Curitiba

Memórias de um goleador

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No RG consta Osvaldo Risseto. Mas, pelas bandas de Santa Felicidade, é conhecido apenas como Valdo, histórico jogador do futebol amador de Curitiba. No currículo constam seis títulos da Taça Paraná e outra meia dúzia de canecos da Suburbana. E conquistou os campeonatos vestindo as camisas dos rivais Triste Futebol Clube e Sociedade Operária Beneficente Iguaçu. Foi tanta bola na rede que hoje em dia não consegue se lembrar do número de vezes em que balançou o barbante pelos campos do estado. “Só sei que fiz muito mais gols de cabeça do que com o meu pé direito”, brinca Valdo, que em 1971 foi artilheiro da Taça Paraná com 18 gols marcados.

Prestes a completar 72 anos, Valdo é nascido e criado em Santa Felicidade. Na vida, trabalhou até se aposentar na histórica fábrica de malas Ika. Nos campos, iniciou sua carreira nos juvenis do Trieste jogando como meia atacante. Tinha habilidade com a perna direita e era mortal no jogo aéreo. Por causa desses predicados, tentou na década de 50 a carreira profissional no Britânca e jogou as temporadas 64 e 65 pelo clube. “Não sei ao certo explicar como eu acabei não seguindo, mas alguma coisa não deu certo e eu acabei voltando pro futebol amador”, explica.

Conformado, Valdo voltou a vestir a camisa rubro-verde do Trieste nos campos do futebol amador paranaense. Por lá foi multicampeão. Num quarto em sua casa guarda cuidadosamente 35 faixas de campeão. Entre elas estão cinco em referência as Taças Paraná conquistadas pelo esquete triestino. “Foram muitas alegrias pelo Trieste, que é o time de toda a minha família. Por essa camisa cheguei a jogar nas 11 posições dentro de campo. Inclusive como goleiro. E olha que quando tive que pegar no gol, saí invicto sem buscar nenhuma bola nos fundos das redes”, brinca.

Ainda no Trieste foram mais seis títulos da suburbana curitibana. “Ainda ganhei mais coisa jogando pela Malas Ika nos campeonatos entre empresas, entre outras conquistas atuando por outra firmas e clubes de bairros da cidade”, se orgulha.

Valdo ficou conhecido no mundo do futebol amador pro ser um exímio cabeceador. Afirma sem pestanejar que 3/4 de seus gols foram de cabeça. “Tive um treinador que me ensinou a ir por trás da zaga. ‘Enquanto você vem de frente, o zagueiro está correndo de costas. Aí vantagem é sempre sua’ me dizia o técnico. Era exatamente o que fazia”, lembra.

Além de bom no jogo áreo, Valdo era o cobrador oficial de pênaltis. “Cobrava sempre no canto direito do goleiro. Até que um dia, o goleiro do Fanático, de Campo Largo, que me conhecia muito bem, pegou um pênalti meu. Depois disso nunca mais cobrei um penal”, conta.

Título pelo rival

Apesar de ser triestino até a medula, o ex-jogador guarda com carinho as lembranças da única temporada em que vestiu do rival. “Foi uma situação na qual eu aceitei um convite que parecia ser impossível de aceitar. Mas topei e no único ano quem que joguei pelo Iguaçu, fomos campeões. É o único título da Taça Paraná do clube até hoje”, lembra ele que se orgulha de ter vestido as camisas dos clubes rivais. “Antigamente tinha muita rivalidade, mas mesmo assim é um orgulho ter jogado pelo Trieste e pelo Iguaçu. O que ficou foram as muitas amizades que fiz nos dois clubes. Até hoje vou, quando eu posso, vou nos jogos e converso com todos”, conta.

Hoje, longe dos campos, Valdo acompanha futebol apenas pela televisão. Apesar de ir a um ou outro jogo do futebol amador, ele se entristece ao falar sobre o cenário atual da categoria. “Hoje tem muito dinheiro envolvido. Quando fui pro Iguaçu, pedi apenas uma chuteira nova. Cheguei a cortar a grama do campo do Trieste para treinar. Tudo por amor ao futebol amador. Atualmente o dinheiro tomou conta e não temos times mais envolvidos com seus bairros. Pra ter ideia, no Iguaçu e no Trieste não tem nenhum jogador aqui de Santa Felicidade”, lamenta.

Mesmo lamentando os novos tempos do futebol amador, Valdo mantém o bom humor e faz questão de lembrar e relembrar tudo o que viveu dentro de campo. “Foram muitas histórias, muitos amigos e muita alegria. Não tenho do que reclamar”, conclui.

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