“Um ano sem ela, mas pra mim, cada dia tem doído como se durasse um ano”, assim define Cleuza Gonçalves, a mãe de Andriely Gonçalves, de 22 anos, que foi morta no ano passado. Hoje, um ano depois de confirmar que o corpo achado na Estrada da Graciosa era o da filha, Cleuza ainda sente que a Justiça precisa ser mais rígida e quer que a morte da filha seja vista como exemplo para outros tantos casos registrados de feminicídio. O policial militar Diogo Coelho Costa, acusado da morte de Andrielly, continua preso, mas um habeas corpus é analisado e pode colocar o PM em liberdade.
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À Tribuna, a mãe da jovem desabafou que, embora o tempo tenha passado, a ferida não cicatrizou. “Não tenho mais ela perto de mim. É uma dor insuportável. Só eu, como mãe, sei como dói não ouvir mais a voz dela. As pessoas me dizem ‘com o tempo, a dor vai minimizar’, mas para mim isso é mentira”. Ainda mais que neste domingo é comemorado o Dia das Mães.
Desde a época do crime, a defesa de Diogo enfatiza que ele não foi o autor do assassinato. Na época, o advogado Luiz Roberto Falcão afirmou que o PM era inocente e que não havia provas no inquérito que ligassem Diogo ao assassinato. A mãe, porém, contesta. “A defesa pode dizer que ele não matou, mas eu tenho certeza que foi ele. Foi a única pessoa que saiu com ela às 3h40. Se não foi ele, quem matou a Andriely? É isso que fico me perguntando todos os dias”.
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Para Cleuza, se não tivesse sido Diogo o autor do crime, o assassino deveria ser apontado pela polícia, mas isso não aconteceu. “Ele saiu com a minha filha e eu a encontrei morta depois de um mês. O que eu mais quero é que ele seja condenado, pois tem que pagar pelo que fez, pela crueldade. Ele vestia uma farda para defender e não para matar. No caso dele, usou uma farda para matar”, desabafou a mãe.
Emocionada por lembrar de tudo que passou há um ano, Cleuza sentiu novamente as mesmas dores do passado. “Ele matou uma pessoa inocente, indefesa como a Andriely. Uma menina que estava sozinha com ele e com certeza pediu socorro porque sabia que morreria. Tudo que eu quero é que ele pague pelo que fez e que a Justiça veja este lado, que ele tem que pagar”.
Diogo segue preso, mas a mãe de Andriely avalia que ele tem benefícios. “Para ele, onde está mantido preso não é prisão, é um spa. Come e bebe bem, dorme num lugar bom, tem visitas frequentes e a família ainda recebe um salário que eu praticamente ajudo a pagar, pois vem dos impostos”.
Cleuza disse que o caso de Andriely, que ganhou repercussão nacional, deveria ser visto pela Justiça com mais seriedade. “A Justiça tem que ver o lado das mães que perdem a filha para estes homens covardes. Isso não pode ficar impune, que a Justiça faça que estes homens paguem pelo que fizeram. Costumo dizer que prisão perpétua quem teve foi minha filha, porque onde ela está, nunca mais ela vai sair. Já o Diogo, por exemplo, pode sair assim que cumprir sua pena”.
Segredo de Justiça
Em outubro do ano passado, foi feita a audiência de instrução do caso e Diogo compareceu. O promotor de Justiça Alfredo Cherem Neto, da 2ª Vara de Colombo, Região Metropolitana de Curitiba (RMC), disse que parte do processo está em segredo de Justiça, mas foram feitas todas as alegações finais para que o PM seja submetido ao júri popular. “Pedido foi feito com base no inquérito. A defesa se manifestou, pedindo que ele não fosse encaminhado ao júri e a assistência de acusação concordou com o nosso pedido, que ele vá sim ao júri”, destacou.
