Atenção ao desafio. Pegue seus livros e conte quantos foram escritos por autores do sexo masculino. Depois, faça o mesmo com os de autoria feminina. Podemos afirmar, quase com certeza, que as obras escritas por homens serão maioria em sua estante. Faça o teste! Foi pensando nisso que a escritora americana Joanna Walsh criou, em 2014, o movimento #readwomen2014 e, por meio das redes sociais, disseminou uma lista com 50 escritoras de diferentes idades, etnias e gêneros, com um simples objetivo: estimular a leitura de obras escritas por mulheres. Afinal, por que não buscar enxergar o mundo também sob o ponto de vista delas?
Lançado no Brasil há 5 anos por meio da hashtag #leiamulheres, o projeto já conta com adeptos em quase todos os estados que, por intermédio de clubes de leitura, se reúnem mensalmente para debater, conversar e compartilhar suas impressões sobre cada obra proposta. Essa semana a Tribuna foi conhecer a mediadora da campanha em Curitiba, Emanuela Siqueira, que explicou melhor como funciona o Leia Mulheres por aqui.
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“As pessoas buscam respostas para seus questionamentos. Porque você acha que tanta gente compra livros de autoajuda?”, questionou Emanuela à reportagem quando nos encontramos para a entrevista num café próximo ao prédio da Reitoria da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Mediadora e fundadora do clube de leitura Leia Mulheres em Curitiba, desde 2015, a tradutora defende que a leitura de obras escritas por mulheres não possui nenhum fator místico que a diferencie do estudo de livros escritos por homens mas que, de uma forma de ou de outra, pode trazer a resposta a diversos questionamentos da sociedade, a partir do ponto de vista feminino do mundo. “Uma hora você está inserido na realidade de uma guerrilheira russa em plena revolução. Na outra, de uma cidadã de Ruanda que sobreviveu à guerra civil. Temas assim, quase sempre trazidos por escritores do sexo masculino, ganham um significado completamente diferente quando são descritos por mulheres”, explica.
Com uma lista extensa de obras já lidas, o clube de leitura se reúne mensalmente em diferentes pontos de Curitiba, geralmente aos finais de semana. A cada mês, a leitura de um novo livro é proposta por meio da página do grupo no Facebook e, marcada a data do encontro, o tema é discutido de forma livre e aberta, oportunizando a cada participante compartilhar com os demais a sua percepção pessoal da obra em questão. Com uma média de 30 integrantes de diferentes idades e profissões, o Leia Mulheres é gratuito e aberto a quem quiser participar: incluindo o público masculino.
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“Mudou minha vida”
Natasha Tinet, 30, é membro desde 2017. A escritora começou a participar do grupo após uma palestra na qual foi lançado o questionamento: “quantos livros escritos por homens têm na sua biblioteca?”. Após concluir que, em sua própria casa, quase não havia obras de autoria feminina, Natasha decidiu se dedicar mais à leitura de mulheres. “Existe um preconceito muito grande quando se fala em ‘literatura feminina’. No imaginário popular se imagina que elas só falam sobre assuntos ‘água com açúcar’ e não é nada disso. As mulheres são inventivas, usam a linguagem de uma forma diferente e abordam os mesmos assuntos que os homens com propriedade e riqueza”, afirma. Ao todo, Natasha já leu 30 livros por meio do plano de leitura do clube e, entre as autoras que descobriu por intermédio do grupo, suas favoritas foram Elena Ferrante, Scholastique Mukasonga e Svetlana Alexijevich.