 61 anos, que também pediu para não ter seu nome divulgado, a condição é tão ruim que a população acaba inibida de utilizar o espaço público. “Está aumentando cada vez mais o número de pessoas nas ruas. Não tem jeito, pior pra gente, que não pode nem vir descansar na praça na hora do almoço. Eu tenho medo, já fui assaltado duas vezes, me ameaçaram com uma faca. Sei que tem muita gente com dificuldade, desempregada e que acaba na rua, mas também tem muito viciado”, desabafa.

Perto dali, na Praça Rui Barbosa, a situação é ainda pior. Neste ponto do Centro da capital, o grupo de pessoas em situação de rua é contado às dezenas. Presença que afeta lojistas e prestadores de serviço. “Durante o dia alguns deles entram na loja, pedem dinheiro e incomodam os clientes, mas fora isso e também, o mau cheiro, não temos problemas com as pessoas que moram na praça”, diz outro comerciante, há 15 anos atuando na região.

Do mesmo jeito

Foto: Felipe Rosa

Entrevistado há um ano sobre o problema na Praça Rui Barbosa, o dono de uma banca de revistas na Rui Barbosa, Alex Mira, 40 anos, diz que neste período nada mudou. “As pessoas têm uma falsa impressão de que a população de rua diminuiu, mas as coisas continuam iguais, principalmente nas praças do Centro, como aqui, na Carlos Gomes e Tiradentes. Tem gente que diz que os comerciantes são higienistas, mas quero ver quem aguenta sentar em uma praça desta, com o fedor de cocô e xixi espalhado por todos os lados. Ou ter que aturar pessoas pedindo dinheiro, o tempo todo. Fora os crimes, como assaltos, que são comuns. Respeito as pessoas e quem atua defendo o direito delas, como o pessoal dos Direitos Humanos. Mas acho que o direito dos cidadãos também deve ser protegido”, opina.

Prioridade

Foto: Felipe Rosa
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Problema antigo, cuja solução é um desafio para gestores públicos e demais envolvidos, a presença dos moradores de rua é algo comum em toda a cidade, questão que também chamou a atenção e gerou muita polêmica durante a campanha para prefeito, no ano passado. Na época, o então candidato, prefeito eleito Rafael Greca (PMN), afirmou ter sentido vontade de vomitar ao transportar um “um pobre”, em seu carro. Desde então, segundo declarações à imprensa do prefeito e de sua equipe, o problema passou ser tratado com prioridade.

Em uma entrevista ao UOL pouco antes da posse, Greca disse que em seu mandato pretende acolher as pessoas que mais precisam. “Vai ser acolhida (a população informal). Vamos abrir as fazendas para os drogados. Vamos fazer uma grande acolhida social”, prometeu.

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Há uma semana, a Tribuna solicitou uma entrevista com a presidente da FAS, Larissa Marsolik Tissot, para detalhar a política que será adotada em relação aos moradores de rua, mas não foi atendida. Em matéria divulgada no site da prefeitura, ela ressaltou que o atendimento à população em situação de rua terá atenção especial. “Por determinação do prefeito Rafael Greca estamos trabalhando para qualificar os serviços ofertados a essa população. O diálogo será permanente com todos os atores dessa rede, imprescindível para que alcancemos resultados positivos no resgate e na promoção das pessoas que se encontram nas ruas”, disse. Segundo ela, o objetivo é que elas voltem para suas famílias, suas casas.

Ações

Foto: Felipe Rosa

Entre as próximas ações divulgadas pela prefeitura, que devem executadas pelas equipes da Fundação de Ação Social (FAS), em parceria com a Guarda Municipal e demais secretarias, estão a abordagem social, a orientação sobre os serviços oferecidos pelo município, a busca pela qualificação do atendimento e estudos para abertura de novas vagas de acolhimento e de cursos de qualificação profissional.

Também fazem parte das políticas da nova gestão: ações que preveem o combate e a prevenção do uso de álcool e drogas e o tratamento para os casos de transtorno mental; a restruturação da Casa da Acolhida e do Regresso que funciona dentro da Rodoferroviária de Curitiba; a ampliação e qualificação do atendimento nos Centros POP e nos Centro de Referência Especializados de Assistência Social (Creas); a reabertura do Restaurante Popular e o desenvolvimento de um aplicativo para celular que ajudará os cidadãos a identificar serviços disponíveis para população de rua.

PROMESSAS DA GESTÃO GRECA

Foto: Felipe Rosa

– Ampliar e qualificar o atendimento nos Centros POP e nos Centro de Referência Especializados de Assistência Social (Creas)

– Realizar ações de combate e prevenção ao uso de álcool e drogas e atendimento dos casos de transtorno mental

– Reestruturar a Casa da Acolhida e do Regresso que funciona dentro da Rodoferroviária de Curitiba.

– Reabertura do Restaurante Popular do Viaduto do Capanema, que deverá ter uma área de 385 metros quadrados e, nas 40 mesas previstas, servir mil refeições por dia. Inaugurado em novembro de 1993, o restaurante foi fechado no ano 2000. De lá para cá, o imóvel vem sendo usado como abrigo para pessoas em situação de risco e usuários de drogas.

– Dar orientação sobre os serviços oferecidos pelo município, como abertura de novas vagas de acolhimento e de cursos de qualificação profissional.

– No combate à pobreza, implantação do programa estadual Família Paranaense, que oferece ações intersetoriais para atendimento às famílias em situação de vulnerabilidade.

– Implantação de um Creas na Regional do Tatuquara e ampliação das equipes dos demais centros de referência especializados existentes na cidade.

– Para a geração de renda, serão feitas ações voltadas para o desenvolvimento de habilidades das famílias e grupos comunitários. A população terá acesso também a cursos de capacitação profissional, por meio das atividades dos Liceus de Ofícios e de Ensino à Distância.

– Ações voltadas para o atendimento a pessoas vítimas de violência, idosas e com deficiência e para combate ao trabalho infantil. Pessoas idosas e com deficiência poderão contar com serviços domiciliares, para redução e prevenção de situações de violência e isolamento social.

– Assistência jurídica gratuita, oferecida pela FAS em parceria com o Centro de Atendimento Multidisciplinar (CAM) da Defensoria Pública do Paraná.

– Desenvolvimento de um aplicativo para celular que ajudará os cidadãos a identificar serviços disponíveis para população de rua.

– Já o guarda-volumes teve a sede da Praça Osório desativada, passando a funcionar exclusivamente na Rua Dr. Faivre, 1212, diariamente, das 7h às 20h.

Fonte: Prefeitura Municipal de Curitiba

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