Você chama um carro de aplicativo e quando o veículo chega, você se depara com um automóvel todo enfeitado por dentro, cheio de luzes, adereços, fumaça cenográfica saindo pelas janelas e um motorista fantasiado de Super Mario (ou de Darth Vader, Chaves, Chapolin, Zorro, Mortal Kombat, etc). O que você faz? Cancela a corrida e chama outro carro? Ou embarca nesta balada e vai embora? A maioria dos clientes do motorista Márcio Roberto do Amaral, 42 anos, se aventura no Sandero dele e, ao final da corrida, sai com o humor muito melhor do que entrou.
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Márcio trabalha há três anos com aplicativos de transporte e diz que já nos primeiros meses decidiu transformar o carro numa balada. Isso aconteceu no dia que levava algumas moças para uma balada sertaneja e parou no semáforo ao lado de uma limousine de festas. “Vi aquelas luzes todas, o pessoal fazendo festa lá dentro, e tive a ideia de colocar luzes no meu carro também”, diz Márcio, que logo em seguida recebeu a sugestão da cunhada de adicionar adereços como máscaras, chapéus, óculos divertidos e várias outras coisas que os clientes pudessem usar e tirar fotos dentro do carro. “Primeira viagem que fiz com os adereços, o casal que entrou tirou um monte de fotos”, diz Márcio, que já se empolgou e providenciou também uma máquina de fumaça.
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Passados alguns meses, Márcio viu uma reportagem sobre um motorista de ônibus de Curitiba, o Luciano Farias, que se fantasia e enfeita o coletivo em datas especiais. Aí Márcio decidiu enfeitar o carro com temas também e se fantasiar. Já se vestiu de várias coisas, mas o seu personagem principal é o Super Mario.
Mais feliz que antes
As reações dos clientes, quando o Sandero de Márcio chega, são as mais diversas. “O primeiro olhar é quase sempre assustado. Uns olham a placa, pra conferir no aplicativo se é aquele carro mesmo, olham pra dentro de novo. Alguns entram e ficam um pouco desconfiados, mas logo se soltam. Outros já entram no clima, já perguntam se podem colocar os adereços, tirar foto, postar no Insta. Mas uma coisa é certa, ninguém sai de mau humor daqui de dentro”, afirma o motorista.
E são vários relatos. Uma cliente de Márcio fez um post num grupo do Facebook, elogiando o serviço. O post já tem quatro mil curtidas, mais de 500 comentários e, de todos eles, apenas uma pessoa reclamou do trabalho de Márcio. E as histórias de sucesso se multiplicam. Uma vez, o motorista transportou uma mulher que tinha acabado de fazer quimioterapia no hospital. Ela relatou que quando sentou no banco de trás, inicialmente se assustou. Disse que tinha tido um dia muito ruim e sentia muitas dores. “Mas ela disse no Facebook que comigo as dores passaram e o seu dia ficou muito melhor”, orgulha-se Márcio.
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Em outra ocasião, o motorista transportou mãe e filha até o Museu do Olho. “A criança foi brincando dentro no carro e quando chegamos no destino, ela pulou no meu pescoço, me abraçou e não queria soltar. Disse: ‘Mãe, eu quero posar aqui’”. Falando em criança, o carro de Márcio já virou até “remédio”. Ele buscou mãe e filho na CIC, para levar até uma UPA. O menino tinha dor de ouvido e gritava de dor na calçada. “Quando ele entrou no carro, parou imediatamente de chorar. Quando chegamos na UPA, a mãe disse: se você não chorar agora eu te belisco”, ri Márcio.
O motorista também faz maquiagens no rosto, de vez em quando. No Dia das Bruxas, sua sobrinha o pintou como se fosse uma caveira. Em várias outras vezes, trabalhou com o rosto pintado igual aos integrantes da banda de rock Kiss. “Esse último fim de semana foi 100%. Mas já aconteceu de eu chegar, a pessoa ver a maquiagem e cancelar a corrida”, conta.
Reconhecimento
O motorista de aplicativo Márcio Roberto do Amaral, 42 anos, tenta fazer o trabalho o mais personalizado possível para o cliente. “Quando eu vejo que o endereço de chamada é na frente de uma igreja evangélica, eu já coloco uma playlist (lista de músicas) de louvor pra tocar. Se é criança, coloco Galinha Pintadinha. Se a chamada é ali no terreiro do Pai Maneco, que sempre tem muitas corridas, já coloco músicas de Umbanda. Em saída de velório eu já coloquei até Pavarotti”, diz ele, que trabalha de segunda a quinta durante o dia e nas sextas e sábados estende um pouco, para levar a galera para a balada.
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E agradar a clientela é com o Márcio mesmo. Distribui balas, lixas de unha e até camisinhas feminina e masculinas e gel lubrificante, que ele pega no posto de saúde e deixa disponível no carro pra quem quiser levar. “Já distribuí mais de sete mil camisinhas nestes três anos”, diz ele, que por causa de todas estas iniciativas, ganha boas notas e avaliações dos clientes. Até mesmo aqueles mais “chatos”, que sempre avaliam mal os motoristas, dão boas notas para o Uber Balada.
Gorjeta
E não são só boas notas que Márcio recebe. Em geral, ganha entre R$ 30 e R$ 50 de gorjeta por semana e as maiores geralmente estão atreladas ao fim de ano. Mas já chegou a ganhar R$ 100 de dois americanos e um brasileiro. A corrida era curta e custaria o valor mínimo de R$ 4,30. Mas gostaram tanto da balada diurna que deixaram uma nota de R$ 100 sem pestanejar.
Em outra corrida que fez com jovens que seguiam para a balada, a turma gostou tanto do serviço que parou num posto e abasteceu R$ 50 de combustível no carro de Márcio, além de dar a ele dois energéticos e nove cervejas Heineken, que ele levou para curtir com a família em casa.
Questão de sorte
É só uma pena que não é possível escolher Márcio para uma corrida. Tem que chamar um carro no aplicativo, cruzar os dedos e contar com a sorte de ser o Uber balada. Mas numa dessas coincidências da vida, Márcio foi buscar um jovem que estava de aniversário e estava indo para a sua própria festa. “O tema da festa era do Super Mário e ele estava fantasiado como o personagem. Pensa na alegria do rapaz quando me viu chegar fantasiado de Mário também. Ele me fez entrar na festa junto com ele, tirar fotos. E é muito comum também as pessoas pedirem para desviar ou aumentar a rota, porque querem mostrar o Uber balada pra alguém. Ou então, mandam mensagem para os familiares e quando chegamos ao destino, a família está na porta filmando e fotografando. Isso aconteceu com um passageiro que peguei no aeroporto. Ele me disse que era a primeira vez que estava indo no banco da frente. Quando chegamos na casa dele, a esposa já estava na frente com o celular na mão”, diverte-se.
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Objetivo alegria
“Olha, eu já consegui melhorar o dia de muita gente. E o fato de andar assim ‘diferentão’ serve até como proteção para mim, pois me encaixo em todas as galeras, personalizo todos os ‘rolês’ e evito roubos. A intenção de ter transformado meu carro assim foi fazer as pessoas saírem das suas zonas de conforto, desse piloto automático que somos submetidos todos os dias e de alguma forma melhorar o dia de cada um dos meus passageiros. O único que não melhora muito o humor é meu filho, quando eu vou buscar ele na escola com esse carro. Ele pede pra eu parar longe da escola”, diz Márcio, aos risos.
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