“Agora, em vez de pedir brinquedo, você vai ter que pedir uma casa ao Papai Noel, minha filha”, assim tentava explicar a uma criança desabrigada um rapaz que foi vítima do incêndio que destruiu tudo na invasão 29 de Março, que fica nas moradias da Vila Corbélia, Cidade Industrial de Curitiba (CIC), na noite de sexta-feira (7). Segundo os moradores, o fogo devastador, que levou consigo aproximadamente 200 casas, onde viviam pelo menos 500 pessoas, foi provocado por policiais militares, na noite do mesmo dia em que um PM foi morto no local.

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No sábado (8), enquanto os policiais militares sepultavam o soldado Erick Norio, do 23º Batalhão, que morreu baleado ao tentar fazer uma abordagem na invasão, as centenas de pessoas também choravam a perda de seus barracos. A passagem da reportagem por lá mais pareceu uma forma de libertar, nas pessoas que perderam tudo, o desejo de manifestar suas condolências pelo PM morto, mas também de gritar por socorro por estarem abandonados.

Na invasão, que fica na Estrada Velha do Barigui, na CIC, o cenário era de guerra. A explicação do pai à filha veio enquanto a criança pedia um brinquedo e foi a forma que o rapaz encontrou de falar para ela que eles tinham perdido tudo. “Nós não temos mais nada e tiraram o pouco que tínhamos por pura raiva. Nos responsabilizaram por algo que nem tínhamos culpa”, lamentou o jovem, que não quis se identificar.

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No terreno, que funcionava como uma espécie de condomínio com pequenos barracos, não sobrou nada. O fogo tomou conta de uma forma que era até difícil para as pessoas tentarem salvar alguma coisa. “Eu só consegui salvar roupa e documentos, mais nada. Mas teve gente bem pior do que eu, e nenhuma das pessoas atingidas devia alguma coisa”, desabafou uma jovem de 21 anos, que mora com a mãe e o sobrinho e também preferiu não se identificar.

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Antes de as chamas começaram, a moça ouviu o barulho de fogos e artifício e também de tiros. “Mas, como eu estava em casa, continuei em casa e já estava até me preparando para deitar. Nisso, em questão de minutos, o fogo já tinha tomado conta de tudo e só deu tempo de sair correndo com o que realmente dava para salvar”, lembrou a jovem, que teve a parte da frente de seu barraco totalmente queimada. “Só não foi pior porque os bombeiros controlaram rápido até”.

Como fazer doações

Segundo os moradores, mais de 500 pessoas foram diretamente afetadas pelo possível incêndio criminoso. Depois da destruição, algumas destas pessoas foram abrigadas por parentes e outras passaram a noite na Escola Municipal Doutor Hamilton Calderari Leal, que fica próximo dali. Na manhã de sábado, as equipes da Fundação de Ação Social de Curitiba (FAS) estavam no local para ver o que as famílias mais precisariam e, neste momento, conforme os próprios moradores, a missão é reerguer as casas atingidas.

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“Quem quiser doar material de construção ou algo do tipo, nós também vamos aceitar, porque teremos um trabalho ainda mais difícil a partir de agora, que é dar um novo lar, ainda que não digno, às pessoas que perderam tudo”, comentou Juliana Almendro Teixeira, uma das moradoras que ficou responsável por coletar as doações que forem feitas diretamente na invasão 29 de Março.

Conforme os funcionários da FAS, qualquer ajuda é importante: seja de material de higiene pessoal, alimentos ou até mesmo produtos descartáveis como copos e pratos, mas as famílias precisam, principalmente, de móveis, eletrodomésticos e utensílios de cozinha, como panelas e louças, além de roupas de cama e banho. As doações podem ser feitas diretamente ao CRAS Corbélia, que fica na Rua Professora Cecília Iritani, 510, na Cidade Industrial de Curitiba, ou também diretamente na Regional da CIC, que fica na Rua Manoel Valdomiro de Macedo, 2.460. Já outros tipos de doações, como de material de construção, podem ser feitas à Juliana, pelo telefone (41) 99644-0839.

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Pelo menos 500 pessoas foram atingidas pelo incêndio, que destruiu cerca de 200 barracos da vila. Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná.

https://www.tribunapr.com.br/noticias/seguranca/policia-tem-dificuldade-pra-investigar-incendio-e-mortes-na-cic/