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Segundo o promotor, na época a juíza Katiane Fátima Pellin, titular da 2ª Vara de Colombo, acatou ao pedido da promotoria e submeteu Diogo ao julgamento. “A Justiça entendeu que as provas do crime eram suficientes e que havia indícios de autoria, mostrando que a acusação não é infundada como a defesa está tentando falar desde o inicio”. Este pedido, porém, está pendente. “A defesa interpôs um recurso e agora segue o trâmite para ser analisado. Assim que se esgotarem as apelações, caso a defesa não consiga reverter, vai ter o júri”.
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A análise do recurso da defesa de Diogo vai ser feita pelo Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR). “Nós contra-argumentamos que não existe fundamento e que existe indício e prova de feminicídio (homicídio qualificado) e ocultação de cadáver (porque, como é sabido, o corpo foi encontrado na Estrada da Graciosa)”, defendeu o promotor de Justiça.
Ao final do recurso, caso a defesa não seja atendida, o advogado de Diogo pode recorrer a estâncias superiores. “Dependendo da defesa, depois que o TJ definir, a defesa pode recorrer ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) ou ao Supremo Tribunal Federal (STF). De qualquer forma, acreditamos que o julgamento aconteça no final deste ano ou no começo do próximo”.
O processo da morte de Andriely, conforme o promotor, é complexo e, por isso, se estende por tanto tempo. “Mas podemos dizer que os trâmites estão correndo de forma rápida. Só a acusação arrolou 12 testemunhas e a defesa também convocou bastante gente, por isso ao meu entender, foi rápido”.
O que diz a defesa?
Na época das audiência de instrução, o advogado que representa Diogo afirmou à imprensa que foi comprovado que a jovem tinha problema de saúde e que, por isso, o vestígio de sangue no banco do carro era por isso, se referindo à endometriose que Andriely tinha. Luiz Roberto Falcão disse também que não havia, nos autos, a informação de que foi encontrado sangue no porta-malas do carro de Diogo.
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Ainda conforme o advogado, na madrugada do crime o PM deu uma ‘carona’ a Andriely, que estaria de viagem para São Paulo. Diogo teria levado a jovem até um suposto local, que não foi confirmado pelo defensor. A viagem, porém, foi negada pela mãe da vítima, que disse que a jovem tinha voltado de São Paulo há pouco tempo, onde passou férias na casa do pai e da tia dela. “Ele disse que eu encontraria minha filha na Estrada da Graciosa, mas não disse o local. Falou que eu ia encontrá-la, mas não com o mesmo sorriso no rosto”, lembrou Cleuza.
O advogado de Diogo afirmou que o processo corre pelos trâmites comuns. “Fizemos o recurso da sentença de pronúncia da juíza, para anular essa sentença, e o Ministério Público do Paraná (MP-PR) recorreu, para acrescentar a questão do agravante da dissimulação. Na última terça-feira, encerrou o prazo para que eu respondesse a este recurso feito pelo MP. Depois, continua sob a análise do TJ”, explicou Luiz Roberto Falcão.
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Conforme o defensor, o MP denunciou Diogo por asfixia. “Mas quando questionei o delegado que investigou o caso, ele disse que não houve asfixia e sim esganadura. Essa é a dúvida que a defesa tem, sobre qual é a acusação. Esganadura não tem nos autos, em nenhum laudo. Estamos bem tranquilos por conta das contradições”.
Relembre o crime
Diogo é apontado como principal e único suspeito do desaparecimento e da morte de Andriely. Os últimos registros, que mostram os dois juntos, foram imagens de câmeras de segurança, que filmaram o casal saindo do apartamento da jovem por volta das 3h da madrugada no dia do desaparecimento.
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Como a família da jovem mora no litoral, há a possibilidade de que ele tenha convencido Andriely a ir de carro com ele até a casa dos pais dela e no caminho cometeu o crime. A jovem vivia com o PM há quatro anos e, segundo a Polícia Civil, o relacionamento tinha acabado. “Ele não aceitava o fim do namoro”, destacou o delegado Reinaldo Zequinão Neto, na época do crime.
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