“As brigas sempre acontecem do lado de fora da escola e todas são marcadas por redes sociais”. Este é o relato de alguns alunos do Colégio Estadual Desembargador Cunha Pereira, no bairro Santa Teresinha, em Fazenda Rio Grande, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), que nessa semana viveu o medo de ser palco de um massacre.
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Doze dias após a tragédia que aconteceu em Suzano, São Paulo, onde dez alunos morreram, um jovem de 14 anos, estudante da escola Cunha Pereira, foi apreendido pela Guarda Municipal após ameaçar colegas e anunciar que um massacre aconteceria em breve. Em sua casa a polícia encontrou diversas armas, simulacros e outros equipamentos de uso exclusivo da Polícia Militar.
“Esse episódio de massacre é um assunto novo, mas as ’pancadarias’ sempre aconteceram. Eu sempre recebo mensagens dizendo que tal briga vai acontecer em tal horário”, contou um estudante. Por segurança, as testemunhas ouvidas não serão identificadas. Outros alunos, que confirmaram a versão, disseram que muitas vezes têm receio de comunicar à direção, já que as brigas são organizadas por estudantes conhecidos e ‘populares‘.
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Por conta do medo, raramente diretores ficam sabendo dos episódios com antecedência e, quando são informados, entram em contato com o Batalhão de Patrulha Escolar (BPEC) e acionam alguns funcionários para conter os brigões. “A gente tem medo, e eu queria trocar ela (filha) de escola, apesar de achar o ensino bom. Ela chega todo dia em casa dizendo que vai ter briga na saída. É muito complicado!”, contou uma mãe.
Navegando pelo YouTube não é difícil encontrar vídeos de algumas brigas que aconteceram na escola. Em um deles, publicado há quase dois anos, duas jovens aparecem trocando socos, e alguns alunos caem na gargalhada. A maioria deles registra a confusão com o celular e forma uma espécie de torcida em volta das garotas. Em 2017, segundo moradores, três alunos teriam se ferido em uma briga.
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Questionada sobre as situações mencionadas por alunos, a Secretaria Estadual de Educação do Estado do Paraná (Seed) disse que a direção não ficou sabendo dessas brigas, e que os alunos que tem medo de denunciar podem entrar em contato com a ouvidoria da Seed de forma anônima, no telefone 0800-41-9192.
Mas não acaba por aí!
Em maio de 2018 um suicídio coletivo, que supostamente aconteceria na escola, foi denunciado à secretaria de Educação e deixou diversos pais em pânico. O boato teria surgido em conversas do Whatsapp e rapidamente viralizou.
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“Foi assustador demais, porque minha filha chegou em casa falando que eles estavam marcando o suicídio por conversas em grupos. Lembro que não queria deixar ela vir. Era muito complicado porque eu tenho uma outra filha mais nova e então começamos um diálogo dentro de casa. É bem complicado, a gente fica muito preocupada”, relatou uma mãe.
Na época da denúncia, a Seed organizou algumas palestras e acionou o Batalhão de Patrulha Escolar. “Os pais dos alunos das escolas envolvidas foram avisados e as equipes pedagógicas trabalharam diretamente com os estudantes e a comunidade escolar, para sensibilizá-los e orientá-los sobre a gravidade de ações desta natureza”, relembrou a secretaria por meio de nota.
Preocupação constante
Por conta do material – armas e simulacros – apreendido na casa do estudante, na última segunda-feira, a Seed convocou pais do autor das supostas ameaças para esclarecimentos e orientações. O órgão ainda acionou o Núcleo Regional de Educação Área Metropolitana Sul e o Batalhão da Polícia Escolar Comunitária para acompanhar a situação e dar suporte para a equipe gestora e pedagógica do colégio.
Além disso, a secretaria disse que nenhuma arma foi encontrada com o aluno em ambiente escolar e que a direção tomou todas as medidas cabíveis “tão logo tomou conhecimento sobre as supostas mensagens em que o estudante teria ameaçado a escola”. O caso segue sendo investigado pela delegada Gislaine Pineda, da Delegacia de Fazenda Rio Grande.
Vizinhança em choque
A quantidade de “B.O.s” no Colégio de Fazenda Rio Grande já não surpreende nem alunos, nem pais. As circunstâncias da apreensão do jovem de 14 anos (não se pode falar prisão quando o infrator for menor de idade) na última segunda-feira, no entanto, chocaram a vizinhança. Ao revistarem a casa do menino, várias armas e outros materiais que seriam usados no eventual ataque foram encontrados.
As mensagens postadas pelo garoto em suas redes sociais assustaram: “Se na entrada do colégio vocês me verem vestido assim e escutarem barulhos semelhantes a tiros, corram o máximo possível, porque se não eu vou pegar vocês”. “Se eu realmente for fazer isso, irei avisar todas as pessoas que gosto para eu não acabar ferindo. Irei pedir perdão a todos”.
“Irei avisar a todos para não ir, porque não quero machucar aqueles que eu gosto e amo”, disse. Ele também postou fotos com armas, assustando ainda mais os colegas.
Na casa do jovem, a Guarda Municipal apreendeu cinco simulacros de pistola, uma pistola calibre .38, uma espingarda, uma capa de colete da PM, uma camiseta da PM, duas boinas, dois coletes, três facas, dois rádios, uma máscara, uma touca balaclava, um binóculo com visão noturna, dois celulares, uma espada Mayana, um par de algemas, 15 munições calibre .38, duas munições de fuzil .762 e uma de festin, uma munição calibre .50, além de projéteis usados.
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Tamanha agressividade e grau de ameaça fizeram com que os vizinhos e pais lembrassem imediatamente do massacre de Suzano. No último dia 13 de março, um homem de 26 anos e um adolescente de 17 invadiram a Escola Raul Brasil e mataram 7 pessoas dentro da escola (um homem foi morto na vizinhança), incluindo cinco adolescentes e duas funcionárias. Após a matança, o jovem de 17 anos matou o comparsa e em seguida se matou. Um terceiro elemento, também de 17 anos, foi preso dois dias depois acusados de participar da organização do ataque.
O crime desencadeou uma série de ações de nível nacional para tentar minimizar os riscos de casos semelhantes. Em São Paulo, o governador João Dória afirmou que as escolas teriam, a partir de então, linha direta com a Polícia Militar, para facilitar a comunicação em caso de necessidade. Nacionalmente, o ministro da Educação Ricardo Velez Rodriguez disse que seria discutida a militarização da escola, mudando completamente a condução da administração do centro de ensino.
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No Paraná, o governador Ratinho Júnior antecipou o projeto de escalar policiais militares da reserva para melhorar a segurança em escolas estaduais. Inicialmente projetada para o meio do ano, a iniciativa deve entrar em funcionamento já no mês de abril como uma resposta ao massacre de Suzano.
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