Curitiba

Trigo vira canudo sustentável em Curitiba

Escrito por Lucas Sarzi

Irmãs Priscila e Sara descobriram que os avós já utilizavam canudos ecológicos há muito tempo

A polêmica sobre o uso dos canudos de plástico fez com que, aos poucos, começássemos a pensar em formas de abolir esse item. Em algumas cidades do país, como o Rio de Janeiro, até uma lei já existe e o canudo nem pode mais ser oferecido. Em Curitiba, já é lei a proibição do uso dos canudos e foi pensando numa forma de ajudar nessa questão que duas irmãs embarcaram numa ideia antiga, de família, e tornaram isso um negócio promissor: canudos de talos de trigo.

“A ideia surgiu no fim do ano passado, enquanto estávamos na praia. A família toda estava conversando sobre a proibição do uso de canudos e nosso pai contou uma história que mexeu com a gente”, disse Priscila Blunk Sanfelice, 40 anos. “Nos fez pensar imediatamente no que ele disse”, completou Sara Blunk, 39.

+Caçadores! Médico nipo-curitibano é exemplo de vida!

A história era bem simples: o pai delas contou que, quando era pequeno, o canudo era retirado da plantação em casa. “Ele lembrou que nossos avós usavam os canudos do talo do trigo e que quando acabava a vó falava que ‘estava na hora de cortar mais canudos’. Na hora nós pensamos ‘nossa, isso é uma solução para o planeta’ e começamos a matutar isso entre a gente”.

Priscila e Sara entenderam que, daquelas conversas de família que não costumam ir a lugar nenhum, elas poderiam tirar algo proveitoso não só para elas, mas para muita gente. “Nós percebemos que essa poderia ser sim uma nova forma de continuar a usar o canudo, mas de uma forma que não agredisse o meio ambiente. Mas para isso precisávamos então ir atrás e ver como faríamos, e foi o que nós fizemos por quase um ano”.

+Caçadores! Projeto de Curitiba tatua pacientes que venceram o câncer!

Solução encontrada

Para tentar achar um jeito de viabilizar a ideia, as irmãs precisaram fazer o caminho inverso da farinha de trigo que compramos no mercado. “Fizemos muitas pesquisas e começamos por um dos moinhos mais tradicionais de Curitiba. Lá descobrimos que eles não possuem plantação própria, pegam o grão de outro lugar, e então fomos atrás das agrícolas, que também tinham seus terceirizados. Fizemos todo esse caminho até chegarmos finalmente nos parceiros”, contou Priscila, que junto com sua irmã criou, então, a empresa Talos Canudos.

Depois que encontraram a solução, as irmãs descobriram que, embora os agricultores topassem ajudar, não teriam os talos de trigo o ano todo. “Isso porque a plantação de trigo ocorre somente numa época de ano, então nós tivemos que buscar fornecedores em outros lugares. Mas nada que tenha sido muito difícil, os parceiros nem questionaram nossa ideia. Acho que o que pesou foi a preocupação com a questão ambiental mesmo, com o problema que o plástico provoca”.

+Caçadores! Sem sinalização, trecho de avenida vira perigo constante pra motoristas!

100% natural

Antes de serem vendidos, os canudinhos naturais passam por um processo de esterilização com ozônio. Foto: Felipe Rosa/Arquivo/Tribuna do Paraná

Totalmente naturais, os canudos do talo do trigo podem ser vistos como uma boa opção para quem não consegue desapegar do tradicional canudinho. “Com a diferença de que este é um canudo 100% natural, que não precisava de nenhum tipo de tratamento e, o principal, que pode voltar para a terra após o consumo, servindo como adubos em pequenas ou grandes hortas”, disse Sara.

Antes de serem vendidos, os canudinhos naturais passam por um processo de esterilização com ozônio. “Depois desse processo, que mata qualquer possibilidade de bactérias, o canudinho vem para a gente limpinho, seco, já pronto para o consumo. O nosso trabalho é só o de separar os que não servem para o consumo, colocar nas caixinhas e vender, muito pouco contato humano”, explicou Priscila.

Ao contrário do canudo de papel, que amolece conforme o uso, ou do canudo de macarrão, que não pode ser usado em bebidas quentes, os canudos de talo de trigo servem para consumo de qualquer tipo de bebida, quente ou fria. “Ele não fica mole, não altera conforme a temperatura e também não deixa diferença no gosto da bebida. É realmente muito próximo do canudo de plástico, até a textura para colocar na boca. É descartável, mas se for para seu consumo pessoal você pode lavar e usar outras vezes, até por não amolecer”.

+Caçadores! Hospital Pequeno Príncipe completa 100 anos salvando vidas!

Como comprar?

Atualmente, as irmãs comercializam apenas a partir de 100 canudos. “O que, para donos de bares, restaurantes e comércios de modo geral acaba sendo mais barato. Mas nós estamos vendo uma forma de viabilizar os canudos e facilitar o acesso a todos, com uma caixinha que traga um pouco menos e que o preço fique mais em conta”, explicou Sara. Em todo caso, embora as irmãs tenham pedido para não divulgarmos o preço, até mesmo a caixa com 100 não custa caro se analisar que vai ajudar o meio ambiente. O contato da Talos Canudos é através dos dois números de celular: (41) 99904-5760 ou 98409-2536.

Lei municipal!

Desde 21 de maio deste ano, está em vigor uma lei que foi aprovada pela Câmara Municipal de Curitiba e sancionada pelo prefeito Rafael Greca. A lei, que foi um projeto apresentado por Maria Letícia Fagundes (PV), cria uma campanha de desincentivo ao uso de canudos e copos de plástico na cidade e impõe algumas penalidades para os estabelecimentos que acabarem infringindo.

+Caçadores! Polícia alerta para riscos de crianças sozinhas em apps de carona!

Conforme a aprovação, a utilidade se dá de imediato a restaurantes, lanchonetes, bares, comércios ambulantes, ‘food trucks‘, quiosques, hotéis, motéis e similares que vão ser incentivados ao desuso e/ou a substituição dos canudos e copos plásticos descartáveis por outros, de material biodegradável ou reutilizáveis.

Segundo o projeto, o comércio infrator fica sujeito à multa de R$ 2 mil. Em caso de reincidência, a penalidade passaria para R$ 5 mil, depois para R$ 10 mil. Após isso, o estabelecimento perderia a licença de funcionamento, até sua adequação à norma.

Sobre o autor

Lucas Sarzi

Jornalista formado pelo UniBrasil e que, além de contar boas histórias, não tem preconceito: se atreve a escrever sobre praticamente todos os assuntos.

(41) 9683-9504