Mocó gigante

Antigas instalações do terminal da Penha e Itapemirim, no Bairro Atuba, virou uma " Zumbilândia". Foto: Átila Alberti
Antigas instalações do terminal da Penha e Itapemirim, no Bairro Atuba, virou uma " Zumbilândia". Foto: Átila Alberti

A falta de vigilância no local é nítida. A reportagem da Tribuna facilmente acessou a parte interna do complexo, após duas pessoas abrirem o portão principal identificando-se como funcionários de uma empresa de demolição. Segundo essas pessoas, uma ação de retirada de todo o tipo de equipamentos estava sendo feita nas edificações do espaço e foi possível ver alguns materiais fiação de cobre, lâmpadas, armários, mesas espalhados pelo chão. Na entrada, apesar de uma guarita indicar a presença de segurança 24 horas logo ao lado do portão, não havia ninguém fazendo a vigilância.

Sede da Igreja Mundial do Poder de Deus, situada no Batel. Foto: Aliocha Mauricio
Sede da Igreja Mundial do Poder de Deus, situada no Batel. Foto: Aliocha Mauricio

Antes de ficar abandonado, o local funcionava como sede da Igreja Mundial do Poder de Deus, inaugurada em maio de 2013 em culto que reuniu 50 mil fiéis. Segundo a psicóloga Sandra Mara Roesler, 61 anos, moradora da vizinhança, desde a desocupação do local pela igreja, a movimentação de pessoas desconhecidas aumentou nas proximidades da casa dela e junto veio a sensação de insegurança. “Minha vizinha foi abordada por pessoas armadas em frente ao portão de casa. Não dá para afirmar que isso acontece por causa do abandono daquele local, pois acho que o aumento da violência tem sido geral na cidade, mas o que posso dizer é que vemos pessoas desconhecidas andando por aqui. E, ao lado do muro da Itapemirim, durante o dia tem gente dormindo dentro de caixas de papelão”, conta a Sandra Mara. Além disso, ela costuma ouvir barulhos de carros e motos vindo do local durante à noite. “Chega a parecer que estão fazendo um racha ali dentro”, reclama.

Invasões

A reportagem pode perceber essa movimentação quando deu um giro em torno do terreno do complexo, que ocupa uma grande área circulada pela BR-476, Avenida Marechal Mascarenhas de Moraes, Rua Roaldo Brun e Rua Bernardo Bubniak. Na Mascarenhas de Moraes havia uma pessoa dentro de uma caixa de papelão que estava encostada na parte externa do muro do complexo. Dando mais uma volta, dessa vez pela Bernardo Bubniak, outra pessoa que estava no lado de dentro da empresa saiu correndo ao perceber a aproximação da equipe da Tribuna. Após o giro, voltamos a falar com a equipe de demolição. Sem nos identificarmos, eles confirmaram que pessoas costumam invadir o local durante o dia, mas saem correndo quando observam a chegada de alguém. Eles também disseram que costumam encontrar objetos pessoais guardados ali e que apenas um vigia faz a segurança no local durante a noite.

Foto: Átila Alberti
Foto: Átila Alberti

No entanto, chama a atenção a presença de uma empresa de demolição trabalhando no local. Desde março de 2016, a Viação Itapemirim entrou em intervenção judicial, com dívidas trabalhistas e com fornecedores declaradas em valores de cerca de R$ 330 milhões e um passivo tributário de cerca de R$ 1 bilhão. Por esse motivo, o patrimônio só poderia ser movido com autorização judicial e depois de passar por uma assembleia entre sócios e credores sob supervisão da justiça, o que ainda não aconteceu.

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Bronca judicial

Depois de constatar a situação de depredação, a Tribuna foi atrás dos responsáveis. Ao ser questionado sobre o suposto trabalho de demolição que vem ocorrendo no complexo do Atuba, o administrador judicial da Viação Itapemirim, João Manuel de Sousa Saraiva, da Advocacia Saraiva e Associados, nomeado pela 13.ª Vara Cível Empresarial de Recuperação Judicial e Falência de Vitória (ES) onde foi protocolado o pedido de recuperação da empresa informou (por e-mail) desconhecer a contratação do serviço. “Em decorrência do questionamento de ‘demolição’, foi encaminhada uma equipe de patrimônio para averiguação in loco já que houve obras quando realizada venda do imóvel para a Igreja Mundial Poder de Deus, posteriormente rescindida o que pode estar sendo configurado como ‘demolição’. Isto será averiguado e informado pela equipe”, escreveu Saraiva.

Sobre a preocupação da vizinhança com a falta de segurança no espaço, também por e-mail, João Saraiva relatou que “o imóvel foi objeto de uma operação, cusjo resultado se encontra junto aos autos aguardando decisão da assembleia geral de credores. A posse do imóvel continua com a recuperanda [a Viação Itapemirim] até tal momento possuindo vigilância e não se encontra abandonado, mas sim, sem utilização”, explicou.

Foto: Átila Alberti
Foto: Átila Alberti

Em contato por telefone com a empresa de segurança, que no adesivo colado no vidro da guarita se apresenta como Grupo Ronda, o responsável Jeferson Quadros confirmou a presença de vigilância 24 horas, o que não foi observado pela equipe da Tribuna no dia da reportagem. “Estamos atuando 24 horas. A empresa Itapemirim está em recuperação judicial e nos contratou”, explicou. Jeferson também confirmou a presença de uma equipe de demolição no local. “O que está sendo feito é a retirada de material de dentro da empresa”.

Após alguns dias do primeiro giro pelo complexo da Itapemirim, nossa equipe de reportagem voltou ao local. Desta vez o espaço estava “mais bem cuidado”, com cadeado no portão e segurança presente. A tal empresa de demolição também não estava mais no local.

Polícia

Por intermédio de sua assessoria de imprensa, a Polícia Militar informou que a partir da denúncia apresentada, vai reforçar o policiamento nos arredores da propriedade. Quem ficará com essa incumbência é 3.ª companhia do 20.º Batalhão da Polícia Militar. A PM informou ter conhecimento de que uma empresa de segurança guarda o local, mas aumentará as abordagens a indivíduos em atitudes suspeitas na vizinhança. A recomendação da PM, no entanto, é que os moradores que se sintam incomodados registrem reclamações via 190 passando descrições e características dos frequentadores do espaço.

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