As mortes deste ano no Condomínio Serra do Mar I e II, no bairro Riacho Doce, em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), são consideradas esclarecidas pela polícia, mas não resolvidas. Faltam prisões e apreensões. O local, que é conhecido como “Serra do Mal” e “Condomínio da Morte”, foi palco de pelo menos cinco mortes em 2017 – totalizando 32 homicídios desde 2012, ano da entrega dos 594 apartamentos.
Conforme revelado pela Tribuna do Paraná no último dia 4 de abril, o comando de tudo o que acontece nos prédios vem de dentro da Penitenciária Estadual de Piraquara II (PEP II), de um traficante condenado a mais de 100 anos de prisão e que integra uma facção criminosa. Do lado de fora da cadeia, adolescentes são os que mais atuam seguindo orientações dele, desde decisões simples, como, por exemplo, sobre quem vai ser contratado para a portaria do residencial, passando por intimidação dos moradores, tráfico de drogas, até crimes com a intenção de “impor respeito”, como assassinatos.
No esclarecimento das mortes, as duas delegacias da cidade foram mobilizadas e pelo menos 32 pessoas tiveram suas vidas vasculhadas pelas equipes, em busca de provas sobre os crimes. Além da Polícia Civil, outras forças da segurança já foram mobilizadas para atuarem juntas nesse trabalho de investigação, que busca colocar atrás das grades os autores das mortes registradas dentro e nos arredores do Serra do Mar.
Neste ano, todos os crimes cometidos no condomínio foram brutais. Em um deles, em fevereiro, uma mulher foi queimada dentro de pneus. Os dois últimos assassinatos, do paratleta Zecão e – uma semana depois – o de Valéria Santos, chocaram até mesmo a polícia. “São casos de pessoas que não morreram porque estavam envolvidas com o tráfico, por exemplo, mas sim porque de alguma forma incomodaram. Talvez com denúncias ou contrariando o que presenciavam”, explicou a delegada Tathiana Guzella, da Delegacia da Mulher e do Adolescente do município metropolitano.
Amadeu Trevisan, que comanda a Delegacia Regional de São José dos Pinhais, afirma que todos os homicídios estão solucionados. “Em alguns casos, temos foragidos. A maioria deles, adolescentes. A polícia tem conhecimento sobre o que acontece por lá, quem comanda tudo isso, mas por uma questão de sigilo, não podemos revelar”, disse.
Comando invisível
O comando dos condomínios está sendo investigado não só pelas duas delegacias, mas também por outros órgãos da Polícia Civil. “Existe uma pessoa, que é investigada, mas mais do que isso, dentro do Serra do Mar há um comando invisível, que faz com que impere a lei do silêncio. Os moradores muitas vezes querem falar, mas têm medo de colocar a própria vida em risco”, considerou a delegada Tathiana.
A polícia atribui o esclarecimento de todas as mortes ao trabalho em conjunto das duas delegacias – principalmente por envolver adolescentes como responsáveis pelos assassinatos. A Tribuna do Paraná apurou que um dos menores, que ainda não foi apreendido porque sumiu, tem 14 anos e é extremamente violento, sendo responsável por mais de uma morte no condomínio. O nome dele, bem como o dos outros envolvidos, não é divulgado por dois motivos: devido ao fato de ele ser menor de idade e para que não atrapalhe as investigações.
Ainda que de maneira invisível, como definiu a delegada, o comando do Serra do Mar é feito como se fosse uma divisão de cargos. O traficante preso é como se fosse o diretor do esquema e, do lado de fora, uma fonte da Tribuna garantiu que existem pelo menos dois “gerentes”, que atuam como síndicos do condomínio, e que passam as orientações aos outros subordinados, a maioria adolescentes. “Tudo, absolutamente tudo, é decidido pelo preso. Ele define até mesmo se alguém vai morrer e como será essa morte. A execução fica por conta dessa equipe”, denunciou uma pessoa, que pediu para não ser identificada.
Esperando sentados
Conforme Tathiana Guzella, os investigadores já conseguiram identificar os responsáveis pelos crimes, mas espera que o Poder Judiciário tome decisões. “Por isso dizemos que todos os assassinatos foram esclarecidos, mas não completamente resolvidos porque faltam prisões e internações. As medidas que cabiam à Polícia Civil, que era a representação da prisão ou internação, nós tomamos. Continuamos esperando a resposta dos vários pedidos que ainda estão na Justiça”. A delegada considera o que acontece no Serra do Mar como algo muito mais complexo do que se imagina. “Nosso trabalho continua, visualizando sempre todos os lados do que acontece, mas já sabemos o que se passa lá dentro e as medidas que vão ser tomadas”.
5 mortes no Serra do Mar em 2017
11/01/2017 – Airton Bernardo da Silva, um dos síndicos do residencial.
26/01/2017 – Letícia Cristina da Silva, morta com tiros no rosto.
24/02/2017 – Andrieli Stefani, queimada em pneus.
02/04/2017 – José Agmarino de Jesus Coelho, Zecão da Canoagem, morto na frente da família.
09/04/2017 – Valéria Santos, encontrada próximo ao condomínio.