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Moradores da Rua José Platner, no bairro Planta do Almirante, Conjunto Marinoni, em Almirante Tamandaré, na Região Metropolitana de Curitiba, estão sofrendo com a invasão de cobras nas residências, nos últimos meses. Várias pessoas já encontraram os animais em suas casas e em uma residência a cobra chegou a dar cria a 10 filhotes.

Os moradores estão bem assustados e sem saber o que fazer, como agir ou para qual órgão público devem pedir ajuda. A assistente social aposentada Marli Terezinha Araújo, 57 anos, mora há 10 anos no local. Em oito anos, ela nunca teve problema com os animais, até que de dois anos para cá, as cobras começaram a aparecer e o problema ficou mais frequente nos últimos 10 ou 12 meses. Na casa dela, um filhote de jararaca apareceu na lavanderia e na casa vizinha também. “Os vizinhos tem postado no grupo de WhatsApp e isso está assustando. O que antes era em uma ou duas casas, agora vários estão relatando a invasão”, diz ela.

Foto: Felipe Rosa.

Na casa de outra moradora, uma cobra chegou a dar cria a 10 filhotes. As 11 cobras foram capturadas (uma já estava morta, não se sabe por qual motivo). Ela conta que estava chegando de mudança e ainda não havia desmontado todas as caixas, guardadas no quintal. A cobra encontrou algum espaço por ali e deu cria. Em várias outras casas houve a aparição das cobras. E há poucas semanas, um vizinho viu uma cobra muito grande saindo de dentro do bueiro, na rua. Em outra, o animal chegou a matar um dos cães. Com o calor das últimas semanas, elas começaram a sair “das tocas”, subir muros e entrar pelas frestas das residências.

Habitat

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Marli é receosa em afirmar que o problema é especificamente por causa da construção de um condomínio clube, que está saindo atrás das casas de número ímpar da Rua José Platner. Mas ela entende que a região, que há 10 anos tinha bastante mata, está ficando muito urbanizada, com muitas construções novas e quase já não há mais terrenos disponíveis no bairro. “Era o habitat delas. Mas as pessoas estão limpando esses terrenos, construindo. O condomínio aqui atrás tirou um monte de árvores. Ali em cima, que é uma área mais rural, também já está sendo programada a construção de um condomínio bem grande. Assim os animais vão perdendo seu habitat e não se pode evitar que elas invadam as casas. Pra piorar, tem proprietários de terrenos aqui que não promovem a limpeza do local. Isso contribui com o problema também”, lamenta a moradora.

Já deu até briga

A invasão das cobras já deu até briga no grupo de WhatsApp dos moradores. Uns dizem que não se pode matar as cobras, porque é crime ambiental matar um animal silvestre. Outros dizem que se o bicho aparecer dentro de sua casa vão matar de qualquer jeito, porque tem medo que ataque crianças e animais domésticos.

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O fato é que os moradores locais, diz Marli, precisam de orientação para saber como agir numa situação como esta, pois todos estão meio perdidos. Alguns moradores já telefonaram para órgãos ambientais (Policia Militar Florestal e IAP) e não conseguiram nenhuma orientação. A própria Marli disse que telefonou para a PM, que disse que o assunto não era com ela, e depois para o IAP, onde a telefonista passou a ligação de um ramal ao outro e ela não conseguiu falar com ninguém. No dia seguinte, outra vizinha conseguiu contato com um setor de fauna do IAP, que informou que não era função deles essa questão das cobras e que os moradores tinham que contratar uma ‘empresa de vistoria‘ pra ver que tipo de cobra era e o que fazer. “A gente sabe que tem órgãos públicos que deveriam ver isto, mas não temos encontrado respaldo deles”, diz ela.

Foto: Felipe Rosa.

O que fazer?

A Polícia Militar informou que não é competência do Batalhão Ambiental recolher este tipo de animal, quando eles aparecem nas residências, pois a PM só atende quando há alguma situação de crime. Ou, dá apoio a outros órgãos ambientais, quando há algum risco às pessoas. Quanto a matar uma cobra, informou a assessoria de imprensa da corporação, é um crime, pois se trata de um animal silvestre. A não ser que seja uma situação adversa, em que não há outra saída para proteger pessoas sem ser matando o animal.

A prefeitura de Almirante Tamandaré informou que o condomínio atrás das casas da Rua José Platner está regular, pois possui a autorização do município e a licença ambiental do IAP, documentos cedidos ainda na gestão municipal passada. O diretor de meio ambiente da prefeitura, Adel Cordeiro, informou que não possui pessoal técnico especializado em cobras, mas que diante do fato informado pela Tribuna, irá buscar uma parceria com o Instituto Oswaldo Cruz, para que possa manejar o problema da forma correta. Para isto, ele pediu que a população ligue para a secretaria municipal do meio ambiente (3699-0352), para que possam ir ao local e fazer o resgate do animal, bem como trabalhar orientações aos moradores.

Foto: Felipe Rosa.

Já o IAP afirmou que está sempre condicionado nos licenciamentos ambientais de empreendimentos imobiliários a responsabilidade de manejo e resgate de fauna pelo empreendedor, caso seja necessário. No entanto, o escritório regional do IAP não recebeu nenhuma denúncia recente sobre problemas com cobras na região. Mesmo assim, irá se reunir com o empreendedor e questioná-lo em relação a isto. O IAP disse que vai acompanhar a questão e que, caso a condicionante de licenciamento não estiver sendo cumprida, tomará as medidas legais cabíveis. O Instituto ainda afirma que não faz o recolhimento de animais e recomenda que a população chame outros órgãos, como Polícia Ambiental ou corpo de Bombeiros. Mas, neste caso específico, a prefeitura local se colocou à disposição para tratar do assunto.

Fui picado, e agora?

Conforme o coordenador do serviço 24 horas do município, Antônio Marcos, a pessoa picada de cobra deve com a máxima urgência ser levada à Unidade de Saúde 24 Horas de Almirante Tamandaré, que fica ao lado da prefeitura, no Centro (Rua Lourenço Ângelo Buzato). Lá ela recebe os primeiros atendimento e até mesmo o soro para picada de cobra.

Caso haja mais alguém na residência da pessoa ferida, ela ou algum vizinho deve ligar à secretaria de meio ambiente local, para que uma equipe possa ir lá e recolher o animal. Assim, pela identificação da cobra, fica mais fácil encontrar o soro correto para a vítima. Caso contrário, dá-se um soro geral. Mas o ideal é já dar soro correto.
Assim que o anti-ofídico é identificado corretamente, ele é trazido do Hospital de Clínicas de Curitiba, onde há soros para mordidas de vários tipos de cobras.

Foto: Felipe Rosa.