Amarelou!

Foto: Arquivo

Se nos próximos dias você der de cara com alguns monumentos da cidade “pintados” de amarelo, não se assuste. É que neste mês o movimento internacional Maio Amarelo chega à quinta edição e, até o dia 31, deverá mobilizar entidades públicas, privadas e sociedade civil em prol de uma única causa: um trânsito mais seguro. Com o tema “Nós Somos o Trânsito”, a ação deste ano tem como principal objetivo chamar a atenção sobre a importância da mudança de atitude – tanto de motoristas quanto de pedestres – ao trafegar pelas ruas e estradas, evitando colisões e, principalmente, atropelamentos e mortes.

Lançada oficialmente em 2014, a campanha nasceu a partir da “Década de Ações para segurança no Trânsito”, encabeçada pela Organização das Nações Unidas (ONU) – três anos antes – quando foi divulgado um levantamento oficial sobre as mortes no trânsito ao redor de todo o mundo. O balanço deu origem ao projeto “Road Safety 10”, precursor do Maio Amarelo, que foi oficialmente lançado no dia 11 de maio, quando então monumentos como a Torre Eiffel de Paris, a Muralha da China e o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, ganharam uma iluminação amarelada, que simbolizava o engajamento de diversos países à causa. Em Curitiba, os holofotes dourados foram inclinados sobre um dos símbolos mais marcantes da cidade: a estufa do Jardim Botânico.

Estatísticas brasileiras

Em 2011, quando a campanha foi divulgada, o Brasil ocupava a quinta posição no ranking mundial de países com o trânsito considerado mais perigoso. Na época, os índices apontavam que 40 mil pessoas morriam, anualmente, no trânsito do país. No mesmo estudo, mais um dado triste: os acidentes representavam a segunda maior causa de mortes entre jovens brasileiros com idades entre 5 e 25 anos.

Infelizmente, nem tudo melhora com o tempo, como muita gente acredita. Segundo dados divulgados no ano passado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de mortes no trânsito brasileiro saltou para 47 mil em seis anos. No mesmo período, também mais gastos. Enquanto em 2011 os órgãos de saúde pública desembolsavam R$30 bilhões para tratar feridos em acidentes, em 2017, o montante chegou a R$56 bilhões, segundo o Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV). Valor suficiente para construir aproximadamente 1.800 hospitais ou 28 mil escolas. Com o triste resultado, chegamos a uma posição nada invejável no pódio mundial. Somos, hoje, o quarto país que mais mata no tráfego das ruas, avenidas, rodovias e estradas, anualmente.

Preocupados diante da triste posição, mais do que depressa, órgãos governamentais, empresas, entidades de classe, associações e federações, além da própria população, perceberam a importância do engajamento na mobilização que já acontece há cinco anos e cada edição adota um título diferente. “Atenção pela Vida”, em 2014; “Seja Você a Mudança”, em 2015; “Eu sou + 1”, em 2016 e “Minha Escolha Faz a Diferença”, em 2017.

Campanha 2018

O mote eleito para 2018 já diz tudo. Segundo a chefe de divisão de programas educativos para o trânsito do Departamento de Trânsito do Paraná (Detran-PR), Caroline Andreatta, a mobilização deste ano terá como público alvo todos os entes que fazem parte do trânsito do dia a dia. “O título é ‘Nós Somos o Trânsito’, eleito justamente por englobar todos os personagens presentes no cotidiano das vias: motoristas de carros, ônibus, caminhões e táxis, além de ciclistas, motociclistas e é claro, pedestres. Como o mês tem cinco semanas, cada uma abordará um modal diferente com orientações práticas, teóricas e até simulação de acidentes. Tudo isso pra chamar a atenção sobre como a nossa atitude em trânsito faz diferença”, ressalta.

No Brasil, o lançamento oficial da ação já aconteceu, mas, em Curitiba, o evento começa nesta sexta-feira e vai se estender até o último dia do mês. Viabilizado com o apoio de diversos órgãos nacionais, estaduais e municipais, como a Secretaria Municipal de Trânsito (Setran), Departamento de Trânsito do Paraná (Detran), Polícia Rodoviária Federal (PRF), Batalhão de Polícia de Trânsito (Bptran), além da própria Prefeitura e do Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV) – que lidera o projeto – e empresas públicas e privadas, o Maio Amarelo de Curitiba encontrará nos espaços públicos da cidade, palco para diversas atividades educativas e, o melhor de tudo: gratuitas.

Segundo o Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV), 90% dos acidentes de trânsito têm como motivação falhas humanas como imperícia, imprudência ou desatenção. Por isso, entre os assuntos importantes da campanha estarão combinações perigosas como direção e álcool, ou celular. Para a coordenadora do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA) – órgão nacional apoiador do Maio Amarelo, Dra. Erica Siu, a ação é fundamental para alertar ainda mais a população sobre os riscos de beber e dirigir. “O Brasil tem uma legislação extremamente rigorosa que não tolera a presença de qualquer quantidade de álcool na respiração ou sangue dos condutores. Mas isso não é suficiente. É preciso também que a sociedade se engaje numa mudança de comportamento no beber e dirigir e que o sistema de fiscalização seja firme e atuante. Nesse sentido, o Maio Amarelo é essencial”, ressalta.

