Preto, Garoto e Raposinha, três cães simpáticos e sem raça definida, passam os dias em frente a uma loja de tecidos na Rua Bley Zornig, no Boqueirão, em Curitiba, tanto que já viraram os xodós do dono do comércio. Mas não são só eles. Diariamente muitos outros cachorros da região se reúnem no local, para receber comida, água e também, muito afeto. Quem cuida desta bicharada é o comerciante Mauri Sell, 58 anos, que dedica mais de três horas dos seus dias, sob sol ou chuva, para tratar dos cães que encontra no trajeto que faz de sua casa no Hauer, até a loja no bairro vizinho. No total, atualmente cerca de 36 cães são protegidos por Mauri.
“Abro a loja às 9h, mas saio de casa uma hora e meia antes. Pelo caminho, em muitas esquinas os cachorros já me esperam. Eu paro, dou comida e água e depois, sigo para o trabalho. Muitas vezes falo com os vizinhos e pergunto se o cachorro tem dono, se posso deixar ração e eles conseguem colocar um pouco de água todos os dias para os cães”, explicou Mauri.
Este trabalho, feito com amor e dedicação exemplar, é realizado por ele há aproximadamente 20 anos, na maioria das vezes com recursos próprios. “Tenho a loja aqui há 17 anos, mas antes disto já cuidava dos cachorros. Essa paixão aprendi com meu pai e minha mãe, a gente sempre teve cachorro em casa. Hoje, boa parte da alimentação dos animais sai do meu bolso, mas recebo algumas doações de ração e medicamentos de alguns clientes e comerciantes parceiros”, disse.
Sem distinção
Para Mauri não faz diferença se cães que encontra pela rua têm ou não um dono. O mais importante é não deixar nenhum bicho de barriga vazia. “Os cachorros abandonados não têm culpa. Eles precisam da ajuda de alguém. Procuro cuidar de todos que aparecem sempre na loja, e quando vem um novo, quando posso vou atrás, para ver de onde ele é. Se tiver dono e ele não puder cuidar do cachorro, me ofereço para ajudar, para que o bicho não precise sair de sua casa”, relatou.
No entanto, Mauri acredita que o problema do crescimento da população de cães abandonados nas ruas é fruto da falta de compaixão das pessoas e de políticas públicas.“As pessoas não precisam fazer tudo o que eu faço, um pequeno gesto de cada um, como colocar um potinho de agua em frente de casa já ajuda muito. O que sobra em casa e muitas vezes vai para o lixo também dá para alimentar pelo menos um animal. Não é difícil. Mas tem muito cachorro nas ruas, aqui no Boqueirão, principalmente perto do Canal Belém. Seria bom se eles fossem castrados, se a prefeitura fizesse algo por eles, um trabalho sério”, opinou o protetor, que nestes anos, já facilitou a adoção de mais de 50 cães.
As adoções dos cães cuidados por ele só serão feitas para as pessoas que comprovem que poderão cuidar do animal, oferecendo comida e os cuidados necessários. Mauri
, disse que se não for assim, prefere que os cachorros fiquem onde estão, que ele cuida.
Conquistando os vizinhos
A convivência harmoniosa dos animais com os clientes, moradores e demais comerciantes da Rua Bley Zornig é visível, afinal, os animais são dóceis e bem tratados. Mas segundo Mauri, as coisas nem sempre foram assim.
“Tive problemas no início, mas aos poucos o pessoal foi se sensibilizando e se apegando aos cachorros. Entre meus clientes, a maioria aprova a presença dos cães. Tanto que alguns me ajudam, como é o caso de uma veterinária que me orienta e já até doou remédios. Também tenho ajuda dos vizinhos e alguns lojistas, quando viajo minha ‘equipe’ não deixa os cachorros desemparados. Minha esposa e duas filhas também gostam dos cães e ajudam a cuidar” relatou Mauri.
Interessado?
Para conhecer os cães, doar ração ou medicamentos, basta entrar em contato com o Mauri:
Loja Centro dos Retalhos
Rua Bley Zornig, 1122
Fone: 3287-7396
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