A equipe médica de plantão o submeteu a uma colonoscopia, e aí está o primeiro problema apontado pela família: o paciente não teria sido informado dos riscos que corria ao aceitar fazer o exame. Isso porque o procedimento consiste na introdução de um tubo flexível pelo ânus, para visualização diretor do interior do reto e cólon. Embora considerado seguro, o exame registra, em média, de um a dois pacientes com complicações em cada mil casos. Os problemas vão de sangramentos a perfurações da parede intestinal. Por isso, um documento de consentimento deve ser oferecido ao paciente, que precisa assiná-lo.
Infelizmente, José Rodrigues Cabral passou a fazer parte da estatística quando sofreu uma perfuração no intestino. A desconfiança de que havia algo errado surgiu já nos primeiros minutos após o exame, mas não foi levada em conta. Três dias depois, ele retornou ao médico, ainda desconhecendo a causa das dores. “Meu pai sentia dores muito fortes e fez minha irmã leva-lo até o hospital, mais uma vez. O médico que o atendeu prescreveu apenas a dipirona, depois de ter ignorado todos os exames de sinais vitais. Se tivesse conferido a pressão ou feito um simples raio-x, o médico saberia que havia algo muito errado e o encaminharia para o internamento”, lamenta o filho.
José só foi internado no dia seguinte, quando voltou ao ambulatório com dores abdominais. A chegada ao pronto-socorro foi pela manhã e o encaminhamento ao centro cirúrgico aconteceu somente no período da noite. A demora tornou o problema irreversível, segundo o filho. Os médicos decidiram implantar a bolsa de colostomia. Os três meses seguintes foram de depressão e piora do quadro clínico. Mesmo optando por profissionais particulares, os familiares não puderam salvá-lo.
Atendimento criticado
Em janeiro de 2008 ele foi internado novamente, pois estava extremamente debilitado e com crise de vômitos. Treze dias depois, faleceu. O filho defende que a infecção causada pela demora no atendimento que constatou a perfuração e também o atraso do procedimento cirúrgico foram os fatores responsáveis pela morte do pai. No entanto, no atestado de óbito constam como motivos da morte o choque séptico, pneumonia hospitalar e assepsia abdominal. “Isso não tem nada a ver com a infecção pulmonar que ele teve. Segundo o filho, o problema começou na perfuração e na falta de atendimento a tempo. Se tivessem atendido no momento que ele procurou ajuda, meu pai poderia estar vivo. Estudos mostram que pacientes que foram atendidos de imediato sobreviveram”, explica.
Fora do hospital
O caso chegou a ser investigado pela Polícia Civil, por meio do Núcleo de Repressão de Crimes Contra a Saúde. Em 2008, a polícia indiciou o médico por homicídio culposo. A delegada responsável destacou que “em consequência da falta de adoção das medidas descritas, o paciente com 80 anos permaneceu por período superior a 24 horas sem ser submetido à cirurgia necessária, piorando o seu quadro”. No entanto, a investigação não passou disso.
Em busca de ajuda
Depois da morte do pai, José buscou o Ministério Público do Paraná, o Ministério Público Federal, o Conselho Regional de Medicina e o Conselho Regional de Enfermagem. Todos os órgãos deram início a uma investigação e finalizaram o procedimento com o arquivamento do caso, alegando que não houve a constatação de erro médico. Mesmo com a negativa, ele recorreu das decisões e, mais uma vez, os processos foram arquivados, exceto o que tramita no Ministério Público. De acordo com a assessoria de imprensa do MP-PR, o caso deve voltar a ser analisado no mês que vem.