Foto: Arquivo
Campanha começa nesta semana e quer conscientizar motoristas e pedestres de que o trânsito é para todos. Foto: Arquivo

Somos mortais!

Com previsão de 140 blitze educativas, que deverão acontecer ao longo de toda a campanha, um dos focos da mobilização será lembrar os motoristas de que, por mais experientes, ainda são “mortais”, e correm riscos diariamente no trânsito caso não revejam atitudes arriscadas . “As pessoas se sentem seguras demais depois de um tempo de direção, quase como se fossem super-heróis. A ideia é mostrar que somos vulneráveis e que nossa atitude no trânsito afeta a todos. Por isso vamos lembrar que ninguém é invencível e que todos estamos juntos, independente de sexo, raça, ou religião”, afirmou o vice presidente do ONSV, coordenador do Maio Amarelo no Paraná e coordenador Câmara Setorial de Trânsito da Associação Comercial do Paraná, Mauro Gil Meger.

Foco nas crianças

Outro foco importante da ação serão as crianças. Com objetivo de educar desde cedo e estender as lições aprendidas aos responsáveis, os estudantes da rede municipal de ensino desempenharão papéis importantes nas atividades práticas sobre segurança de tráfego. “É importante que as crianças entendam desde pequenas que o trânsito não é composto somente por veículos e pedestres. Um carrinho de supermercado já pode ser um componente do trânsito. Assim como um cachorrinho que atravessa a rua e diversos outros elementos. Com isso, eles acabam chamando a atenção dos pais sobre o assunto, podendo inclusive aplicar ’multinhas’ simbólicas, já que todos recebem carteirinhas de agentes mirins de trânsito ao fim das atividades”, afirma Caroline.

Outras ações como atividades educativas, palestras, passeios, lições interativas e diversas atividades abertas aos públicos de todas as idades também farão parte da agenda do evento que deverá ser divulgada oficialmente ainda nesta semana.

Saiba mais sobre o Maio Amarelo no site da campanha.

As motocicletas são os modais que mais se envolvem em acidentes em Curitiba. Foto: Marco Charneski
As motocicletas são os modais que mais se envolvem em acidentes em Curitiba. Foto: Marco Charneski

Você sabia?

No mundo

Segundo o Relatório Global de Segurança Viária, da Organização Mundial da Saúde (OMS), ocorrem 1,25 milhão de mortes por ano por acidentes de trânsito no mundo, sendo essa a principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos.

No Brasil

De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS 2013), 24% dos entrevistados admitiram consumir bebidas alcoólicas antes de dirigir.

Estima-se que 18% e 5,2% dos acidentes de trânsito entre homens e mulheres, respectivamente, no Brasil, foram causados pelo uso de bebidas alcoólicas.

Muito antes dos sinais físicos da embriaguez surgirem (como tontura e ‘riso frouxo‘) a nossa agilidade e outras habilidades essenciais para a direção – como a tomada de decisões, tempo de reação e reflexos – já são prejudicadas. Isso porque, ainda nos primeiros goles, o álcool atua como estimulante e provoca um estado de excitação. No entanto, as inibições e a capacidade de julgamento são afetadas rapidamente, o que aumenta a chance de tomarmos decisões equivocadas.

Em Curitiba

Curitiba registra uma média de 18 acidentes por dia. A grande maioria deles é causada pelo excesso de velocidade e o desrespeito à sinalização.

A Avenida Marechal Floriano Peixoto é a campeã de acidentes. A cada 50 ocorrências registradas em Curitiba, um aconteceu na via.

O cruzamento mais perigoso da cidade é o das ruas Rua Ostoja Roguski e Doutor Jorge Meyer Filho (Jardim Botânico).

As motocicletas são os modais que mais se envolvem em acidentes em Curitiba, presentes em 60% das ocorrências. Os motociclistas, por sua vez, são os que mais morrem no trânsito. De 56 em 2016, 69 morreram no ano passado.

Os homens representam 63% dos feridos e 80% dos mortos no trânsito da capital paranaense, segundo o Dentran/PR.

A maioria dos acidentes acontece em horário de pico (18h às 20h).

Os acidentes mais comuns em Curitiba, são os seguintes (nessa ordem): atropelamentos, colisões, choques, quedas e capotamentos.

A região central da cidade é a campeã em acidentes fatais.

*Fontes: OMS, CISA, Setran, Gazeta do Povo, Detran/PR e Projeto de Pesquisa: ‘Implementação da Área Calma em Curitiba‘ realizado em 2017, pelas alunas, Ana Paula Lima de Oliveira e Maria Eugênia Vasques, do curso de engenharia civil da Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR

A Avenida Marechal Floriano Peixoto é a campeã de acidentes. Foto: Aniele Nascimento
A Avenida Marechal Floriano Peixoto é a campeã de acidentes. Foto: Aniele Nascimento

https://www.tribunapr.com.br/noticias/curitiba-regiao/tribuna-live-especial-sobre-maio-amarelo-e-as-infracoes-de-transito/

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