Impacto profundo

Foto: Aniele Nascimento

A greve “acabou”. Os caminhoneiros exigiram, a sociedade apoiou e o governo atendeu. Mas grande parte dos caminhoneiros continua parada nas estradas, exigindo redução também para o etanol e a gasolina, para agraciar o povo, que deu apoio ao movimento. O povo continua apoiando, mas já “torcendo o nariz” porque começa a sofrer com as gôndolas vazias nos mercados e as filas nos postos. Para alguns, vai faltar a comida. Para outros, vai faltar até o dinheiro para comprar a comida, principalmente os autônomos e comissionados em geral, porque estão sem trabalhar por conta da greve. Em resumo: o mês de junho vai ser de orçamento apertado para a maioria das famílias.

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O professor de economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), José Guilherme Silva Viera, explica que o primeiro impacto que já está sendo sentido por todos é o desabastecimento. A médio prazo (próximo mês), quando a greve já deve ter acabado e os produtos voltarão às gôndolas, os consumidores devem sentir o aumento dos preços, pois os produtores vão repassar o custo com os prejuízos que tiveram enquanto parados.

E o consumidor vai pagar o preço, porque quando as coisas voltarem ao normal, a população estará desabastecida e precisando comprar, sujeitando-se a pagar o preço cobrado. O professor acredita que – se a greve acabar esta semana, por exemplo – os preços só voltarão a se normalizar lá pela metade de junho.

E não é só o preço alto dos produtos que irá comprometer o orçamento dos consumidores. Há muita gente parada, sem trabalhar por causa da greve. “Pense no prestador de serviço que não está atendendo cliente por falta de combustível.

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O motoboy que está sem fazer entregas. O médico que não está indo trabalhar. Ou o dono do estacionamento em frente a alguma faculdade, que está sem faturar porque as aulas estão suspensas. O vendedor comissionado ou o vendedor de balas no semáforo, o lava-car, o autônomo que vende coisas na rua. Há muitos negócios paralisados. É muita gente que está com renda reduzida e vai ter que apertar o cinto mês que vem”, analisa José Guilherme.

O prejuízo, diz ele, não será somente aos setores bases da economia. Haverá perda nas indústrias e nas exportações. Empresas vão perder contratos porque faltará matéria prima para trabalhar, ou porque não vão conseguir honrar a entregar no prazo, porque está tudo parado. “Os danos são incalculáveis. O consumidor vai sentir os efeitos inflacionários até em setores que nem imaginava”, explica o professor.

Sobe de novo

O combustível deve subir de novo, daqui 30 ou 60 dias. É a visão do economista José Guilherme Silva Viera. No âmbito internacional, explica, há muitas regiões problemáticas por causa do petróleo. Isso vinha fazendo o preço do barril subir, mas pelo menos tinha estabilizado a 80 dólares nas últimas semanas.

Já o dólar voltou a subir e está na casa dos R$ 3,70. Se o dólar e o preço do barril continuarem crescendo, o governo não terá como cumprir a sua promessa, de subsidiar os R$ 0,46 do preço do diesel, já que ele garantiu que esta conta não ficará com a Petrobrás. “Daqui 30 e 60 dias, governo vai rever preço dos combustível. E não terá outra alternativa se não subir os preços. Será que os caminhoneiros vão receber bem o aumento ou vão se rebelar de novo?”, indaga ele.

“Sequestradores”

“Avalio que o que o Temer fez foi negociar com sequestradores. Cedeu em todos os pontos exigidos para conseguir liberar os reféns (a população, que se uniu, mas poderia causar enormes revoltas se ficasse zangada com o desabastecimento, e os próprios políticos que, em ano eleitoral, querem se livrar de qualquer sinal de crise e desgaste político). O governo entregou tudo o que tinha e o que não tinha. Passou a mensagem de que, se apertar, entrega tudo. Por isto, não me admira se ocorrerem mais apagões daqui até a eleição e a cada mês a situação fique mais frágil para o governo, pois quando mais próximo do pleito, menor é a margem de negociação. E o governo vai ser cada vez mais refém dessa estratégia. Se não fosse ano eleitoral, o Temer já tinha metido a borracha em todo mundo no segundo dia de greve”, analisa o economista José Guilherme Silva Vieira.

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