Patrocínio
Você pode estar usando uma roupa feita de garrafa PET reciclada e nem sabe. A empresa do jornalista Aluísio de Paula, 44 anos, coloca estes produtos no mercado curitibano há 10 anos. Para ele, fazer roupas com PET reciclada foi um jeito de mostrar às pessoas a importância de preservar o meio ambiente, repensar os recursos que utilizamos e ainda valorizar os artistas locais.
“A ideia era entregar ao mercado um produto de qualidade, ecologicamente correto, evitando usar mais produto virgem, que demora anos para ser decomposto pela natureza”, explicou o empresário, que com sua empresa ajudou a tirar mais de 250 mil garrafas PET do meio ambiente. Estima-se que sejam necessárias duas garrafas para cada camiseta. No começo, conforme Aluísio, a oferta de malhas com PET era pequena e o material muito caro. E as pessoas não queriam pagar mais pelo apelo ecológico. Mas, diz o empresário, além do preço ter diminuído, o pensamento das pessoas e empresas mudou muito de lá para cá.
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O processo começa com os catadores de materiais recicláveis ou a coleta seletiva da prefeitura, que levam o material às cooperativas, organizam e os vendem às indústrias que higienizam e moem as garrafas. Os pedaços passam por duas fusões a 300.º C, para filtragem e retirada de impurezas. Na segunda fusão a PET é separada em filamentos, que viram uma fibra, 20% mais fina que o algodão. Em seguida, 50% de PET e 50% de algodão são unidos e formam o fio que, no tear, se transforma em malha, que pode ser usada em qualquer tipo de roupa. No caso de Aluísio, ele produz camisetas e blusas de moletom com a malha de PET e está para lançar outras peças de vestuário.
Conforto
Quando o fio é feito exclusivamente de PET reciclado, a malha fica grosseira e encorpada, cheio de rebarbas do fio, desconfortável e não permite a transpiração. Mas quando ele é misturado com o algodão (50% de cada produto), o fio misto fica confortável.
“O algodão deixa a malha de PET mais macia”, diz ele. Com este fio penteado, bem fininho, o resultado é uma malha muito macia, que permite a transpiração, resistente (20% mais que a de algodão, pois pode durar até sete anos), sem deformar, dar bolinhas, esticar ou encolher, além de ser fácil de passar ou nem precisar, conforme o jeito que for guardada. “No começo não foi fácil às pessoas aceitarem, pois a oferta de malha PET era pequena e o produto era caro. Hoje, a malha PET custa quase o mesmo preço da malha de algodão fio 30”, fala Aluísio.
Ele também confecciona camisetas com algodão orgânico, cultivado sem agrotóxicos, já que, segundo ele, 25% de todos os pesticidas do planeta vão para as plantações de algodão. Além de camisetas, sua empresa também produz ecobags, que são as sacolas de pano que podem ser usadas para muitas finalidades, desde as compras de mercado, até transporte do material da faculdade. Nelas, o empresário usa o algodão cru convencional, visto que o preço do algodão orgânico inviabilizaria a produção da ecobag. Ele ressalta que o algodão cru é também uma opção ecológica. “Enquanto uma sacola de plástico demora de 500 a 600 anos para se decompor no meio ambiente, o algodão cru pode se decompor em seis meses”, analisa ele.
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Arte
Aluísio mostra que o apelo ecológico não está somente nos materiais empregados nos produtos. A empresa dele, a Econtexto, também trabalha com designs originais, criados pela própria empresa, por artistas locais ou por artistas brasileiros que tenham este apelo ecológico de sustentabilidade e preservação ambiental em suas produções. Um exemplo são as camisetas com obras de Poty Lazarotto, que ele conseguiu licenciar com a família do artista curitibano.
Heróis da reciclagem
O jornalista Aluísio de Paula, 44 anos, dono da Econtexto, empresa de roupas feitas com garrafa PET reciclada, tem outra “mania” além de ser ecológico. Ele gosta de fotografar carrinheiros, os catadores de materiais recicláveis pela cidade. Na maioria das vezes fotografa de dentro do carro mesmo, com o próprio celular, e posta as fotos em sua conta pessoal do Instagram.
“Eu sempre gostei muito de fotografar, desde antes da faculdade. E fotografo esse tema porque acho os catadores heróis. Pensa no carrinheiro que acorda de madrugada, sai lá da periferia. Ele coloca alimentos dentro de casa com o que sobra da sua casa, com o que você jogou fora, independente se você separou ou não corretamente o lixo. No fim da tarde, o cara ainda está lá em cima do carrinho, pisando em cima dos materiais, socando para caber mais. Você não vê o trabalho deste cara, mas você vê a minha camiseta pronta depois. Mas é ele que está por aí catando a garrafa PET, fazendo girar toda a engrenagem”, explica ele.
Aluísio ainda exemplifica como encontra heróis no meio destes trabalhadores. “Às vezes a gente vê pessoas idosas, letradas, ou mulheres com quatro filhos, empurrando junto um carrinho de bebê. Algumas pessoas criticam porque as crianças não estão na creche. Mas ela está ali, cuidando dos filhos e ainda dando exemplo de trabalho para eles. Por isso fotografo, porque pra mim ela é uma heroína”, diz ele, que um dia, já se deparou com uma menina muito linda atrás de um carrinho de papel. “Ela podia estar numa capa da Vogue, mas está ali recolhendo a PET que vira a minha camiseta. Por isso fotografo”, analisa ele.
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